
A geada que abateu cafezais na região do Cerrado mineiro nas madrugadas de 10 e 11 de agosto causou danos maiores do que o imaginado à primeira vista — e tem puxado os preços da commodity para cima.
Segundo Fernando Maximiliano, Coffee Market Intelligence Manager da StoneX, o evento climático é a principal razão para a alta de 17% observada nos contratos para setembro do café arábica na bolsa de Nova York desde o dia 10, data da primeira geada.
A Expocacer (Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado), segunda maior cooperativa de cafeicultores do País, informou ontem que a geada causou impacto direto em 1.173 hectares, o equivalente a 9,13% dos 12.850 hectares monitorados, afetando 67 dos cerca de 750 produtores atendidos.
Segundo a cooperativa, “a possibilidade de perdas pode chegar a pelo menos 412 mil sacas de café na safra 2025/26”. A Expocacer ainda não tem uma estimativa de volume de produção na próxima safra, mas considerando o total comercializado no ano passado pela cooperativa (1,4 milhão de sacas), as perdas potenciais representam 29,4% do total.
Os números são fruto de uma primeira etapa de avaliação por parte dos técnicos da entidade, e o prejuízo pode ser maior: “Equipes permanecem em campo para analisar regiões que, mesmo sem geada visível, foram expostas a baixas temperaturas capazes de afetar o desenvolvimento das plantas”.
Geadas e tarifas no preço
Apesar das preocupações, o dano causado pelas geadas aos cafezais na região da Expocacer pode pesar menos caso se confirmem as previsões de agrometeorologistas, como Marco Antônio dos Santos, da empresa Rural Clima. Ele prevê um ano “relativamente promissor” para os cafezais no Sudeste.
Mas enquanto as perspectivas otimistas não se concretizam, o evento climático empurrou para cima os preços internacionais nos últimos dez dias. “O principal fator para essa alta é a geada. Pegou todo mundo de surpresa, os modelos não conseguiram prever de forma assertiva a ocorrência do fenômeno”, ressaltou Maximiliano, da Stonex.
Além da geada, outros fatores colaboram para elevar os preços, segundo o especialista. Um deles é um sentimento geral no mercado de que a próxima safra brasileira será menor, sob impacto da questão do clima. O outro são as tarifas, que continuam de pé para o café brasileiro, ao contrário do que esperava a indústria cafeeira nos Estados Unidos e no Brasil.
As tarifas têm influência de alta nas cotações internacionais “porque tendem a elevar os preços aos consumidores nos EUA”, destacou o especialista.