Proteína animal

Por que exportar frango para o Japão é uma vantagem competitiva

"Muitos dos avanços da indústria de frango nos últimos 40 anos devemos em parte ao olhar cirúrgico dos japoneses e investimentos feitos para atingir tal excelência"

Quando pensamos em carros de qualidade superior e confiáveis geralmente um país nos vem à cabeça: Japão.

Ao longo de décadas, a indústria automotiva japonesa suplantou diversos países concorrentes, incluindo a até então toda poderosa indústria norte-americana. Baseado em metodologias de qualidade total (kaizen, em japonês), os produtores japoneses de automóveis elevaram o nível da indústria mundial e criaram novos parâmetros que seguem sendo referência.

Muitos desses avanços encontram ressonância na cultura japonesa de excelência, respeito e indubitável apreço por produtos de qualidade e funcionais. Quem já teve a oportunidade de ir ao país asiático sabe do que estamos falando.

E aqui entra o frango brasileiro. Há mais de 40 anos o Brasil exporta carne de frango para os japoneses, uma relação construída com base na tradição, no respeito e na entrega de um produto totalmente customizado para as necessidades dos clientes japoneses.

Aqui se estabeleceu um novo kaizen, desta vez made in Brazil, que substituiu os Estados Unidos,  maior parceiro comercial japonês e até então líder no fornecimento do produto avícola.

Hoje, dos portos brasileiros saem mais de 400 mil toneladas por ano, em média, com destino ao Japão, que se estabeleceu já há algum tempo entre os três maiores importadores da carne de frango do Brasil —em especial, de perna desossada.

A conquista do mercado do Japão não veio sem muito suor, já que, para eles, cada detalhe conta. Muitos clientes conhecem tão bem as nossas plantas produtoras como nós mesmos, incluindo as pessoas que nelas trabalham.  

Exigem padronização total do produto e excelência no serviço, mas também remuneram satisfatoriamente por isso. Por exemplo, um dos cortes que fazemos para o Japão, a perna desossada em cubos (kakuguiri, em japonês) é literalmente medido na régua, para garantir padronização total.

Muitos dos avanços que a indústria brasileira teve ao longo desses 40 anos devemos em parte a esse olhar cirúrgico dos japoneses e aos investimentos que tivemos que fazer para atingir tal excelência.

Nova conquista: a carne suína

O mesmo começa a acontecer com a carne suína brasileira. Depois de muito tempo lutando para a abertura do mercado, há 10 anos ganhamos o aval sanitário para as exportações.

Primeiro, de maneira muito tímida, diríamos até demais. Agora, os volumes aumentam ano após ano, e o Japão já é um dos dez principais mercados de nossas exportações. Neste ano já crescemos cerca de 130% e a tendência é de aumentarmos cada vez mais. 

Se conquistarmos o reconhecimento japonês para os estados do Paraná e Rio Grande do Sul como livres de aftosa sem vacinação —como a Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) já fez em 2021— teremos oportunidades ainda melhores. O setor público e a ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal) trabalham o tema como prioridade.

O Japão está no top 3 dos maiores importadores globais de carne suína, demandando de outras nações aproximadamente 1 milhão de toneladas todos os anos.  A participação brasileira, contudo, ainda é menor de 3% do total importado. 

Esse quadro deve mudar, já que muitas de nossas empresas começam a colocar foco e esforços neste mercado. Dias atrás, visitamos uma planta produtora que tem uma sala exclusiva para produzir barriga suína segundo as especificidades dos japoneses. O produto é tão bonito na embalagem que parece até um presente.

Percepção de qualidade e confiança não se constroem de um dia para o outro. Demoramos anos para conquistar essa confiança japonesa que, de tão relevante, influencia a abertura de outros mercados.   

Não estamos isentos de concorrência — vide o bom desempenho tailandês nos últimos anos— mas o standard brasileiro (de qualidade, de customização e de biosseguridade) faz a diferença. Se o Japão é medalha de ouro na indústria automotiva, podemos dizer que somos o mesmo na indústria de proteína animal.

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Este artigo foi escrito por Ricardo Santin, presidente da ABPA, e Luís Rua, diretor de mercados.