
No número 252 da rua Pará, em Higienópolis (SP), funciona uma das padarias queridinhas do centro de São Paulo. Nascida há cinco anos, a Le Blé ganhou fama pelo portfólio premium de produtos que oferece — que o diga a lotação aos finais de semana. No esforço para manter esse nível de serviço, que exige um quê de exclusividade, os sócios Fábio Pasquale e Martin Jirousek deram um passo ousado: compraram uma fazenda.
“Unimos o útil ao agradável. A gente tem um lugar pra ir e ficar, o que é super prazeroso, e ainda dá dinheiro”, brincou Jirousek, em entrevista ao The AgriBiz.
Apesar de estarem na capital paulista, Jirousek e Pasquale têm uma ligação com o campo, tendo sido colegas na faculdade de Zootecnia. Pouco tempo depois de se formarem, Jirousek foi cursar administração de empresas e, Pasquale, gastronomia — mas a vontade de se aproximar do campo permaneceu.
O desejo virou realidade graças ao processo de verticalização pelo qual a Le Blé passa ao longo dos últimos anos. Hoje, quase toda a charcutaria da padaria é feita de forma proprietária, levando a empresa a processar quase uma tonelada de carne de porco por mês em embutidos. A carne vem de um frigorífico em Capivari (SP).
Na fazenda própria, agora, essa ideia ganha mais força. A propriedade, localizada em Lagoinha (SP), entre Cunha e São Luís do Paraitinga, tem 41 hectares. O dinheiro para comprá-la veio dos próprios sócios.
“Por alguma razão, quando a gente começou a procurar, eu virei pro Fábio e falei para a gente explorar ali o Vale do Paraíba. Eu tenho um quê por essa região… É uma região acidentada, claro, para a agricultura é impossível. Dos 41 hectares, a gente só consegue plantar em 11”, explica Jirousek.
O plantio de milho veio para atender à primeira demanda idealizada pelos sócios: produzir os ovos que a padaria consome. De novembro do ano passado para cá, a Le Blé já colocou ali 1.000 galinhas e vai chegar a 2 mil até o meio do ano que vem.
“A gente quer ter uma produção de mais ou menos 1,2 mil a 1,3 mil ovos por dia, que é o que a gente consome na padaria, entre ovos in natura, pasteurizados, etc”, explica Jirousek.
Hoje, a produção gira em torno de 750 a 800 ovos por dia. Nesse esforço inicial de suprimento próprio, são os próprios sócios que trazem os ovos a São Paulo — em viagens que acontecem, tipicamente, às quartas-feiras. Com o aumento da produção, as viagens devem se tornar mais frequentes.
Por enquanto, trabalham sete pessoas na fazenda, mas o quadro de funcionários deve aumentar à medida que a quantidade de atividades realizadas na propriedade cresce. Para além dos ovos, já existem outros planos que começam a caminhar.
O futuro da fazenda
Os sócios querem, também, um suprimento próprio de laticínios — e, para isso, já têm as certidões necessárias para operar. “Por enquanto, ainda estamos finalizando a sala de ordenha e depois ainda tem de ser feito o compost barn, onde vão ficar as vacas”, frisa Jirousek.
O projeto é ter 72 vacas na fazenda, levando a uma produção de 1,5 mil litros de leite por dia. A produção deve começar em agosto.
“A gente vai trazer o leite, o leite in natura, que aqui a gente usa bastante tanto para o café, que aqui usa leite integral. Depois UHT para as produções, pães, receitas, então todo esse leite a gente vai substituir pelo nosso leite. E a ideia é começar com os queijos de giro mais rápido, que são os que a gente mais consome. Queijo frescal, muçarela, queijo prato, requeijão”, diz o sócio.
Há ainda uma terceira fase do projeto, relacionada à criação de suínos. Esses planos, por enquanto, ainda são um pouco mais distantes, dado o fato de que o município em que a fazenda está não permite fazer o abate do animal.
“Ainda estamos estudando como fazer isso, quais tipos de estabelecimento podem fazer esse tipo de atividade. É uma operação mais complexa, porque eu tenho de criar os porcos, mandar matar em outro lugar, pagar por esse abate e depois pelo processamento da carne”, afirma Jirousek.
Com tanto a fazer — sem contar a rotina da padaria — por enquanto, não há espaço para pensar em novos negócios. “Daqui uns cinco anos a gente pode começar a pensar em alguma coisa”, brinca Jirousek.