Estratégia

Até onde a SLC pode ir? No mercado de sementes, é só o começo

Com um modelo de negócios que é o oposto da indústria, SLC caminha para produzir 2 milhões de sacas de sementes de soja; Aurélio Pavinato quer crescer mais

Quando a SLC ingressou no mercado de sementes, há cinco anos, poucos talvez conseguissem entender a escala que o negócio poderia tomar. Ainda hoje, há quem acredite que a companhia da família Logemann está apenas produzindo as sementes para o próprio consumo. Ledo engano.

Em poucos anos, a SLC Sementes despontou como uma das maiores do país. Num setor ainda muito pulverizado, a impressionante escala da companhia — que planta em mais de 670 mil hectares e faz R$ 9 bilhões em receita — facilitou o rápido crescimento do negócio.

Produção de sementes da SLC em Goiás; empresa produzirá 1,12 milhão de sacas nesta safra | Crédito: Marcelo Coelho (Divulgação)

Hoje, a SLC já está próxima do volume de produção de players como a Petrovina (uma das maiores sementeiras de Mato Grosso, com R$ 700 milhões em faturamento) e ainda vê muito espaço para avançar.

“Nossa estratégia em sementes é continuar crescendo. É uma questão de tempo para a gente conquistar mercado e atingir a nossa capacidade instalada”, disse Aurélio Pavinato, CEO da SLC, em entrevista ao The Agribiz.

A SLC já possui uma capacidade para produzir 2 milhões de sacas de sementes de soja. Para se ter uma ideia do que esse volume significa, a líder Boa Safra vai fechar o ano com uma capacidade para 240 mil big bags (mais de 5,5 milhões de sacas, considerando uma média de mercado de 23 sacas de sementes por big bag).

Nesta safra, a SLC deve produzir 1,12 milhão de sacas de sementes de soja e 122 mil sacas de sementes de algodão. Cerca de dois terços serão vendidos com a marca SLC Sementes — por meio de revendas ou vendas diretas aos produtores, concorrendo diretamente no mercado com as sementeiras. Apenas um terço é consumo próprio.

Para os analistas que acompanham o negócio, ver a SLC no topo também em sementes é, de fato, uma questão de tempo. “É difícil comparar a SLC Sementes com qualquer outro player porque ela já nasce tendo como cliente um produtor que adota o nível mais alto de tecnologia (a própria SLC). Então, provavelmente, ela terá um nível referencial de margem maior do que a média”, afirmou Leonardo Alencar, da XP Investimentos.

Asset light

O modelo de negócios da SLC em sementes é totalmente asset light, o oposto do que é usualmente adotado por empresas do setor. Todo o beneficiamento é terceirizado, o que significa que a SLC não investiu nas indústrias de beneficiamento que processam as suas sementes — elas estão localizadas em Mato Grosso, Bahia, Goiás e Minas Gerais.

A maioria dos players, ao contrário, concentra a sua atividade no beneficiamento e origina as sementes que multiplicará de produtores integrados. Na SLC, a semente vem das próprias fazendas da companhia.

Segundo Pavinato, a vantagem de trabalhar com parceiros no beneficiamento é o baixo capital investido, que permite que a empresa maximize o retorno sobre o capital investido (ROIC, na sigla de mercado).

Aurélio Pavinato, CEO da SLC: empresa busca parceiros em beneficiamento para crescer | Crédito: Ricardo Jaeger (Divulgação)

Por isso, para continuar crescendo, a ideia é buscar mais parceiros para a construção de novas indústrias nas proximidades de fazendas em que a SLC vê potencial para a produção de sementes — a companhia está presente em sete estados do Cerrado. Mas Pavinato não descarta a possibilidade de fazer os investimentos em beneficiamento, se julgar atraente.

Geração de valor

No ano passado, o negócio de sementes adicionou R$ 100 milhões ao Ebitda da SLC, com uma margem Ebitda de 22,5% — abaixo da margem obtida com a operação agrícola, de 38,6%, mas acima da margem Ebitda da Boa Safra, que foi de 13%.

O lucro líquido obtido pela SLC só com a operação de sementes foi de R$ 57,4 milhões. “É uma geração de valor adicional”, disse Pavinato. Nesse cálculo gerencial, a companhia calcula quanto agregou de lucro em relação à alternativa de vender o produto como grão.

Outro diferencial do modelo da SLC é o controle de todo o processo, desde a escolha das variedades até a produção, que acontece nas fazendas operadas pela empresa. O grão que vira semente é o mesmo que poderia ser vendido para consumo ou esmagamento, mas ele precisa ser mais vigoroso para germinar. Dessa forma, os melhores são selecionados para virar sementes.

Normalmente, os players tradicionais pagam um prêmio por esses grãos ao comprá-los dos agricultores. No caso da SLC, esse prêmio acaba sendo capturado pela SLC Agrícola.

