
A depender das projeções da safra 2025/26 e do panorama da evolução do greening, divulgados na manhã desta quarta-feira (10) pelo Fundecitrus (Fundo de Defesa da Citricultura), o copo de laranja está meio cheio ou meio vazio, conforme o ângulo do qual se observa.
No lado negativo, o greening cresceu 7,4% em 2025 na comparação com 2024, e derrubou em 2,5% a estimativa de produção na próxima safra.
Segundo o levantamento anual de incidência produzido pela associação que representa os citricultores e as indústrias de suco, o greening agora está presente em 47,63% das laranjeiras do cinturão citrícola de São Paulo e do Triângulo/Sudoeste Mineiro, contra 44,35% no ano passado.
Isso significa que quase 100 milhões de árvores, de um total de 209 milhões no cinturão, estão contaminadas.
Causada por uma bactéria, a principal doença dos cítricos é transmitida por um inseto chamado psilídeo e, até aqui, não tem uma solução definitiva na ciência. Na Flórida, nos Estados Unidos, que já foi um dos maiores polos produtivos, a infestação dizimou mais de 90% da lavoura. E, no Brasil, é uma ameaça existencial.
Como o The AgriBiz trouxe em maio, a disseminação do greening inclusive motiva produtores a migrar para novas áreas, em alguns casos mais longe do epicentro produtivo paulista, como no Mato Grosso do Sul.
No embalo do aumento da doença, a taxa de queda de frutos foi reestimada de 20% em maio para 22%. Segundo o diretor-executivo do Fundecitrus, Juliano Ayres, isso aconteceu porque a severidade média do greening subiu de 19% em 2024 para 22,7% em 2025, reduzindo em 35% o potencial produtivo.
Esse agravamento, de acordo com Ayres, foi o principal fator que reduziu a estimativa anterior da safra, de maio, que apontava para 314,6 milhões de caixas de laranja (de 40,8 kg cada uma), e agora sinaliza 306,74 milhões de caixas.
Mas o greening não foi o único motivo para a redução. Segundo o Fundecitrus, o clima mais frio e seco no inverno e a colheita mais tardia também colaboraram para elevar a projeção de queda prematura de frutos das árvores, que diminui o volume da colheita.
De acordo com dados da Climatempo Meteorologia, a precipitação média acumulada no cinturão citrícola de maio a agosto de 2025 foi de 94 milímetros, 33% a menos do que a média histórica (1991-2020).
Já no segundo ponto, até meados de agosto, apenas 25% da safra havia sido colhida, um ritmo bastante mais lento do que na safra anterior, que já estava em 50% nesse período. Segundo o Fundecitrus, isso aumenta a taxa de queda de frutos, “sobretudo em árvores afetadas pelo greening e submetidas a maior déficit hídrico”.
Ainda no espectro negativo, vale lembrar que a indústria de suco de laranja, a forma pela qual a commodity é exportada pelo Brasil, enfrenta um desafio crônico de queda da demanda.
Na última década, o consumo vem caindo em média 3% ao ano graças a um aumento nos preços — puxado por problemas de oferta, como o greening no Brasil — e a preocupações dos consumidores com o teor de açúcar no produto.
Até aqui, o ajuste na estimativa de safra do Brasil, o principal produtor e exportador global, pode ter se refletido na bolsa de Nova York. Os contratos futuros do suco de laranja congelado e concentrado na ICE, a referência internacional para as negociações da commodity, operam em alta de 1,3%.
Greening desacelera pela segunda vez
No copo meio cheio, como o próprio Fundecitrus já havia sinalizado em maio, o greening desacelerou pelo segundo ano consecutivo.
De acordo com o relatório da entidade sobre a doença, o crescimento anual de 7,4% em 2025 é menor do que os verificados nos anos anteriores, de 16,5% em 2024 e de 55,9% em 2023.
Segundo Renato Bassanezi, pesquisador do Fundecitrus, a redução no ritmo pode ser creditada a um conjunto de fatores.
“O citricultor teve um cuidado maior na escolha das áreas para novos plantios, dando preferência a regiões com menor risco de contaminação, e foi retomada a prática de eliminar árvores doentes com até cinco anos, seguida do replantio imediato. Além disso, registrou-se uma queda muito significativa na população do vetor da bactéria, o psilídeo, em função da qualidade do controle”, explica.
Os números reforçam essa visão: a incidência do greening caiu 51,4% nos pomares de 0 a 2 anos, e diminuiu 17,1% nos pomares de 3 a 5 anos.
Ayres reforça que o greening continua representando o principal obstáculo para a citricultura, exigindo esforço constante e dedicação dos produtores, e o Fundecitrus orienta que o manejo seja adequado à incidência da doença em cada região.
“Os dados mostram que o pacote de controle, quando realizado de forma completa, funciona”, afirmou Ayres.
Vale lembrar que o suco de laranja foi incluído na lista de isenções à sobretaxa de 50% criada pelos Estados Unidos sobre as exportações do País, que poderia impor um custo de R$ 4,4 bilhões ao ano que ameaçava tornar inviável a produção brasileira.