Dupla listagem

Os efeitos da venda do BNDES na assembleia da JBS

Minoritários aumentaram participação na JBS de 30,91% para 32,96%; mudança parece ligeira, mas pode fazer diferença na assembleia que definirá dupla listagem na sexta

A redução da participação do BNDES na JBS, concretizada ontem por meio de um block trade, muda o quórum de acionistas que podem votar na assembleia que vai decidir na sexta-feira sobre a operação de dupla listagem que levará a companhia dos irmãos Batista para a bolsa de Nova York.

Por força de um acordo com a J&F, a BNDESPar já não poderia votar na assembleia. Como costurou uma espécie de seguro que poderá receber caso as ações da JBS não se valorizarem até determinado patamar depois de listadas nos EUA, um benefício que os demais minoritários não possuem, o banco estatal vai se abster.

Os irmãos Wesley e Joesley Batista também não poderão votar, por serem partes interessadas em razão da estrutura de dupla classe de ações que lhes dará mais de 80% do poder de voto. Assim, a decisão sobre a listagem em Nova York ficou a cargo exclusivo dos acionistas minoritários.

Antes da redução da participação do BNDES, os minoritários da JBS perfaziam 30,91% dos papéis em circulação. Agora, com a redução da posição da BNDESPar de 20,23% para 18,18%, os minoritários ficarão com 32,96%.

A mudança parece ligeira, mas pode fazer diferença a depender da forma como os fundos estrangeiros vão votar. Durante uma teleconferência na semana passada, diversos analistas questionaram os executivos da JBS sobre os impactos da recomendação de voto feito por Glass Lewis e ISS, as duas principais consultorias de assembleias.

Conhecidas por atender grandes clientes institucionais, as duas agências recomendaram o voto contrário à dupla listagem da JBS, argumentando que a dupla classe de ações concentraria muito poder nos controladores.

Vale ressaltar que nem sempre as recomendações de Glass Lewis e ISS são seguidas, mas é fato que elas causaram ruído, mesmo com o entusiasmo já demonstrado pelos minoritários — as ações da JBS subiram fortemente a cada avanço do processo de dupla listagem.

Na semana passada, Thiago Bortoluci, do Goldman Sachs, foi um dos analistas que questionou a companhia sobre o impacto da recomendação de Glass Lewis e ISS.

Em resposta, o CFO da companhia, Guilherme Cavalcanti, defendeu a estrutura de dupla classe de ações, lembrando que nada muda no controle da companhia, já que os irmãos Batista já possuem votos suficientes para aprovar qualquer matéria no formato atual (com 48,34% das ações).

Segundo Cavalcanti, a dupla classe de ações dá flexibilidade para um M&A transformacional. Não há nada no radar neste momento, mas faz sentido ter uma estrutura preparada para tal oportunidade, disse. Nesse cenário, a JBS poderia emitir mais ações sem perder o controle.

Na indústria de proteína animal, o controle é crucial, defendeu o executivo da JBS, fazendo alusão — sem menção explícita — às dificuldades que a BRF teve enquanto foi uma companhia de capital pulverizado.  

“Vimos exemplos de competidores nossos, com pessoas brilhantes no board e com management brilhantes que não entendiam do negócio, destruindo valor por muito tempo. No nosso negócio, é muito importante ter um controle definido por gente que entende do negócio, com um track record”, resumiu, citando a experiência bem-sucedida dos Batistas na reestruturação de Swift, Seara e Pilgrim’s Pride.

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A redução da participação do BNDES foi uma mais das transações mais lucrativas para o banco estatal. Com um preço médio de R$ 8,58, o banco registrou uma valorização de praticamente cinco vezes. Ontem, parte relevante dos papéis vendidos pelo BNDES saíram a R$ 43, informou o Brazil Journal.