“Isso não apenas significa que as margens ficam em casa, como também propicia uma maior visibilidade dos custos de produção em relação a alguns de seus pares”, escreveu Thiago Duarte, analista do BTG Pactual, em um relatório sobre o negócio de sementes da companhia. Além disso, a SLC pode ser “extremamente meticulosa” ao descartar os grãos que não atendem às exigências para a produção de sementes sem nenhum prejuízo financeiro, observou Duarte.

Vantagens

A equação de custos é um dos fatores que o analista enumerou como motivos para a SLC alcançar rapidamente uma posição competitiva no mercado de sementes. Os outros são a inteligência de mercado — com o conhecimento necessário para selecionar as variedades corretas —, reconhecimento de marca, grande potencial de crescimento (considerando a sua diversificação geográfica) e um maior controle de qualidade do produto final.

“Com o controle da etapa mais importante no processo de produção de sementes (a produção agrícola), acreditamos que a SLC tenha todas as ferramentas para assegurar que as suas sementes sejam benchmark na indústria”, completou Duarte.

Mas há desafios. Para Alencar, da XP, no médio ou longo prazos a SLC pode ter de originar grãos de outros players para ter mais volume. Na safra passada, a SLC teve uma participação no mercado de sementes de soja de aproximadamente 1,6%, segundo estimativas do BTG.

Controle da produção agrícola é o principal diferencial da SLC em sementes, segundo o BTG Pactual | Crédito: Marcelo Coelho (Divulgação)

Mesmo quando atingir a marca de 2 milhões de sacas, o market share seria de apenas 3%, o que pode ser visto como uma oportunidade interessante para grandes grupos em um mercado em consolidação. Não à toa, o Pátria montou uma tese para consolidar o mercado de sementeiras.

“Há players que estão em processo acelerado de crescimento, como é o caso da Boa Safra, que deve continuar expandindo e ocupando um share cada vez maior. E players como a SLC, que deve seguir ganhando participação de mercado também. Isso vai reduzindo o número de sementeiras pequenas e deve ir elevando as margens das maiores empresas de maneira consolidada”, argumentou o analista da XP.

Aposta em biológicos

Se no beneficiamento de sementes a SLC vem optando pelo crescimento por meio de parcerias, numa estratégia asset light para investir a menor quantidade possível de recursos, os investimentos mais fortes estão direcionados aos insumos biológicos e à agricultura digital.

Segundo Pavinato, essas áreas têm recebido os principais aportes da SLC por apresentarem maiores oportunidades de redução de custos e aumento de produtividade, ao mesmo tempo em que contribuem para práticas agrícolas mais sustentáveis.

Atualmente, a SLC possui 15 biofábricas distribuídas em suas fazendas e pretende construir mais unidades. O ideal é que cada propriedade tenha a sua biofábrica, segundo Pavinato, e hoje a SLC opera em 22 fazendas.

Nesse caso, toda a produção é consumida internamente e a SLC ainda compra alguns biológicos que não produz de terceiros. Neste ano, a companhia deve substituir entre 10% e 12% de inseticidas químicos por biológicos em sua operação agrícola.

Na produção de biológicos on farm, a SLC instala a fábrica e compra insumos (bactéria ou fungos) para multiplicá-lo. Tipicamente, os fornecedores dos insumos biológicos para multiplicação na própria fazenda são Solubio (uma investida do Aqua Capital) e a holandesa Koppert, disse Pavinato.

Com tecnologia, a SLC vem tentando usar a aplicação mais seletiva e direcionada de defensivos agrícolas, o que já possibilitou uma economia de R$ 82 milhões com a aplicação de químicos na safra passada.

Tendências da safra

A SLC segue guardando a sete chaves os números de sua área plantada na safra 2023/24, o que se tornará público no próximo mês. Durante a divulgação de resultados do segundo trimestre, Pavinato afirmou que a companhia vai priorizar o plantio do algodão em detrimento do milho devido à baixa atratividade dos preços do cereal.

Mas o momento de baixa das commodities também pode resultar em maiores oportunidades de arrendamento, já que os preços das terras inicia um processo de baixa? “É natural que comecem a surgir mais oportunidades, mas tudo vai depender de como os preços vão se comportar na safra 2023/24”, avaliou Pavinato.

As oportunidades, no entanto, talvez só apareçam no ano que vem, até porque ainda há muitos produtores capitalizados depois dos anos de margem recorde. “Essa mudança pode começar a ser percebida de forma mais expressiva no ano que vem”.

SLC na bolsa

Mais relevante companhia do agronegócio no Ibovespa, a SLC está avaliada em R$ 8,7 bilhões. No ano, os papéis caem 5,5% influenciados pela queda no preço dos grãos.

A família Logemann controla o negócio com 53,9% dos papéis. Desde que a gestora britânica Odey vendeu a posição de quase 10% que detinha, o free float passou de 40%. Entre as gestoras, a SPX possui uma das maiores posições, segundo os últimos dados da CVM.