
Nas prateleiras das padarias, no Instagram de confeitarias e até nos quiosques de shoppings, lá está ele: o morango do amor. Inspirado na maçã do amor, o doce virou uma febre principalmente graças às redes sociais. No Tiktok, são mais de 150 mil posts — dos quais 125 mil foram criados somente nos últimos 30 dias.
Com todo esse frenesi, a sobremesa que ganhou fama tem deixado a vida de muita gente mais doce. Na Loredana Confeitaria, na zona sul de São Paulo, o doce ajudou a triplicar o faturamento do mês — usualmente já carregado por demandas de empresas para festas típicas nessa época do ano.
“Chegamos a vender 200 doces por dia no pico. Agora, estamos vendendo de 100 a 150 por dia. Todo dia tem que fabricar, porque todo dia tem busca. E de manhã já tem gente querendo, pedindo 10, 15. É um doce que se vende pelo viral, mas exige bastante atenção e cuidado”, diz a confeiteira Loredana Oliveira, sócia da empresa junto com o marido, Wendel Oliveira.
Até mesmo estabelecimentos maiores têm investido na fabricação do doce. Na padaria A Praça, em São Paulo, a produção de 100 unidades por dia esgota ainda pela manhã. A procura é tanta que, em volume, o doce só perde para a procura pelas carolinas, que têm uma produção cerca de cinco vezes maior.
“A produção é muito complexa, morosa, em relação à rotina usual da padaria. São tantos detalhes que tornam inviável aumentar a nossa produção dos patamares atuais”, explica Marco Antonio Colaço, sócio-proprietário do estabelecimento.
Preço em alta no campo
Desde que o doce se popularizou, o preço da caixa do morango subiu mais de 30%, conta Colaço. Parte desse retorno começou a chegar no campo.
No entorno de Pouso Alegre (MG), uma das principais regiões produtoras da fruta, a caixa de morango de 1,2 quilo — que era vendida entre R$ 22 a R$ 24 antes de o doce viralizar — subiu para R$ 30 a R$ 35, de acordo com dados da Emater (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais).
Numa conta de padaria, com a caixa de morango valendo de R$ 22 a R$ 24, o produtor da região ganha em torno de R$ 9 a R$ 10 por caixa. Dados mais precisos dependem do tipo de lavoura (se é de céu aberto ou uma estufa, por exemplo) e do investimento no manejo, que pode variar de R$ 200 mil a R$ 450 mil por hectare.
“Esse ganho de preços tem sido muito bom, mas seria ainda melhor, economicamente, se tivesse vindo a partir do final de agosto, porque impulsionaria o preço quando ele normalmente está em queda, no auge da colheita”, explica José Abílio de Oliveira Filho, extensionista rural da Emater de Pouso Alegre. No pico da safra, no ano passado, a caixa de morango chegou a custar R$ 8.
A visão é similar à de Osvaldo Maziero, produtor rural e presidente da Associação dos Produtores de Morango e Hortifruti de Atibaia e Jarinu, em São Paulo. Na região, conhecida como a “capital do morango”, o doce veio em um período no qual a colheita está apenas começando.
Até agora, cerca de 30% do morango produzido nesse entorno foi colhido, com o restante sendo distribuído no mercado nos meses de agosto, setembro e outubro. Além do impulso de preços com o doce da internet, os produtores vivenciam um pico de preços relacionado a uma geada na região.
“O que importa para nós é uma média boa. Esperamos que agosto e setembro, que na nossa região é super safra, a média seja boa. Por enquanto, ainda não dá para cravar. O pé está sadio, o clima está bom para morango e nós ficamos contentes, com a expectativa de que não tenha chuva demais”, diz Maziero.
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Além de Pouso Alegre, que cultiva cerca de 300 hectares com morango, pelo menos três municípios se destacam na produção da fruta: Bom Repouso (com 750 hectares de área plantada) e Espírito Santo do Dourado (540 hectares).
O Brasil é hoje o sétimo maior produtor de morango do mundo, segundo dados da Embrapa, além de ser o principal produtor da América Latina. São cerca de 7 mil hectares com o cultivo da fruta, uma área plantada que cresceu 61% nos últimos vinte anos. Metade da produção brasileira vem de Minas Gerais — especificamente do sul do Estado.