
A conversão do saldo de pasto degradado no Brasil, estimado pela Embrapa em cerca de 28 milhões de hectares, pode evitar a emissão de 3,5 bilhões de toneladas de CO₂.
E a incorporação desses territórios à lavoura tem potencial para ampliar em 52% a produção nacional de soja e milho. Considerando apenas a soja, esse acréscimo representaria mais de 100 milhões de toneladas adicionais — o equivalente a mais de duas safras do Mato Grosso, ou a duas da Argentina — sem a necessidade de avançar sobre áreas de vegetação nativa.
Os cálculos fazem parte de um novo relatório do Itaú BBA. O trabalho aponta os estados com maior potencial de conversão: Mato Grosso (5,1 milhões de hectares), Goiás (4,7 milhões de ha), Mato Grosso do Sul (4,3 milhões), Minas Gerais (4 milhões) e Pará (2,1 milhões).
Segundo o relatório, o investimento necessário para converter os 28 milhões de hectares de pasto degradado é estimado em R$ 482,6 bilhões. Considerando só insumos e operações em propriedades já equipadas com máquinas e benfeitorias, esse valor cai para R$ 188,7 bilhões.
“Para que áreas de pasto tenham potencial de conversão para outros sistemas de produção além da pecuária, é necessário que apresentem condições adequadas de clima, topografia e altitude. Dependendo do grau de deterioração, as práticas a serem adotadas para a recuperação podem variar e elevar o custo da operação”, explica Francisco Queiroz, analista da Consultoria Agro do Itaú BBA.
Caso recuperadas, essas áreas de pasto — com níveis de degradação de intermediário a severo, mas com potencial para serem convertidas em agricultáveis — poderiam gerar R$ 904 bilhões em valorização fundiária, ainda de acordo com o relatório do banco.
“Além disso, a elevação da produção de grãos tende a gerar externalidades positivas, como o aumento da competitividade da cadeia de proteínas animais, a intensificação da pecuária de corte e a maior oferta de biocombustíveis”, afirma o relatório.
Em busca de financiamento
O Itaú BBA é o parceiro financeiro da Syngenta na iniciativa Reverte, um programa que busca viabilizar a conversão técnica e financeira de pastagens degradadas em áreas produtivas.
Lançado em 2019, o projeto foi inicialmente implementado em Mato Grosso, Goiás e Maranhão, segundo o banco, e se expandiu para outras regiões, incluindo um projeto piloto no Paraguai. A TNC (The Nature Conservancy) é parceira do programa na atuação sobre o bioma Cerrado.
Segundo André Savino, presidente da Syngenta Proteção de Cultivos no Brasil, o Reverte é uma das iniciativas da empresa na direção da agenda ESG. “O programa está alinhado às nossas prioridades de sustentabilidade, que contemplam metas como mais produtividade, com menos impacto; regenerar o solo e a natureza; aumentar a prosperidade rural; e viabilizar operações mais sustentáveis”, detalhou.
Segundo Queiroz, do Itaú BBA, um dos diferenciais do programa é ampliar o acesso ao crédito, com prazos e condições adequados ao ciclo de retorno do investimento em regeneração de terras.
“O Brasil tem a oportunidade de liderar uma nova revolução, aliando produtividade e conservação ambiental. Entendemos que transformar pastagens degradadas é uma decisão estratégica, com impacto direto na economia, no clima e na sociedade.”
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A agricultura regenerativa é um dos temas que mais têm mobilizado a agenda nos diversos elos da cadeia do agronegócio, das fabricantes de insumos às gigantes de alimentos. Investidores de diversas partes do mundo querem saber como investir em projetos no Brasil que visam a restauração de áreas degradadas — embora alguns entraves apareçam na hora de assinar o cheque.
Há outros programas em curso no cenário global. Por exemplo, a Iniciativa para Agricultura Sustentável (SAI, na sigla em inglês), que congrega 33 grandes empresas, como Bayer, Cargill, Danone, Koppert e Syngenta.
Existem exemplos no Brasil, como o Reg.IA, um consórcio formado por Bayer, BRF, Agrivalle e pela agtech Produzindo Certo, que iniciou suas operações na safra 2024/25 e chegou a 37 mil hectares em cinco estados, a maioria em Goiás. E empresas de diversos setores, como General Mills e Danone, mantêm projetos de agricultura regenerativa em suas cadeias de produção.