Balanço

BrasilAgro segura soja e sacrifica resultado do trimestre

BrasilAgro teve prejuízo de R$ 30 milhões no terceiro trimestre, mas promete melhora no resultado depois de segurar a soja à espera de prêmios melhores

O balanço da BrasilAgro referente ao terceiro trimestre do ano-safra reflete a dor da maior parte dos produtores agrícolas: a combinação de queda nos preços das commodities e do volume produzido resultou em prejuízo. Entre janeiro e março deste ano, o resultado líquido da companhia ficou negativo em R$ 30 milhões, ante uma perda de R$ 3 milhões no mesmo período do ano anterior.

A empresa atualizou sua projeção para a safra 2023/24: agora, espera produzir 323,7 mil toneladas de grãos e algodão, uma queda de 27% em relação à temporada anterior. Além de perdas de produtividade em algumas culturas, a área plantada acabou ficando 8% abaixo do estimado inicialmente, impactando os volumes.

A BrasilAgro deixou de plantar 9,2 mil hectares de milho no Brasil em meio a preços baixos e clima adverso durante a janela de plantio em algumas regiões. A companhia também enfrentou problemas climáticos no Paraguai, onde a área semeada sofreu um corte de 3 mil hectares em relação ao projetado — a empresa possui 58,7 mil hectares no país.

Para se ter uma ideia do impacto da combinação preços e produção em queda nos resultados, a margem bruta das vendas de soja ficou em 8% nos nove primeiros meses do ano-safra, muito abaixo dos 28% reportados um ano antes. Na venda do milho, a BrasilAgro teve margem bruta negativa de 15% — no mesmo período do ano passado, ela foi positiva em 31%.

Diante de resultados tão ruins, a BrasilAgro tomou a decisão de segurar a comercialização da soja que estava sendo colhida nos primeiros meses de 2024.

Em janeiro e fevereiro, quando teve início a colheita, os prêmios da soja nos portos brasileiros chegaram a ser negociados entre US$ 0,60 e US$ 0,80 por bushel negativos, segundo André Guillaumon, CEO da BrasilAgro.

A estratégia da BrasilAgro

Se a empresa aceitasse vender a soja nessas condições, anularia um trabalho bem-sucedido que havia feito em derivativos, com posições vendidas em torno de US$ 13 por bushel —acima dos valores praticados atualmente e nos últimos meses na Bolsa de Chicago.

“Decidimos, então, carregar esse produto para o segundo semestre”, disse Guillaumon a jornalistas. “Vimos os prêmios começarem a se recuperar em abril e maio, e decidimos antecipar a estratégia. Já começamos a vender parte da soja a prêmios positivos”.

Do total de aproximadamente 200 mil toneladas de soja que devem ser colhidas pela BrasilAgro nesta safra, ainda restam cerca de 150 mil toneladas para serem comercializadas, segundo ele.

Mas a estratégia, que promete render bons frutos no próximo trimestre, machucou o último balanço. Os volumes totais vendidos pela empresa caíram 27%, refletindo um recuo de 24% na soja. A receita foi 36% menor, também em função de preços mais baixos.

Além da receita com a venda da soja, o início da colheita da cana deve ajudar o próximo balanço — soja e cana respondem por cerca de 80% do Ebitda da BrasilAgro. No último trimestre, esse indicador desabou 87%.

No próximo trimestre, os resultados também serão beneficiados por um aumento na receita imobiliária. Em março, a BrasilAgro anunciou a venda de 12 mil hectares da Fazenda Chaparral, na Bahia. Depois que a colheita da área for finalizada, a BrasilAgro entregará a fazenda aos compradores, possibilitando que o ganho com a venda da propriedade seja contabilizado no próximo trimestre. O valor nominal da venda foi de R$ 364,5 milhões, o que representa uma TIR (Taxa Interna de Retorno) de 15%.

“Tenho certeza de que no próximo trimestre o mercado vai ficar satisfeito com o nosso resultado”, previu o CEO.

Safra 2024/25

Os executivos também demonstraram otimismo com a próxima safra, cujo orçamento já está sendo desenhado. “Devemos ter uma redução expressiva nos custos de produção, entre 15% e 20%”, disse Guillaumon.

Com a queda nos preços dos fertilizantes e defensivos nos últimos meses, a companhia já começou a tomar posição na compra de insumos, afirmou. Segundo ele, o custo de produção de soja está abaixo de 35 sacos por hectare. “Voltamos para os valores históricos.”

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Em bolsa, a BrasilAgro está avaliada em R$ 2,6 bilhões. Em 12 meses, as ações sobem 9%.