70 anos

De Zé Mineiro a Tomazoni: Como a JBS virou uma gigante de US$ 70 bi

Valores e ensinamentos basilares marcam a trajetória da empresa, que chega aos 70 anos como uma gigante global e maior empregadora do Brasil.

Quando ainda eram apenas jovens pecuaristas, os irmãos José Batista Sobrinho e Juvensor atravessavam as fazendas da região da goiana Nerópolis, a bordo de um jipe recebido do pai, em busca de gado para engordar e revender. No início dos anos 1950, a dupla já fazia algum dinheiro, mas sentia que podia prosperar ainda mais.

Em uma ideia inusitada para conhecer melhor o mercado em que atuavam, os irmãos decidiram abrir a Casa de Carnes Mineira, em Anápolis (GO). A ideia importava menos pelo comércio de carne. Com o pequeno açougue, José Batista Sobrinho queria aprimorar sua capacidade de estimar o peso dos animais, uma métrica fundamental em um negócio de margens apertadas.

Casa mineira de carnes, origem da JBS

O foco no detalhe de Zé Mineiro, como o patriarca da família Batista ficou conhecido, é quase uma herança genética, transmitida entre as gerações que ajudaram a construir e transformar a JBS, que acaba de completar 70 anos de sua fundação, em uma das maiores empresas de alimentos do planeta.

Foco no detalhe

Muitas décadas depois daquele experimento de Zé Mineiro no açougue, o filho Wesley Batista se debruçaria sobre uma miríade de detalhes que passavam despercebidos pelo batalhão de executivos da Swift Co, um colosso que fazia mais de US$ 10 bilhões em receita, mas perdia muito dinheiro.

História das aquisições da JS

“Quando compramos a Swift, só na desossa tinha uma oportunidade de 20 dólares por cabeça para melhorar. Então, você faz a conta de US$ 20 por 5 milhões de animais, dá US$ 100 milhões”, recorda Wesley, que se mudou de São Paulo para o Colorado (EUA), em 2007, para reestruturar a operação americana recém-adquirida.

A aquisição da Swift foi um marco para a JBS. Além do porte gigantesco — os americanos faturavam cinco vezes mais que a empresa da família Batista —, o M&A marcou a estreia da companhia nos Estados Unidos, em uma incursão que provou a capacidade dos brasileiros de levar seu estilo de gestão para o resto do mundo, trazendo eficiência e rentabilidade para as operações.

“Fizemos a Swift parar de perder dinheiro e começar a ter resultado. Mas não há uma única grande coisa que fizemos. É uma junção de várias que fez aquilo melhorar”, diz Wesley.

Na gestão do negócio americano, o empresário também aplicou dois princípios fundamentais para a JBS: simplicidade e atitude de dono. A Swift deixou de ter uma hierarquia gigantesca, com mais de oito níveis entre o chão de fábrica e o topo.

“A primeira linha da empresa falava bonito, mas sabia pouco dos detalhes. Tinha muita gente lá em cima criando burocracias e a turma de baixo, que carrega o piano, abafada porque a turma de cima não olha”.

A reestruturação da Seara

Em todos os negócios que a JBS detém, a “atitude de dono”, mais um dos valores basilares, é uma característica fundamental e parte da cultura. É assim que os gestores ganham autonomia e motivação para cuidar de cada unidade em todos os detalhes, como donos da operação. Não à toa, a companhia conseguiu construir um dos times mais longevos da indústria de alimentos.

“Temos uma gestão baseada na confiança. As pessoas têm que se sentirem donas e elas sabem que se o negócio não vai bem é porque não estamos com a pessoa certa. As regras são claras”, conta Gilberto Tomazoni, CEO global da JBS.

A cultura e os valores herdados de Zé Mineiro também ajudaram a JBS em uma das transformações mais surpreendentes da indústria de alimentos. Em 2013, a companhia adquiriu a Seara, uma marca que chegava em sua quarta venda em um intervalo de poucos anos. Naquela altura, alguns no mercado até achavam que o negócio não tinha grande futuro.

