Diversificação

JBS começa a desalavancar e já vê melhora dos resultados em 2024

Recuperação na Seara deve ficar mais evidente a partir do primeiro trimestre, afirma CEO da JBS, Gilberto Tomazoni.

Apesar de dificuldades no negócio de carne bovina nos Estados Unidos e na Seara, a JBS iniciou um processo de desalavancagem no último trimestre e deve intensificá-lo em 2024 à medida que os resultados operacionais melhorem.

Com exceção da JBS USA, onde as margens devem continuar apertadas graças ao ciclo difícil da pecuária nos Estados Unidos, as perspectivas são positivas, mostrando a força da diversificação geográfica e de proteínas da companhia.

“Estamos em um processo de normalização dos nossos resultados”, disse o CEO global da JBS, Gilberto Tomazoni, ao The AgriBiz. “O caminho para 2024 é de melhora nos resultados. O quarto trimestre demonstra isso”, acrescentou.

Entre outubro e dezembro de 2023, o Ebitda ajustado da JBS ficou em R$ 5,1 bilhões, um crescimento de 11,6% em relação ao mesmo trimestre de 2022. A margem Ebitda subiu de 4,9% para 5,3% no mesmo intervalo, enquanto a receita líquida aumento 3,7%, para R$ 96,3 bilhões.

“O caminho para 2024 é de melhora nos resultados. O quarto trimestre demonstra isso”, afirmou o CEO global da JBS, Gilberto Tomazoni

Nos últimos meses, as lideranças da JBS estiveram voltadas a melhorar o desempenho operacional de sua divisão de bovinos nos EUA e da Seara, depois de resultados frustrantes. No ano passado, a empresa identificou falhas operacionais nessas unidades e foi preciso “corrigir rotas”, segundo Tomazoni. Os resultados desse trabalho começarão a ser percebidos nos próximos trimestres, disse.

Também houve um esforço para liberar capital de giro e melhorar o fluxo de caixa, o que possibilitou que a dívida líquida fechasse o ano praticamente estável em US$ 15,3 bilhões. A alavancagem, por sua vez, caiu de 4,8 vezes em setembro para 4,3 vezes em 31 de dezembro.

“A alavancagem já começou a cair porque o Ebitda do quarto trimestre já foi melhor do que o registrado no mesmo período do ano anterior”, disse o CFO, Guilherme Cavalcanti. “No primeiro trimestre, o Ebitda vai ser bem melhor e a alavancagem vai cair mais e continuar caindo até o final do ano”, disse.

A tendência, segundo ele, é que a JBS retorne gradativamente à sua meta de manter a dívida líquida entre 2 e 3 vezes o Ebitda.

A empresa teve uma melhora significativa na geração de caixa livre, que totalizou R$ 4,3 bilhões no quarto trimestre ante R$ 666 milhões um ano antes. Além de um impacto relevante de menores custos com grãos, a diversificação de proteínas e geográfica permitiu à companhia gerar caixa mesmo em meio a um cenário adverso nos EUA.

“Enquanto o ciclo do gado nos EUA é de baixa, na Austrália e no Brasil o cenário é muito positivo. As perspectivas para o frango também são muito positivas no mundo inteiro”, disse Tomazoni.

Seara


Apesar da queda dos grãos e de uma melhora no balanço entre oferta e demanda da carne de frango, os resultados da Seara continuam aquém do desejável e de seu potencial, sinalizando uma diferença importante para a rival BRF.

A margem Ebitda da Seara até melhorou em relação ao terceiro trimestre, passando de 5,5% para 6,4%, beneficiada pelas vendas de produtos natalinos. Em comparação com o mesmo trimestre de 2023, no entanto, a margem ficou estável mesmo com uma queda relevante no preço dos grãos no período.

Na Pilgrim’s e na JBS USA Pork, as margens já apresentaram um impacto positivo do menor custo com grãos e com um maior equilíbrio entre oferta e demanda. No caso da Pilgrim’s, as margens subiram de 1,5% para 6,8% na comparação anual. Já as margens da operação de suínos nos EUA avançaram de 4,8% para 9% no mesmo período.

Outro sinal de que os números da Seara têm espaço para melhorar é a comparação com o desempenho da rival BRF, que reportou uma margem Ebitda de 13,2% no quarto trimestre de 2023.

Com a casa arrumada, Tomazoni afirmou que o desempenho operacional da unidade deve começar a melhorar.  “Os resultados foram tímidos neste trimestre, mas eles vão aparecer com mais intensidade a partir do primeiro trimestre deste ano”, disse.

JBS USA


Já os resultados de carne bovina nos EUA ainda devem demorar para começar a melhorar. O rebanho dos EUA está no menor nível em aproximadamente 70 anos, e a baixa oferta de animais para abate tem elevado o preço do gado —no quarto trimestre, a alta foi de 16% segundo dados do USDA (Departamento de Agricultura dos EUA).

O Ebitda desse negócio, que tem maior peso nos resultados consolidados da JBS, ficou negativo em R$ 488,5 milhões, com margem de -1,6%. No mercado, já se especula que será difícil para os frigoríficos operaram com margens positivas neste ano devido ao declínio do rebanho norte-americano —o gado representa cerca de 85% do custo do produto vendido.

Como o ciclo pecuário nos EUA ainda deve continuar desfavorável este ano, uma melhora nas margens desse negócio dependerá do comportamento da demanda, o que é mais difícil de prever, afirma Tomazoni.

“Ela vai depender muito das campanhas promocionais que os retailers (varejistas) vão fazer e a competitividade com as outras proteínas”, disse Tomazoni. Nos EUA, o segundo e o terceiro trimestres são tradicionalmente os mais fortes para o consumo de carne bovina.

Apesar do cenário adverso enfrentado pelo setor de carne bovina nos EUA, os executivos da JBS reafirmaram a expectativa de concluir a listagem das ações em Nova York ainda este ano.

Na bolsa brasileira, a JBS está avaliada em quase R$ 50 bilhões. Em doze meses, as ações sobem 22%.