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De Pelotas ao Cerrado, Acres ganha espaço no trilionário mercado de terras

Liderado por Daniel Meireles, braço de intermediação imobiliária da Safras&Cifras já assessorou mais de R$ 1,5 bi em transações neste ano

Fazenda Acres terras

Eraí Maggi, Eduardo Logemann, Elizeu Scheffer e Itamar Locks. A lista de sulistas que desbravaram o Cerrado, ajudando a construir a mais dinâmica agricultura tropical do mundo, é gigantesca.

Por trás desses nomes mais conhecidos, há uma rede que vai muito além do grandes produtores rurais, envolvendo consultores, agrônomos e corretores que participaram ativamente dos bastidores dessa revolução.

Uma dessas figuras é o professor Cilotér Borges Iribarrem, um engenheiro agrônomo que mudou a forma como os produtores rurais encaravam as consultorias de gestão rural na década de 1990, no tempo em que muitos precisavam de auxílio para gerir os custos no País da inflação galopante.

A partir de Pelotas, no Rio Grande do Sul, o empresário fundou a Safras&Cifras e a transformou em uma referência em assessoria, contabilidade e planejamento patrimonial, espraiando as operações da consultoria pelo Cerrado — região onde a firma obtém a maior parte do faturamento.

Atualmente, a consultoria já atende mais de 4,5 mil clientes a partir de escritórios espalhados palas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, mas Iribarrem quer dar novos saltos.

Da consultoria à operação imobiliária

Depois consolidar a consultoria sob a forma de uma partnership que conta com mais de 30 sócios, Safras&Cifras está desbravando o trilionário mercado brasileiro de terras. A estratégia começou a tomar corpo há sete anos, quando a consultoria criou a Acres, um braço especializado para atuar em terras.

O embrião da Acres surgiu com as experiências acumuladas na Safras&Cifras, que por diversas vezes ajudou a intermediar negócios de terras envolvendo clientes da própria consultoria.

Com o tempo, o grupo percebeu que poderia extrair mais valor de uma operação independente, atendendo clientes para fora da consultoria e muito além das fronteiras do Rio Grande do Sul.

Para tocar essa nova fase da Acres, a Safras&Cifras reforçou o time. Em 2021, recrutou Daniel Meireles, um gaúcho de Bagé que havia fundado uma butique de assessoria em investimentos rurais — a Argos.

“O que fizemos foi virar a chave. Estruturamos um modelo com governança própria, equipe multidisciplinar e foco nacional. A Acres passou a ser tratada como um negócio autônomo, com ambição de estar entre os principais operadores do Brasil”, contou Meireles.

Ao lado de Meireles, está Sandro Elias, engenheiro agrônomo e um dos sócios mais antigos da Safras&Cifras. Consultor de empresas rurais há mais de duas décadas, Elias navega com desenvoltura por assuntos com a tributação no mercado de terras e gestão patrimonial, uma competência fundamental para Acres, disse Meireles.

Com essa estrutura, o braço de terras criado na Safras&Cifras vem mudando de escala, se espalhando pelo Brasil e participando de algumas das maiores transações do mercado brasileiro de terras.

Só neste ano, a firma assessorou produtores rurais em transações que superam R$ 1,5 bilhão. A maior delas ocorreu em Mato Grosso, envolvendo um grande produtor de grãos — por sigilo contratual, o nome não é público.

“Não é só vender fazenda”

Para Meireles, os resultados da Acres dependem de uma “visão multidisciplinar” que envolve do planejamento estratégico à modelagem financeiro, indo além da intermediação de fazendas típica da atividade de corretagem.

“Nossa atuação não é só vender fazendas. É estruturar negócios de alto valor agregado, com profundidade técnica, visão de longo prazo e confiança mútua entre as partes”, repete Meireles.

Neste momento, as transações no mercado de terras estão marcadas pela reestruturações necessárias para equilibrar a estrutura de capital dos produtores, reduzindo a alavancagem.

“Sempre haverá quem vende por não querer ficar no negócio, divisões internas,  mas o que move o mercado hoje é a necessidade de liquidez. Muitos produtores estão reestruturando passivos acumulados nos anos de bonança”, ressaltou.

Do lado do comprador, o crédito caro também é um desafio, apesar do potencial de valorização das terras brasileiras. “Se você olhar no curto prazo, a Selic é um limitador. É difícil competir com o Tesouro. No longo prazo, no entanto, poucos ativos se valorizaram tanto quanto a terra”.