Fiagro

De Miami à fazenda: No Fiagro da Leste, revenda não especula com grão

Conhecida pela atuação em investimentos alternativos, gestora tem hoje R$ 11 bi sob gestão — com uma participação ainda tímida nos Fiagros

Colheita de milho no Brasil
Grupo Leste: proximidade com o campo vem antes mesmo da regulamentação dos fundos do setor

O Grupo Leste tem sede em Miami, mas está com os pés bem fincados no agro brasileiro. A gestora fundada pelo ex-BTG Emmanuel Hermann origina operações de crédito agrícola há mais de sete anos — contando, para isso, com a parceria de advogados e contadores que acompanham a realidade do setor de perto.

Para uma casa que já estava habituada a dar crédito para players do agro a partir de seus fundos convencionais, a criação do Fiagro pelo Congresso, em 2021, abriu um caminho natural de captação, acessando um tipo de investidor que aplica em títulos isentos.

Diante da nova regulação, assim como várias outras gestoras, a Leste também se lançou no mercado de Fiagro. O LSAG11, o fundo de agro da gestora, nasceu com uma captação de R$ 58,5 milhões em 2022, hoje, acumula um PL de R$ 98 milhões. O Fiagro representa uma pequena porção dos R$ 11 bilhões que a casa tem sob gestão, mas a estratégia da Leste para o fundo está apenas no início.

Enquanto algumas gestoras ainda tentam se recuperar dos episódios de inadimplência que machucaram as cotas e levantaram a desconfiança dos investidores para toda classe de ativos, a Leste vem passando incólume pela crise e já até engatilhou um follow-on.

A ambição da casa é dobrar o tamanho do fundo em breve, conta Arnaldo Braga, CIO (Chief Investiment Officer) da Leste. “Isso traz um porte melhor para o fundo, melhorando a nossa liquidez”, diz. Atualmente, o volume médio de transações diárias é de apenas R$ 130 mil.

Um fundo pequeno

Entre os planos de crescimento do Fiagro e a realidade, hoje, há uma boa distância. A queda nos preços das grãos e a alta alavancagem de parte dos produtores reverberam por toda a cadeia do agronegócio, um cenário que trouxe consequências claras também para o mercado financeiro.

“Entre o produtor pagar um empréstimo no mercado financeiro e pagar um fornecedor de insumos, ele vai correr para a segunda opção”, compara Braga. 

O efeito ficou claro com diferentes gestoras reportando problemas de inadimplência dentro de seus fundos — um cenário que assustou investidores e fica evidente na desvalorização de cotas de Fiagros observada atualmente. Um dos casos mais emblemáticos desse cenário, atualmente, é o fundo da SFI Investimentos, com a cota do IAGR11 negociando a 46% do valor patrimonial. 

Até aqui, a Leste passou incólume pelos episódios de inadimplência, mas o mesmo não se pode dizer do valor de mercado do fundo. Na bolsa, a cota do LSAG11 negocia a 90% do valor patrimonial.

Na verdade, as cotas sofreram por motivos alheios à carteira de crédito do fundo. O grande responsável pela queda foi uma venda de R$ 700 mil realizada por um cotista em único pregão mês passado. 

O portfólio do LSAG11

Na escolha dos ativos que compões o portfólio do Fiagro, a gestora foca em intermediários da cadeia produtiva, notadamente em revendas agrícola de médio porte, um negócio que à primeira vista pode parecer mais arriscado quando se considerada a crise que muitas redes de revendas enfrentam.

Nas revendas agrícolas atendidas pelo crédito da Leste, o foco está em empresas com faturamento médio de R$ 500 milhões, com margem Ebitda entre 8% e 12%. Além disso, alavancagem precisar estar sob controle, em no máximo 3 vezes.

Embora pareça contraintuitivo, esse é um porte de revenda que costuma tomar poucos riscos, travando o preço de venda do grão para uma trading ao aceitar receber do fazendeiro na forma de barter. “Se a revenda especula com grão, eu nem faço”, diz Braga.

Para o gestor da Leste, esse tipo de revenda ainda é pouco atendida pelo mercado de capitais e mesmo bancário, o que traz um diferencial para a gestora. Ele calcula que, no Brasil, há mais de duas mil revendas desse porte, passíveis de serem atendidas pela gestora.

Atualmente, os recursos do LSAG11 estão alocados em dez empresas, localizadas em Minas Gerais (57% da exposição do fundo), Mato Grosso (22%) e Goiás (16%). O foco está principalmente na cadeia da soja, que responde por 60,4% da alocação. 

As garantias da Leste

Para se precaver de crises de crédito, a Leste não aceita qualquer garantia. Ao contrário de outras gestoras, Braga quer distância da alienação fiduciária de fazendas, uma garantia teoricamente extraconcursal que acaba arrastada para a recuperação judicial em muitos casos.

“O que queremos é gerar boas taxas e boas garantias”, diz Braga. Para isso, a gestora usa de três tipos garantias: recebíveis, estoques de grãos ou imóveis não essenciais para a fazenda. Se por um lado isso torna a originação de crédito mais difícil, do outro há menos riscos em uma recuperação judicial.

Costumeiramente, a Leste estrutura 95% das operações encarteiradas pelo próprio fundo. Os créditos são feitos por safra, com um tíquete médio de R$ 20 milhões a R$ 30 milhões.

É pela dificuldade de encontrar ativos que podem ser financiados dentro dos critérios da casa que a Leste não divulga aos investidores quem são as empresas investidas. “Não posso dar a dica para o meu concorrente”, diz Braga. Praticamente todos os recursos do fundo estão alocados. 

Hoje, o fundo entrega um rendimento líquido de CDI+5%. O racional é o de entregar um dividendo bom para o cotista, mantê-lo satisfeito e criar um ciclo virtuoso a partir disso.

Considerando a cota patrimonial, o LSAG11 entregou um dividend yield de 18% em doze meses. A ambição do time liderado por Braga é aliar um Fiagro high yield com a reputação de quem gera créditos confiáveis, um combinação rara — ainda mais em tempos de crise.