Arrendamentos

O horizonte promissor das terras para florestas no Brasil

Com retornos estimados em mais de 6% ao ano, investimento em terras para silvicultura já supera valorização de terras para agricultura, segundo a Acres consultoria

Eucalipto

Um novo ator desponta em meio aos altos (e já conhecidos) retornos proporcionados pela valorização de terras agrícolas no Brasil. Embora tenha rendido menos do que as terras destinadas à produção de alimentos nas últimas décadas, as terras para florestas hoje chegam a apresentar rendimentos maiores do que os de terras agrícolas — e perspectivas de ganhos ainda mais atraentes.

Dados compilados pela consultoria Acres com base nas informações da S&P Global mostram que o preço das terras para silvicultura mais do que quadruplicou a longo das últimas décadas. Em 2008, o preço médio de um hectare com vocação para silvicultura estava em torno de R$ 5 mil. Em 2024, atingiu R$ 22 mil.

É uma valorização menor do que a das terras agrícolas? Sim. No mesmo intervalo, considerando uma média nacional de preços para agricultura, a valorização foi de 730%, segundo a consultoria. Mas o horizonte é bastante promissor diante do desenvolvimento de projetos ligados à celulose, de etanol de milho e para conversão de pastagens degradadas.

“Se nós considerarmos o caso de uma fazenda adquirida por R$ 22 mil por hectare e arrendada para silvicultura por R$ 1,5 mil por hectare ao ano, valores compatíveis com o mercado, temos um yield bruto de 6,8% ao ano, bem acima de culturas agrícolas tradicionais”, afirma Daniel Meireles, sócio-diretor da Acres, ao The AgriBiz.

Nas contas da consultoria, os arrendamentos para cana-de-açúcar rendem hoje em torno de 4% ao ano e, para grãos, como soja e milho, cerca de 2% a 3% ao ano, dado o preço já em patamares mais elevados das terras agrícolas de primeira linha.

Outra característica do arrendamento de terras para silvicultura é a menor volatilidade. “Diferentemente de arrendamentos agrícolas que podem oscilar, com valores ligados à porcentagem da produtividade ou preço de commodities, os contratos florestais costumam ser de longo prazo e corrigidos por índice”, lembra Meireles.

A expectativa de altos retornos, em um mercado mais estável, vem movimentando investidores institucionais ao longo dos últimos anos. No ano passado, por exemplo, a Vinci comprou a Lacan Ativos Reais, gestora que tinha R$ 1,5 bilhão focada somente em florestas.

Outras gestoras focadas nesse nicho (chamadas de Timberland Investment Management Organization) são a Copa Investimentos, um spin-off da Claritas — que foca em fundos de private equity para florestas — e a asset do BTG Pactual, com o Timberland Investment Group (TIG), que reúne US$ 7,3 bilhões em ativos e mais de 1,1 milhão de hectares nos Estados Unidos e América Latina.

Outros fundos que chegaram a comprar terras no Brasil na década passada foram o Hancock Natural Resource Group e a Brookfield.

“Hoje, as nossas estimativas são de que os fundos têm R$ 16 bilhões em valor florestal sob gestão no Brasil. Há dez anos, eram R$ 2,6 bilhões em florestas, um crescimento que vem tanto de novas aquisições como da valorização dos ativos”, detalha Meireles.

O papel das grandes empresas

Além dos fundos, que tiveram seu ritmo de aquisições desacelerado com a reinterpretação da norma que rege a posse de terras por estrangeiros, os compradores mais óbvios e em maior escala para esse tipo de terras continuam sendo as grandes empresas de papel e celulose.

“Dada a concorrência de um mercado altamente competitivo, inclusive com o etanol de milho, a Suzano não tem como depender do spot. Existe um aumento da demanda por biomassa, mas quem mais planta madeira ainda são os players de celulose”, diz Fabian Bruzon, gerente executivo de operações florestais da Suzano.

Em 2023, por exemplo, a Suzano comprou 70 mil hectares em Mato Grosso do Sul que estavam nas mãos de fundos (operados pela Bracell e pelo BTG) por R$ 2,1 bilhões. A companhia, junto às concorrentes, movimentou todo o estado ao longo dos últimos anos, com a região já sendo apelidada de “Vale da Celulose”.

No ano passado, a companhia dos Feffer inaugurou em Ribas do Rio Pardo (MS) a maior fábrica de celulose do mundo, que demanda um abastecimento de quase 600 mil hectares de eucalipto. Em 2025, a chilena Arauco anunciou também uma fábrica no estado, que vai demandar um suprimento de 400 mil hectares de florestas.

Além de aquisições, para garantir a matéria-prima as grandes empresas do setor, como a Suzano e a Eldorado, trabalham com uma série de contratos junto com os produtores. A compra de terras não é uma prioridade para ambas as companhias, principalmente visando a relação com as comunidades do entorno.

Há uma preferência por arrendamentos (tipicamente, contratos de 15 anos) e parcerias em programas de fomento florestal. “A compra de terras existe, mas não é o grande motor, vai depender muito de cada empresa e do perfil. Nós focamos muito no fomento, para justamente distribuir a renda na região a partir das florestas”, explica Bruzon.

A produtividade acompanha

Dados compilados pelo Ibá (Indústria Brasileira de Árvores) apontam que o Brasil tem de 10 milhões a 11 milhões de hectares de florestas plantadas. Só no ano passado, a área plantada expandiu 234 mil hectares, dos quais 187 mil estavam no Mato Grosso do Sul.

Mais do que um aumento de área, há um aumento de tecnologia. “Na década de 1970, a produtividade média no País era de 10 metros cúbicos por hectare ano. Em cinco décadas, subiu para 33 metros cúbicos. O mundo não tem nada igual. Isso é ciência, não tem ninguém que tenha superado o Brasil”, explica Paulo Hartung, presidente da Ibá.

Com o aumento da demanda, áreas antes dedicadas somente à pecuária ganharam um novo contorno, que vem impulsionando os preços na região. De acordo com os dados compilados pela Acres, em Três Lagoas (MS) — onde já operam grandes fábricas de celulose desde a década passada, a valorização das terras para pecuária supera os 20%.

“O eucalipto vai para áreas marginais do cultivo de grãos. Terrenos ondulados, por exemplo… o eucalipto aceita mais desaforo do que outras culturas”, explica Bruzon, da Suzano.

O plantio de eucalipto normalmente é feito em linha, com uma variação de distância entre as plantas de 9 a 12 metros quadrados. Em geral, são ciclos de sete anos, tornando o Brasil um campeão de prazo (curto) em relação aos pares na América Latina, África e Europa.

“O eucalipto, que é uma das madeiras mais plantadas no Brasil, tem origem na Austrália, mas se deu muito bem por aqui. São mais de 600 espécies”, lembra Germano Vieira, diretor florestal da Eldorado Brasil. Cada novo clone demora, em média, 14 anos para ser descoberto.

Cerca de 20% de tudo que é produzido fica no campo — num benefício para aumento da matéria orgânica no solo. O foco em sustentabilidade é uma prioridade para as grandes empresas do setor.

“Tem muito menos químico sendo usado. Nós soltamos, todos os dias, por exemplo, um tubinho com um drone, que contém um inimigo natural das pragas. Nosso principal desafio são as pragas exóticas, de outros países, que chegam a cada um ano e meio”, explica Vieira.