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Um trimestre de margens gordas para os frigoríficos. Agora, é esperar o balanço

Frigoríficos de aves e suínos se beneficiam da queda dos grãos; na carne bovina, menor preço do boi gordo melhora rentabilidade

Os frigoríficos de carne bovina, de frango e suína do Brasil encerraram o primeiro trimestre sorrindo. Os dados de exportação consolidados confirmaram margens fortes nas três proteínas, o que deve beneficiar os resultados de JBS, BRF, Marfrig e Minerva.

Na avicultura, os preços mais baixos dos grãos continuaram melhorando os spreads entre os custos e os preços de venda da carne, enquanto a oferta mais equilibrada tem aberto oportunidades para alguns aumentos de preço.

O cenário, traçado pelos executivos das principais empresas do setor durante a apresentação de resultados do quarto trimestre, é confirmado por alguns indicadores antecedentes.

O custo de produção de frangos e suínos de corte, por exemplo, caiu 20% nos últimos 12 meses encerrados em fevereiro, segundo o mais recente cálculo da Embrapa. Do lado vendedor, os preços de exportação das três proteínas aumentaram em março, em comparação com o mês anterior, sugerindo um mercado mais aquecido.

A convergência desses fatores se reflete nas margens da indústria: Em março, o spread (diferença entre os custos e os preços de venda) nas exportações de aves ficou 5% acima da média dos últimos sete anos, segundo estimativas dos analistas do BTG Pactual. No mercado doméstico, o spread foi 15% acima da média.

“Esperamos um forte início de ano para a BRF e para a Seara, da JBS”, escreveram os analistas do BTG Thiago Duarte e Henrique Brustolin em relatório.

Para os próximos trimestres, fica a preocupação quanto ao movimento típico da indústria de aves quando a rentabilidade melhora: aumento da produção, o que tende a pressionar os preços novamente.

“No futuro, as chances de aumento na oferta, à medida que as margens da indústria melhoram, são o nosso principal ponto de preocupação”, acrescentaram os analistas do BTG.

No caso dos suínos, o mercado interno também vem possibilitando margens acima da média —em março, o spread foi 4% maior do que a média de sete anos. Já no mercado externo, que apresentou um desempenho fora da curva a partir de 2018 com os efeitos da peste suína africana na China, os spreads estão 11% abaixo da média, de acordo com o BTG.

Carne bovina

Queda nos custos também é a principal causa para a melhora nas margens dos frigoríficos de carne bovina. No primeiro trimestre, o preço do boi gordo caiu 8%, segundo o indicador do Cepea e da B3. No último dia de março, ele foi quase 15% menor do que um ano antes, refletindo o esperado aumento na oferta de animais para abate devido ao favorável ciclo da pecuária.

Em março, os spreads de carne bovina, tanto nas exportações como nas vendas domésticas, ficaram 3% acima da média e foram mais altos do que no mesmo período do ano passado, segundo o BTG. No caso do mercado externo, aumentaram 3% em relação a fevereiro.

Os preços de exportação continuam fracos, mas os analistas esperam uma recuperação à medida que a oferta de carne dos Estados Unidos caia em resposta ao histórico declínio do rebanho bovino por lá.

Para os analistas do BTG, os frigoríficos com forte operação no Brasil, como o Minerva, estão se beneficiando do ciclo do gado favorável. “Mas ainda vemos uma história binária (para a Minerva), dependendo de como a integração dos ativos da América do Sul da Marfrig se desenvolve”, dizem em relatório.

Os spreads nos EUA

Também influenciado por menores custos de produção, as margens dos produtores de frango nos Estados Unidos está bem acima da média histórica. Além da baixa no preço dos grãos, os preços no mercado interno estão melhorando —possivelmente em razão de um aumento na demanda provocado pela menor oferta de carne bovina, que também está mais cara.

Bom para a Pilgrim’s Pride, produtora de aves controlada pela JBS, que pode ter na melhora nos resultados com frango nos Estados Unidos alguma compensação pelo momento desfavorável no mercado de carne bovina norte-americano.

Segundo a análise do BTG, os spreads de carne bovina caíram 4% no primeiro trimestre, na comparação anual, e ficaram estáveis em relação ao quarto trimestre. “Isso sugere que as tendências de margem vistas durante o quarto trimestre podem persistir”, comenta o BTG.

Para os analistas do banco, a Marfrig deve continuar apresentando um desempenho acima da média no trimestre, enquanto a JBS pode apresentar melhora nas margens devido ao menor impacto das perdas com hedge de gado que teve nos Estados Unidos no final do ano passado.

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Nesta sexta-feira, as ações das empresas de proteína animal operavam em alta na B3, com exceção da JBS.

Em um ano, os papéis da JBS acumulam alta de 30%, a Marfrig subiu 66% e as ações da BRF dispararam mais de 160%. Já as ações da Minerva caem 28% em um ano influenciadas pelas incertezas envolvendo a compra de ativos da Marfrig.