Cooperativa

Reestruturação da Languiru assusta cotistas do VGIA11

As cotações do VGIA11 caíram quase 1,9% ontem, com um volume de negociações incomum que beirou os R$ 16 milhões, bem acima da média diária.

Os últimos desdobramentos da reestruturação da endividada cooperativa gaúcha Languiru assustaram os mais de 95 mil investidores do Fiagro da Valora (o VGIA11), provocando uma saída de cotistas do fundo.

As cotações do VGIA11 caíram quase 1,9% ontem, com um volume de negociações incomum que beirou os R$ 16 milhões, bem acima da média diária de R$ 4,3 milhões do fundo.

Os cotistas reagiram às notícias que vinham do Sul dando conta de um suposto pedido de recuperação judicial da Languiru, o que respingaria no patrimônio do Fiagro da Valora. Os CRAs da cooperativa gaúcha respondem por mais de 12% do PL do VGIA11.

Mas nem tudo é o que parecia numa primeira leitura. Apesar das muitas dificuldades financeiras enfrentadas pela Languiru, não se trata-se de uma RJ. Pela legislação, aliás, cooperativas não podem pedir recuperação judicial.

O que a cooperativa conseguiu na Justiça foi uma cautelar que a protege de execuções por 30 dias. A Languiru pediu a proteção contra as execuções porque vinha sofrendo com bloqueios judiciais pedidos por credores desde a semana passada, o que poderia inviabilizar de vez as operações da cooperativa.

“Num fundo listado, tem gente que se assusta e isso influencia no valor da cota, mas não podemos decidir com o estômago”, disse Guilherme Grahl, gestor responsável pelo Fiagro da Valora.


Até agora, a Languiru mantém em dia os pagamentos de juros do CRA detido pelo Fiagro da Valora. A gestora também conseguiu melhorar as garantias do título, incluindo a alienação fiduciária de equipamentos, disse Grahl.

Gestor na sede da Languiru

Por causa da relevância do ativo no portfólio do VGIA11 — um fundo de R$ 821,7 milhões em patrimônio —, Grahl vem mantendo contato frequente com a Languiru. Há duas semanas, visitou Teotônia (RS) para conversar com os dirigentes da cooperativa e entender o processo de reestruturação. “Eles estão fazendo a coisa certa, se protegendo contra execuções”, disse o gestor da Valora.

O gestor elogia a nova gestão da Languiru por ter decidido encerrar as operações do frigorífico de carne suína, saindo de uma atividade em que perdiam dinheiro. “Vão liberar capital de giro e cessar uma atividade que dá prejuízo”, resumiu. A unidade parou no início desta semana.

Com a proteção judicial por um mês assegurada, a Languiru convocou uma assembleia  extraordinária para o dia 18 para obter a autorização dos cooperados para iniciar o processo de liquidação extrajudicial

Deságio nas dívidas?

Aí é que as coisas podem afetar os credores do Fiagro. Na liquidação extrajudicial, a cooperativa estará protegida de execuções por um ano, renovável por igual período. Ao mesmo tempo, a Languiru fará um plano de pagamento aos credores.

Apesar de serem instrumentos diferentes, há semelhanças com a recuperação judicial. No coletiva feita ontem no Rio Grande do Sul, o advogado da cooperativa mencionou a possibilidade de deságio no pagamento das dívidas e prazos diferentes por tipos de credores.

A ideia da Languiru é fazer a liquidação parcial, vendendo ativos como o frigorífico de suínos (que já chegou a atrair o interesse da Seara), o que ajudaria a arrumar as contas e honrar as dívidas. “Nossa leitura é que a liquidação permitirá organizar o processo de desinvestimento”, defendeu o gestor da Valora.

De qualquer forma, uma venda deve demorar. “Você não vai vender o frigorífico de suínos do dia para noite. Isso pode levar 120 dias. Nós estamos correndo contra o tempo”, admitiu Paulo Birck, presidente da Languiru, na entrevista coletiva dada ontem.

Se tudo der certo, a cooperativa seguiria viva com as operações de aves e leite — esta última em parceria com a Lactalis. Enquanto isso não ocorre, é muita incerteza para manter a calma. Haja estômago.