Se alguém fizer uma lista dos brasileiros mais engajados na inovação do agronegócio, será impossível não incluir Francisco Jardim, o fundador da SP Ventures. Um dos mais vocais e conhecidos gestores de venture capital que se especializaram em agtechs, Chico — como ele é mais conhecido — ajudou a formar boa parte do ecossistema no País.
Filho de diplomata e natural do Distrito Federal, Chico não nega o DNA. Circula com desenvoltura e traquejo político entre fundadores, investidores brasileiros e gringos. Da recente comitiva do vice-presidente Geraldo Alckmin em Riade, capital da Arábia Saudita, aos principais painéis sobre tecnologia no agro, a presença da SP Ventures é certa.
A personalidade de Chico ajuda a explicar porque a SP Ventures conseguiu reunir tantos empreendedores e investidores — por vezes, concorrentes — para abrir a SP Agtech Week na próxima segunda-feira com o Harvesting Innovation, um evento para mais de 300 pessoas que ocorrerá durante a tarde no Cubo, encravado no bairro da Vila Olímpia.
O Harvesting Innovation terá palestras dos agrônomos Alexandre Mendonça de Barros (MB Agro) e Maurício Palma Nogueira (Athenagro), consultores da primeira prateleira em agricultura e pecuária.
“Os principais fundos do Brasil estarão lá”, ressaltou Chico em uma entrevista de quase uma hora ao The AgriBiz. No painel de VCs, a SP Ventures trará para a mesa os gestores Flávio Zaclis (Barn), Fernando Rodrigues (Rural Ventures), Kieran Gartlan (The Yield Lab), Antonio Moreira Salles (Mandi Ventures) e Bernardo Milesy (Glocal).
Ao conectar investidores e empreendedores, a SP Ventures espera dar uma demonstração de que, apesar do capital mais escasso para os ativos de risco no Brasil — os juros não ajudam —, o ecossistema de inovação do agronegócio está cada vez mais sólido.
Os fundos da SP Ventures
A própria trajetória da SP Ventures ilustra essa evolução. Com cerca de US$ 100 milhões sob administração, a gestora fundada por Chico foi uma das primeiras a se especializar no investimento em agtechs e foodtechs na América Latina.
Nos primeiros anos, quando a gestora levantou seu primeiro fundo (um veículo de R$ 105 milhões que estreou há dez anos), o mercado era pouco desenvolvido. “No primeiro fundo, a gente era basicamente o primeiro ou único investidor em muitos casos”, lembrou Chico.
Na primeira geração de investidas, estão startups como Promip (biológicos), Gênica (biológicos) e Aegro (software de gestão de fazendas). Juntas, as três têm potencial de pagar todo o fundo, considerando a marcação a mercado dos investimentos e as últimas rodadas. E ainda há uma porção de outras startups no fundo, incluindo A de Agro, que acabou de se unir à Bart para criar a Sette, e Agrosmart.
Depois dos primeiros anos como investidor praticamente solitário, a SP Ventures notou a mudança de patamar do mercado no segundo fundo, que levantou US$ 58 milhões em 2020, atraindo investidores como a IFC, o braço de investimentos privados do Banco Mundial.
No segundo fundo, em que estão fintechs como Agrolend e Traive, a gestora não só atraiu cotistas relevantes como passou a fazer co-investimentos com corporações relevantes, incluindo as gigantes Syngenta, Bunge, Minerva Foods, Mosaic, Yara e SLC, entre outros.
Gestoras gringas também co-investiram, incluindo parcerias com Tiger, Valor Capital, Lightrock e Acre. No Brasil, Mago Capital, Maya e Barn estão entre os sócios em algumas das startups.
“No segundo fundo, encontramos sindicatos de investidores espetaculares”, destacou Chico. A evolução do ecossistema também passou pela maturidade dos empreendedores no Brasil. “Há uma mudança estrutural. Vemos empreendedores mais preparados e ambiciosos”, completou.
Nessa toada, o terceiro fundo da SP Ventures — um veículo de US$ 80 milhões ainda em fase de captação — pode se beneficiar do amadurecimento do mercado, aposta Chico.
Em linhas gerais, a tese é a mesma desde o início da firma. “Fintechs e biológicos continuam sendo o carro-chefe”, resume o gestor.
Em retrospectiva, é até possível dizer que Chico assinou o primeiro cheque de um venture capital para biológicos no Brasil. Em 2009, o Criatec (fundo que geria recursos do BNDES e era tocado pelo gestor) investiu na Bug, companhia de macrobiológicos posteriormente vendida à Koppert.
Mal sabia que, do Criatec em diante, o agro nunca sairia de sua vida. O resto é história.
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O Harvesting Innovation abre a semana de eventos para discutir tecnologia no agro. Nos dias 18 e 19, acontece o World Agritech Summit, no Hotel Unique, também na capital paulista. Na quinta-feira, dia 20, a Agrotools promove um evento em São José dos Campos.