Crédito privado

Sem loucuras: Como a Capitânia quer chegar a R$ 2,5 bi

Com mais de R$ 25 bilhões sob administração, gestora tem uma exposição de R$ 1 bilhão ao agronegócio. Ambição é crescer.

Colheita de trigo

Com 20 anos de mercado e R$ 25,4 bilhões sob gestão, a Capitânia é uma gigante que se moveria com relativa discrição, não fosse a postura ativista que adotou no mercado de fundos imobiliários.

Longe dos holofotes, a casa liderada por Ricardo Quintero começou a olhar para o agronegócio há cerca de cinco anos e, hoje, tem uma carteira de ativos de R$ 1 bilhão — um número e tanto, dado o porte de uma indústria ainda incipiente no mercado de capitais.

Se depender da asset, há espaço para mais. “Adoraria ter R$ 2,5 bilhões”, diz Arturo Profili, sócio-fundador e gestor de crédito privado da Capitânia, em conversa com The AgriBiz.

Por enquanto, o momento não é dos mais auspiciosos para crescer. O Fiagro listado da Capitânia, o CPTR11, negocia a 90% do valor da cota patrimonial, mesmo com a casa não enfrentando nenhuma inadimplência, o que é um reflexo da aversão a risco dos investidores.

Apesar disso, a Capitânia não se preocupa tanto com a foto, mas sim com o filme relacionado ao agro — e à própria atuação. 

Diluindo o PL

O racional para crescer vem de um desejo de diluir a participação por ativo dentro dos fundos de agro da casa. A Capitânia gostaria de ter uma alocação de 0,5% a 2% em cada ativo (percentuais que, hoje, chegam a ser maiores dentro de alguns ativos na cadeia do agro), seguindo o racional das demais áreas dentro da gestora. 

No CPTR11, as maiores exposições são Combio e Agrogalaxy, que representam mais de 7% do fundo cada — ao todo, o fundo possui R$ 410 milhões.

Hoje, o agro representa a menor área em ativos sob gestão dentro da Capitânia. Os R$ 25 bilhões estão distribuídos da seguinte forma: na área imobiliária (com CRIs, cotas de fundos imobiliários de terceiros e propriedades) estão cerca de R$ 10 bilhões. Em infraestrutura, com debêntures, principalmente, estão outros R$ 6 bilhões. Além disso, há R$ 3 bilhões em fundos multissetoriais e R$ 1,5 bilhão em securitização (aqui entendido como alocação em FIDCs de terceiros). 

Antes entrar na era dos Fiagros, a Capitânia ensaiou entrar no agronegócio há cerca de dez anos, mas esbarrou nos desafios de governança e no desenvolvimento do próprio setor para conseguir avançar. A entrada efetiva veio cinco anos depois, com pequenos passos. Leia-se: títulos de dívida de grandes empresas. 

A partir da regulamentação dos Fiagros, em 2021, a gestora viu a oportunidade de sofisticar a atuação no setor. Nasceram, então, os dois veículos da casa: o CPTR11, listado, que tem um patrimônio líquido de R$ 400 milhões, e o CPAC11, cetipado, com cerca de R$ 300 milhões. Além disso, a casa tem ativos de agro distribuídos em outros fundos da gestora, compondo o montante total na casa do bilhão. 

Entre a indústria e o produtor

A tese é a de investir em crédito — assim como boa parte do mercado — usando para isso os mais variados instrumentos. CRAs, cotas de fiagros imobiliários e Fiagros FIDC, além de debêntures, estão entre as alocações da Capitânia. Tudo atrelado a players que ocupem os espaços entre a indústria e o produtor, sem atuar nas pontas da cadeia diretamente. 

“Entre as teses que começamos a olhar agora estão a de logística e a de armazenagem. Mas sempre mantemos o DNA de não estar expostos diretamente ao produtor. a equipe é enxuta, não vamos rodar o Brasil. Temos que achar corporações com uma governança razoável e que possam lidar com o custo dessas captações”, diz Profili.

A gestora chega até às empresas por meio de bancos, securitizadoras, assessores jurídicos e de reestruturação e também por meio das grandes empresas do setor. Hoje, são cerca de 40 ativos na carteira da gestora, estruturados em parceria com esses originadores — e também com outras casas. 

“Somos analisadores de empresas e projetos. No final, nossa visão é ver que tipo de transação se encaixa ou não nessas corporações e projetos que nos são apresentados. Se é uma debênture, FIDC, CRI, CRA, fundo imobiliário e por aí vai”, diz o gestor. 

Os aportes feitos pela Capitânia a cada transação vão de R$ 20 milhões a R$ 50 milhões, em emissões cujo tamanho médio é de R$ 50 milhões a R$ 200 milhões. O foco é ser um dos principais credores em cada uma das transações, mas não ancorá-las sozinha.

Atualmente, a carteira da gestora tem uma remuneração média de CDI+4,5%, com negócios fechados que vão de CDI+3% a CDI+7,5%. Em doze meses, o fundo listado da casa entregou um yield de 15,4%, considerando o preço de mercado.

“Acredito que não vamos ultrapassar essa marca média de 4,5% dos ativos. Com a gente conseguindo crescer no Fiagro e cobrando, por exemplo, 1% de gestão, mas entregando 2,5% para o cotista em bases infinitas e ainda se for sem imposto, o cotista vai priorizar essa rentabilidade, e ainda, provavelmente, vai querer que eu rode com mais ativos dentro da carteira, para balancear os riscos. É por aí que nós vamos. Não queremos ser o super-homem”, diz o gestor.

Além dos Fiagros

Fora dos Fiagros, a Capitânia tem cerca de 25 fundos multissetoriais que contam com exposição ao setor. Hoje, isso acontece principalmente por meio de CRAs dentro desses veículos, mas, para organizar melhor essa alocação, a casa trabalha em um fundo master — ao qual esses fundos estarão ligados — e que poderá comportar ali uma pequena exposição ao agronegócio. 

“É o que acreditamos ser mais simples. Deixar uma cesta com um pouco de tudo no fundo master. É uma maneira inclusive de o cotista ver se essa alocação diversificada faz sentido ou não, porque o desempenho do fundo vai ficar registrado daqui a um ano, dois ou três”, diz o gestor.

Seja nos Fiagros ou fora deles, a Capitânia tem uma tese de entrar em papéis em que acredita que, sem grandes complicações, possam ser vendidos a terceiros sem perder dinheiro. A gestora mantém a postura ativista dentro dos limites possíveis de maturidade dentro do agronegócio. 

A casa mantém uma postura próxima com os ativos nos quais investe. Recentemente, a gestora acompanhou o pedido de waiver da AgroGalaxy em meio às dificuldades do agro, e mantém conversas com as demais gestoras em que detém cotas de seus fundos. 

“Não sei se estamos no ativismo dos fundos imobiliários, mas somos interativos. Acho que a indústria precisa pegar um porte primeiro, ainda há poucos Fiagros listados. A gente mapeia a carteira de todos, todos, de ponta a ponta, e está atento a tudo o que acontece, sempre chamando os gestores para conversar”, diz.