Crédito

Com R$5 bi sob gestão, a Farm virou tech

Companhia fundada por Rafael Pilla, Ricardo Alves e Hiram Maisonnave prevê emprestar R$ 10 bilhões só neste ano

Para uma startup pouco conhecida do público, a Farmtech tem números que impressionam. Com R$ 5 bilhões em FIDCs dedicados ao financiamento agrícola sob gestão, a empresa fundada por um trio de executivos vindos do mercado bancário tem uma carteira bem maior que TerraMagna e Agrolend, os nomes mais famosos na cena do venture capital. 

Nascida em 2017, a Farmtech se diferenciou pela capacidade dos fundadores — dois ex-Rabobank e um ex-BNP Paribas —, em aliar o mundo dos investidores institucionais às multinacionais de insumos agrícolas e revendas que buscam aliviar o peso do crédito aos produtores de seu balanço. 

Com apenas seis anos de existência, a Farmtech caminha para emprestar R$ 10 bilhões a agricultores e revendas de insumos só em 2023. Para se ter uma ideia, a carteira de crédito da Agrolend, que acaba de virar um banco digital com a emissão de LCAs, está em R$ 200 milhões. Na TerraMagna, o número é de R$ 950 milhões. Desde a fundação, a Farmtech já liberou R$ 17 bilhões, devendo atingir R$ 20 bilhões nos próximos meses. 

Rafael Pilla, CEO da Farmtech: “Chegamos junto com os parceiros. Nunca vamos oferecer crédito de maneira isolada”. | Crédito: Divulgação

A estratégia por trás da expansão está na sua capacidade de atração de recursos e parcerias com empresas que têm 70% de market share no mercado de insumos e 40% em fertilizantes, segundo seus sócios. 

“Sempre chegamos de mãos dadas com o nosso parceiro, nunca vamos oferecer crédito de maneira isolada”, Rafael Pilla, CEO da Farmtech, disse a um pequeno grupo de jornalistas nesta quarta-feira. “Por isso, a adoção da Farmtech tem sido fluida”. 

O apelo tech

Na prática, a fintech disponibiliza soluções integradas –ou embedded, no jargão do mercado — aos processos de seus parceiros, completou Ricardo Alves, CCO da Farmtech. Na relação com os parceiros, a startup pode oferecer uma plataforma com a própria marca ou co-branded.

O porte dos parceiros ajuda a explicar o tamanho da fintech. Suas soluções são usadas por empresas como Syngenta, em sua plataforma Syde, pela Yara em seu programa de financiamento Taló e pela Corteva no FinanciAGRO, um programa para facilitar o acesso do produtor ao crédito. 

Quem olha a trajetória da Farmtech elogia o conhecimento e a capacidade do time para ligar duas pontas do mercado de crédito, atraindo recursos com investidores institucionais para dar funding a corporações do agro. Por outro lado, a companhia ainda não conseguiu se provar como um negócio de tech.  

“É uma asset focada no agro. Nisso, são muito bons. Eles tentaram uma rodada de captação se vendendo como uma empresa de tecnologia, mas o mercado não comprou”, disse um gestor de venture capital. 

A companhia vem tentando reforçar sua pegada tech, reforçando a equipe de desenvolvedores e investindo em branding. Não à toa, a gestora do grupo alterou a denominação em maio, de Farm Investimentos Gestão de Recursos Ltda. para Farmtech Gestão de Recursos Ltda. 

Gestora

Executivos de carreira no Rabobank, Pilla e Alves criaram a Farmtech ao lado de Hiram Maisonnave (ex-vice-presidente do BNP) com recursos próprios. A proposta inicial era financiar revendas de insumos e, em 2020, passaram também a ofertar crédito a produtores rurais.  

Até agora, a gestora e a startup que detém a plataforma de tecnologia (a Farmtech Soluções) cresceram usando o lucro de suas operações, mas os fundadores admitem que, para alçar voos maiores, uma captação de equity pode ajudar. 

“Estamos crescendo rápido, R$ 10 bilhões é um número relevante, mas ainda somos muito pequenos. O mercado em que atuamos, de financiamento por indústrias e tradings, talvez movimente de R$ 300 bilhões a R$ 350 bilhões. Temos um espaço enorme para crescer”, disse Pilla.  
 
A expectativa é manter um ritmo de crescimento anual de 50%. Por enquanto, funding não é visto como um limitador. “Temos capacidade de mobilizar capital em larga escala”, disse o CEO. Entre os investidores nos FIDCs que estão sob sua gestão, estão bancos comerciais com os quais a empresa tem uma boa relação, fundos de crédito e family offices. 
 
A mudança na escala do negócio, no entanto, pode exigir mudanças de perfil.  

“O jogo vai determinar o tipo de estrutura financeira que a gente vai ter pela frente, mas não adianta ter funding fora das condições que o produtor precisa”, disse Pilla, acrescentando que o crédito não pode ser burocrático, caro e chegar atrasado no campo. “Existe necessidade de manter as rédeas de crédito para que ele atenda ao setor,” acrescentou Alves.