“Quando compramos a Seara, me deparei com a questão da cultura. A empresa estava mal, mas quando eu visitava as fábricas não tinha um senso de urgência. Nós precisávamos fazer uma coisa contundente porque chegamos para ser os donos definitivos do negócio”, recorda Tomazoni, que liderou a reestruturação da Seara.

Número de funcionários da JBS

Assim como ocorreu na Swift, a reestruturação da Seara teve resultados em pouco tempo. “Nós contratamos um time extraordinário, viramos o negócio em três meses. Na área comercial, nós mudamos tudo”, prossegue o executivo. O sucesso na missão, aliás, o credenciou a assumir, cinco anos depois, como CEO global da JBS.

Para Tomazoni, a receita da JBS é muito simples. “Nosso diferencial está na simplicidade e na humildade. Nós não perdemos as raízes do Seu Zé Mineiro, o que é fundamental para a nossa evolução. Aqui nós temos as portas abertas, um ajudando o outro, jogamos como um verdadeiro time”.

Na JBS, 2040 é logo ali

Ao longo dos últimos 70 anos, o jeito simples da JBS criou uma das maiores companhia de alimentos do mundo, com um faturamento que saltou de apenas US$ 2 bilhões em 2006, antes da abertura do capital na bolsa brasileira, para mais de US$ 71 bilhões no ano passado.

Dona de marcas reconhecidas como Seara e Friboi, a JBS é a maior empregadora do Brasil, com 152 mil colaboradores, respondendo por uma fatia relevante da agregação de valor na economia nacional. Pelos cálculos de um estudo da Fipe, a companhia fundada por Zé Mineiro é responsável por 2,1% do PIB brasileiro e 2,7% dos empregos.

A celebração da trajetória de 70 anos é também um momento para refletir sobre desafios para as próximas décadas. A JBS vem trabalhando para se tornar neutra em carbono até 2040, fomentando práticas de pecuária regenerativa e fazendo diversos investimentos para combater o desmatamento na Amazônia.

Pensar o alimento do futuro também está na ordem do dia da JBS. Um dos projetos que mais entusiasmam a companhia é o desenvolvimento de proteína cultivada a partir de células animais, com projetos na Europa e pesquisas na Universidade Federal de Santa Catarina.

As transformações também incluem uma dupla listagem de ações, nas bolsas brasileira e de Nova York, uma oportunidade para destravar valor para os investidores ao mesmo tempo em que amplia a capacidade de financiamento e liquidez para a companhia. A listagem nos Estados Unidos pode ser tão transformacional quanto foi o IPO no Brasil, em 2007.  

“Esse foi um momento único de nossa história. Estávamos crescendo com recursos próprios, sem apoio, quando de repente fomos abordados por um banco americano, o que foi uma surpresa para nós”, contou Joesley. “Nós nos engajamos nesse processo e, na ocasião, fizemos o maior IPO da bolsa brasileira até aquele momento, o que foi um ponto de virada de extrema importância para a empresa. Passamos a ser reconhecidos por novos públicos e pudemos observar nossa organização sendo valorizada pelo mercado. Foi fantástico!”.

Entre o passado e o futuro, a JBS vem construindo um negócio que agrega cada vez mais valor e confiança aos investidores, consumidores e stakeholders. “Levantar cedo, trabalhar duro, agarrar as oportunidades e, principalmente, ter humildade para aprender é o grande segredo do sucesso. Com foco, disciplina e determinação, podemos chegar aonde queremos”, diz Joesley Batista.

“Sou muito otimista em relação ao futuro da JBS, pois com essa equipe iremos ainda mais longe. Posso dizer que será apenas uma consequência do que estamos fazendo diariamente, e nada disso seria possível sem a participação de cada um”, resume Zé Mineiro.