
Enquanto a tempestade perfeita dos insumos agrícolas devastava o balanço de revendas como Agrogalaxy e Lavoro, as qualidades distintivas da gaúcha 3tentos se sobressaiam.
Mesmo desbravando um mercado bruto como Mato Grosso justamente no momento de mais estresse para os canais de distribuição, a companhia de família Dumoncel multiplicou de tamanho, com um retorno sob o capital investido acima de 20% ao ano — de fazer inveja a muita gente.
Em um amplo relatório escrito pelos analistas Thiago Duarte e Guilherme Guttilla, o BTG Pactual destrinchou as vantagens competitivas da 3tentos, ressaltando o modelo de negócios que pode viabilizar um crescimento ainda maior ao longo dos próximos anos.
Desde que abriu o capital, há quatro anos, a companhia da família Dumoncel triplicou de tamanho, saindo de uma receita líquida de R$ 5,3 bilhões em 2021 para aproximadamente R$ 16 bilhões neste ano.
Fundada há 30 anos no município de Santa Bárbara do Sul, a 3tentos montou um “ecossistema” digno do nome, com verticais que se fortalecem mutuamente e tornam a companhia da família Dumoncel muito além da soma entre as três principais áreas separadamente: varejo agrícola, indústria e trading.
“A 3tentos é uma varejista de insumos mais forte devido à sua indústria de esmagamento, e é uma melhor esmagadora de soja devido às suas lojas de varejo”, ressaltaram os analistas.
Ao comercializar insumos, a 3tentos consegue originar soja de forma mais competitiva por meio de instrumentos de barter. Com isso, aufere margens mais atrativas no negócio de revenda assim como na produção de biodiesel e farelo de soja.
Não à toa, a companhia da família Dumoncel bate a rentabilidade dos principais concorrentes em todos os negócios de forma consistente.
No varejo agrícola, a 3tentos operou com um nível de margem bruta sempre acima de 15% nos últimos seis anos, enquanto a Agrogalaxy chegou a registrar margens negativas e a Lavoro, de apenas 5%.
O mesmo se repete no processamento de soja. “A 3tentos tem as melhores margem do setor, provavelmente ajudada por sua boa originação”, escreveu a dupla de analistas do BTG.
Desde o IPO da 3tentos, em 2021, a margem bruta do negócio de industrialização de soja supera os principais concorrentes (Be8, Olfar, Oleoplan e Caramuru), mostram os dados apresentados por Duarte e Guttilla.
A fronteira do milho
A partir do ano que vem, a vantagem proporcionada pela originação de soja também passará a ser possível com o milho graças à fábrica de etanol que a 3tentos está erguendo em Porto Alegre do Norte (MT), destravando um potencial ainda maior para a companhia.
Os analistas do BTG ressaltaram que, além de reforçar o ecossistema da 3tentos — combinando revenda, indústria e trading — o negócio de etanol de milho é um investimento de retorno bastante atrativo.
Pelas estimativas dos analistas, a taxa interna de retorno (TIR) do projeto em Porto Alegre do Norte é de 25% ao ano. Considerando o financiamento do BNDES, que possui juros mais competitivos, a TIR passa de 30%.
Ao que tudo indica, a 3tentos será capaz de ter o paypack da planta de etanol de milho em apenas dois anos. Para chegar a essa conclusão, os analistas do BTG consideraram que o investimento na construção da fábrica saiu por R$ 2,90 por litro de capacidade, ao passo que a margem desse negócio é de R$ 1,4 por litro.
“Dada a vantagem da 3tentos na originação, não ficaríamos surpresos se eles entregarem margens ainda maiores”, destacaram Duarte e Guttilla.
Mais 160 lojas?
Com o ritmo de crescimento que a 3Tentos vem conseguindo executar em Mato Grosso, os analistas do BTG conjecturaram um salto ainda maior no número de revendas agrícolas.
Atualmente, a meta da 3tentos é chegar a 100 lojas em 2030, um salto já substancial comparado às atuais 72 lojas. Antes do IPO, a companhia contava com 48 lojas, à época concentradas no Rio Grande do Sul.
As ambições da 3tentos, no entanto, podem ir além de Mato Grosso e Rio Grande do Sul. “O Brasil cultiva grãos em 12 estados. Nós estamos em apenas dois”, disse um alto executivo da 3tentos aos analistas do BTG em uma recente reunião, sinalizando o potencial da uma expansão geográfica.
Em uma ampliação do raio de atuação, a companhia poderia abrir até 160 novas lojas, nas contas dos analistas — com isso, multiplicaria também a capacidade de originar grãos para industrializar.
Se um cenário ambicioso como esse se concretizar, o upside da 3tentos seria ainda maior que a valorização que já está incorporada nas contas do BTG, agregando nada menos que R$ 35 às ações da companhia.
Atualmente, os analistas do banco têm um preço alvo de R$ 26 para o papel da 3tentos, uma recomendação de compra que embute uma valorização de 77%.
Na B3, a 3tentos está avaliada em R$ 7 bilhões. No ano, os papéis sobem 2,7%.
Para o BTG, as ações podem até sofrer no curto prazo em razão das pressões na margem do farelo de soja, mas a oportunidade de capturar uma companhia que alia crescimento (mais de 30% ao ano) e retorno é singular.
“Pode haver alguma pressão sobre as ações nos próximos meses, mas a história mostr que olhar além da névoa costuma ser a melhor estratégia para a criação de valor a longo prazo”, concluíram os analistas.