Sem um orçamento polpudo, o consultor Thiago Cardoso passou três meses num carro, descendo de Campo Grande (MS) até o Uruguai produzindo imagens e depoimentos para um documentário de pecuária para o lançamento da Fazen, uma startup que pretendia vender medicamentos veterinários pela internet.
A experiência na Fazen durou pouco tempo, mas ajudou a estreitar a relação entre Cardoso e Vasco Oliveira — o empreendedor por trás da startup e da AGV, companhia de logística vendida à mexicana Femsa há quatro anos.
Desde 2020, a dupla trabalha na construção da nstech, uma máquina de aquisições que vem construindo uma plataforma de softwares e tecnologia para melhorar e eficiência da logística rodoviária brasileira.
Como braço direito de Oliveira, Cardoso depois cuidou dos M&As da companhia — investida da Tarpon, a nstech já fez 30 aquisições desde a fundação, investindo mais de R$ 1,5 bilhão.
Agora, ele acaba de iniciar uma nova missão, assumindo a recém-criada diretoria de agronegócios. Ao colocar o cofundador Cardoso no posto, a nstech dá uma dimensão da relevância do agro para a empresa.
Com um faturamento anualizado de R$ 800 milhões, a nstech já faz 22% disso no agro, atendendo das principais tradings agrícolas às gigantes de fertilizantes e os maiores frigoríficos do país.
“O sucesso do agro dentro da porteira trouxe o desafio para fora da porteira, que é onde acredito que podemos ajudar muito o país a melhorar em termos de custos”, disse Cardoso ao The Agribiz, citando os conhecidos desafios para escoar a safra brasileira.
As metas da nstech
A área de agronegócios é a primeira diretoria segmentada da nstech. Com ela, Cardoso aposta que conseguirá ter o foco necessário para construir combos reunindo as diversas soluções da companhia — são 40 famílias de produtos — que façam sentido para o agro.
O papel de Cardoso será se aproximar dos principais executivos do agro, o que deve ocorrer com o lançamento do nsClub Agro, uma plataforma de eventos e experiências para melhorar o diálogo do setor.
“Vamos discutir juntos como resolver o problema da logística do agro e como conseguimos criar mais soluções. Escutando os clientes, vamos conseguir montar combos de produtos para o agro”, disse o executivo.
As metas deste primeiro ano são relevantes. Segundo Cardoso, a nstech quer aumentar as vendas para os clientes do agronegócio em 30% neste ano, com o que deve chegar próximo de R$ 230 milhões em termos anualizados só neste ano. Considerando todas as áreas, o faturamento da companhia deve passar de R$ 1 bilhão.
Em um país que ainda sofre com a carência de armazenagem e que terá o desafio de escoar a safra com as margens mais comprimidas depois da queda dos preços dos grãos e da provável quebra de safra em Mato Grosso, fazer a melhor gestão do frete ganhou ainda mais importância.
Pelas estimativas da consultoria Veeries, o custo de logística deve ficar entre 17% e 20% do preço da soja neste ano, ante 13% na última safra.
É nesse cenário que a nstech aposta quer acelerar. Entre as soluções da companhia, estão um software de gestão de pátio (Yard Management System ou YMS, na sigla em inglês) que ajuda os clientes a reduzir as filas nos postos e programar melhor o tempo de carga e descarga.
Redução de custos
“O nosso YMS tem conexão com o Trizy, nosso superapp para o caminheiro. É possível agendar o momento em que ele vai chegar para descarregar o caminhão, seja no porto de Santos ou em Miritituba, nos terminais do Arco Norte”, exemplifica Cardoso.
Entre os clientes do YMS, estão desde companhias de logística ferroviária como a Rumo até empresas de fertilizantes como Fertipar e Mosaic, e tradings como ADM, LDC, Amaggi e Bunge.
Na Rumo, a implementação do YMS no terminal rodoviário de Rondonópolis permitiu uma redução do tempo médio de descarga de 11 horas para apenas 4 horas. Segundo a nstech, o software ajuda a reduzir o tempo médio de espera do caminhão para carga e descarga em até 45%, diminuindo os custos de estadia em 70%.
Com as tecnologias construídas ou adquiridas nos últimos anos, a nstech também consegue ajudar na roteirização nas viagens. Pelos softwares da companhia, é possível acompanhar o fluxo de caminhões pelo Brasil, uma espécie de Google Maps do transporte rodoviário.
Atualmente, a nstech conta 2 milhões de caminhoneiros no banco de dados, um legado da aquisição da Buonny, que possui um cadastro para consulta de motoristas muito usado pelas tradings.