Opinião

Bruto mas sofisticado: o agro brasileiro é um exemplo global

O agro brasileiro transcende o clichê de cerveja, churrasco e sertanejo. É uma amálgama de tradição, ciência e sustentabilidade, pronto para alimentar o futuro

Muitos de nós lemos a recente reportagem de The Economist, que sugere substituir o clichê que retrata o brasileiro com samba e caipirinha por um clichê contemporâneo: o agro associado ao desmatamento, cerveja e música sertaneja. Na mesma semana, Rattan Lal, renomado pensador laureado com o Nobel da Paz, voltou a enaltecer a agricultura brasileira, posicionando-a como um exemplo global e como uma ferramenta poderosa no combate às mudanças climáticas. Sugiro que reescrevamos esse clichê contemporâneo e adotemos a visão audaciosa de Lal.

A herança e tradição do setor agrícola brasileiro são motivos de orgulho para aqueles conectados à terra. Relatos de avós e pais que transformaram terras áridas em áreas de alta produtividade são histórias recebidas com admiração. Mas essa metamorfose não veio apenas do esforço e tenacidade, mas também de significativos investimentos em ciência e pesquisa.

A trajetória do agro brasileiro vai além de uma mera história de sucesso. É um sistema integrado respaldado por práticas científicas. Pioneiros como Johanna Döbereiner, com suas descobertas sobre a braquiária e a fixação de nitrogênio, e Alysson Paolinelli, responsável pela revolução agrícola tropical, atestam a fundamentação científica do setor.

Atualmente, o agronegócio já contribui com cerca de 25% do PIB brasileiro, garantindo a segurança alimentar do país e com potencial para alimentar uma significativa parcela do mundo. Tal feito é o resultado de ciência, inovação e dedicação.

Junto a essa trajetória de inovação, os investimentos em agtechs também têm sido notáveis. No ano passado, atingiram US$ 200 milhões, um aumento de quase 100% em relação a 2021, quando foram injetados US$ 109 milhões. Isso demonstra o crescente interesse e confiança no potencial inovador do agro brasileiro.

A revolução dos biológicos

Ao apresentar nossas usinas de cana ou operações agrícolas a amigos estrangeiros, a reação é unânime: surpresa e admiração. Para eles, os métodos biológicos são tópicos acadêmicos, mas vê-los em prática aqui é revelador.

Por aqui, o mercado de biológicos tem crescido num ritmo impressionante de 69% ao ano nos últimos três anos, e as projeções apontam para um aumento de 30% nos próximos cinco anos. Com sua abordagem inovadora no agronegócio, o Brasil busca constantemente um equilíbrio entre o uso de agroquímicos e biológicos.

Esta não é apenas uma decisão estratégica, mas um testemunho do compromisso do país com a sustentabilidade. A crescente ênfase em práticas agrícolas biológicas destaca um esforço nacional para reduzir o impacto ambiental enquanto ainda se atende à demanda global por alimentos.

Recentemente, o cenário global voltou seus olhares para o Brasil, não apenas pela sua capacidade agrícola inovadora, mas também por um fervilhante interesse corporativo. A Biotrop, uma joia tecnológica emergente, tornou-se o epicentro de uma acirrada disputa entre gigantes multinacionais. O interesse em tal ativo ressalta a significância e o potencial da tecnologia e inovação brasileiras no cenário mundial.

Quando o mundo está em um debate intenso sobre “tilling or not tilling” [adotar o plantio direto ou o convencional], o Brasil já tomou uma posição clara a favor da sustentabilidade. Em aproximadamente 70% de sua agricultura, o país adota a técnica de plantio direto. Esta prática não só conserva a estrutura e composição do solo, mas também reduz a erosão, aumenta a retenção de água e, em última análise, contribui para a captura e armazenamento de carbono no solo. É uma clara manifestação da responsabilidade do Brasil em lidar com as mudanças climáticas e promover uma agricultura resiliente.

Além disso, o plantio direto e outras práticas agrícolas sustentáveis contribuem para a biodiversidade, promovendo um ambiente mais equilibrado e saudável. A rica diversidade biológica do Brasil, aliada a essas práticas, é uma arma poderosa na luta contra pragas e doenças, reduzindo ainda mais a dependência de produtos químicos.

Nesse contexto, o agronegócio brasileiro não é apenas um pilar econômico, mas também um grande contribuidor para a sustentabilidade global. As práticas adotadas aqui têm potencial para servir como modelo para outras nações, demonstrando que é possível ter uma agricultura intensiva e produtiva que respeite e promova o equilíbrio ambiental.

Rattan Lal vê o Brasil como um modelo para países em desenvolvimento, especialmente devido ao programa brasileiro de Agricultura de Baixo Carbono (ABC) e destaca nossa capacidade de rejuvenescer pastos degradados e reintegrá-los à natureza, enquanto harmoniza a produção agrícola e pecuária. Produção e preservação podem coexistir.

O agro brasileiro transcende o clichê de cerveja, churrasco e sertanejo. É uma amálgama de tradição, ciência e sustentabilidade, pronto para alimentar o futuro. Os investimentos no agro distinguem o Brasil e as práticas exemplares vêm dos nossos cientistas e empreendedores.

E sim! Tudo isso pode ser celebrado ao som de música sertaneja.