Série A

Rafael Coelho quase fechou sua startup — agora ela vale mais de R$ 100 milhões

A de Agro, reconstrução de um projeto que começou como Agronow, acaba de levantar R$ 28 milhões em uma rodada série A liderada pela DXA Invest

30 de março de 2019. A data está gravada na memória de Rafael Coelho. Não era para menos. Naquele dia, o empreendedor de Mato Grosso do Sul praticamente fechou a Agronow, uma startup que se propunha a usar sensoriamento remoto para medir a produtividade do produtor.

Não foi uma decisão exatamente simples. A agtech tinha acabado de captar com o BTG Pactual quando o fundador entendeu que o modelo construído não parava em pé. Como explicar aos sócios? Coelho insistiu e a turma topou o risco. Da Agronow, sobraria só o CNPJ — e o capital dos investidores.

Nascia assim a A de Agro, startup com um modelo de negócios completamente diferente do anterior — não era um mero rebranding. Com a nova estratégia, o fundador apostou no uso de inteligência artificial para ter dados que ajudassem na construção de produtos para os diversos elos da agricultura, dos fabricantes de insumos e revendas agrícolas aos bancos e gestoras que financiam o campo.

Quatro anos depois, a refundação começa a mostrar seu valor. Numa rodada série A liderada pela DXA Invest — a gestora de Oscar Decotelli —, a A de Agro acaba de concluir uma captação de R$ 28 milhões e já negocia uma extensão de até R$ 15 milhões com outras firmas de venture capital, recheando o caixa para construir o sistema operacional do agronegócio.

Rafael Coelho, fundador da A de Agro
Rafael Coelho, fundador da A de Agro: “Vamos usar nossa geração de dados para criar o sistema operacional do agro” | Crédito: Divulgação

A rodada avaliou a startup fundada por Coelho em mais de R$ 100 milhões (post money), atraindo nomes como a Suno — casa de análise criada por Tiago Reis — e outras instituições financeiras. Alguns dos atuais investidores da A de Agro também acompanharam a série A, incluindo Victor Knewitz, o cofundador da Zenvia (software especializado na comunicação entre empresas e clientes via WhatsApp e SMS).

A SP Ventures, uma das principais investidoras da agtech, não pode acompanhar a rodada porque a startup está em seu primeiro fundo de venture capital, que já concluiu a fase de investimentos. Pelas regras da gestora, não pode haver cruzamento de investimentos entre os diferentes veículos. BTG, ACE e os americanos da SVG Ventures também são investidores da A de Agro.

O modelo de negócio

Com o aporte, a A de Agro quer ampliar o leque de produtos que oferece a partir dos dados que construiu ao longo dos últimos anos. “Somos uma empresa de machine learning que entrega dados para o agro usando as imagens de satélite como principal insumo”, explicou Coelho numa conversa com The Agribiz.

Com os dados, a startup criou um modelo de análise de crédito agrícola que é usado por casas como BTG Pactual, Banco Alfa e outras gestoras, o que já ajudou a liberar mais de R$ 700 milhões em financiamentos.

Pela plataforma da A de Agro, é possível conhecer a produtividade de uma determinada fazenda apenas desenhando o polígono da propriedade, diz Coelho. Treinada, a inteligência artificial da agtech consegue dizer qual é a cultura plantada na fazenda e estimar quantas sacas de soja por hectare aquela área colhe.

O modelo de análise da A de Agro também faz cruzamentos com dados do Ibama para garantir a conformidade ambiental da fazenda, funcionalidade também presente em concorrentes como Agrotools e Brain (agtech comprada pela Serasa).

Produtos

Atualmente, a A de Agro conta com três produtos. O primeiro deles, batizado de Labs, foi criado para atender a necessidades específicas de clientes. A Bayer, por exemplo, usa os dados da startup para ajudar a calcular a produção de agricultores e cobrar os royalties das sementes. A KPMG aproveita os dados na auditoria de ativos biológicos (cana-de-açúcar e soja).

O segundo produto é o rural.uno, software da A de Agro para análise de crédito. “Essa é a plataforma que o BTG usa para fazer análise.” Com apenas o CPR do produtor, o sistema consegue gerar os insights para os bancos e outros financiadores.

A área de crédito também gerou um terceiro produto na A de Agro. Neste caso, a startup não faz só a análise, mas também a originação para os parceiros usando os dados de sua plataforma, o que pode ajudar revendas e outras fabricantes de insumos a aliviar o balanço.

Ao contrário de agfintechs como Agrolend e TerraMagna, que dão o crédito ao produtor, a A de Agro só origina e recebe uma taxa por isso. Quem dá os recursos é sempre um parceiro financeiro (banco, gestor de Fiagro, etc.).

Para onde vai o dinheiro

Os recursos da série A ajudarão a startup a lançar novos produtos. Neste ano, a companhia deve estrear uma vertical de seguro agrícola em parceria com a Alper. A partir dos dados da A de Agro, a corretora terá insumos para oferecer um seguro mais barato, até porque vai conhecer melhor a produtividade e o risco de cada produtor.

No ano que vem, a A de Agro também quer lançar uma espécie de marketplace de insumos. Sempre usando seus dados como fortaleza, a startup acredita que pode conseguir precificar melhor os preços dos insumos para grupos específicos de produtores, firmando parcerias com revendas e fabricantes.

No futuro, a startup também quer usar a plataforma para conectar o produtor a outros serviços financeiros, como hedge de commodities na B3 ou no mercado de balcão. “Queremos atender o produtor do pré-plantio ao pós-colheita”, disse o fundador. Para conversar com o produtor, a principal ferramenta da A de Agro é um chatbot no WhatsApp.

A monetização do negócio não vem diretamente dos produtores, mas dos parceiros nos diferentes serviços. Quando atua na originação de financiamentos, por exemplo, a A de Agro fica com algo entre 10% e 30% do spread. No software de análise de crédito, a startup fica com uma taxa que varia entre 0,5% e 1% ao ano.

A previsão da A de Agro é quase triplicar o faturamento neste ano, chegando a R$ 8 milhões. Para 2024, a ideia é fazer mais de R$ 20 milhões a R$ 24 milhões. A partir de R$ 9 milhões em receita, a startup calcula que já seria lucrativa, o que dá uma boa indicação para a geração de caixa em 2024.

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Além de Coelho, a A de Agro conta com outros dois cofundadores: Erik Perillo, a cabeça por trás do modelo de machine learning da A de Agro; e Rodrigo Almeida, o chefe da área de tecnologia.