Pesticides

A escassez de crédito e o aperto de margens do produtor de soja provocaram um atraso raras vezes visto nas compras de defensivos agrícolas, expondo os desafios a que revendas e indústrias de insumos estão expostas na safra 2025/26.

Em uma teleconferência com investidores na manhã desta segunda-feira, o CEO da Agrogalaxy, Eron Martins, disse que, quando o assunto é defensivo, esta é a safra mais atrasada dos últimos cinco anos.

O executivo já havia abordado o tema na sexta-feira à noite, em uma entrevista a jornalistas para comentar o balanço da Agrogalaxy no segundo trimestre. “O produtor está sendo bastante econômico na contratação do pacote de defensivos”, afirmou Martins.

O atraso nas compras foi traduzido em números pela consultoria Agrinvest. Até 12 de outubro, os produtores de soja só haviam comprado 79% do pacote de defensivos para a safra, abaixo da média de 88% das quatro safras anteriores.

Parte dessa explicação pode estar na comercialização antecipada, que está bastante atrasada. Dados do Imea (Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária) mostram que 31% da safra 2025/26 já foi vendida no Mato Grosso — patamar bastante inferior aos 40% dos últimos cinco anos nesse período.

O comportamento “da mão para boca” também se traduz numa redução do pacote tecnológico. Segundo o CEO da Agrogalaxy, uma parcela dos produtores que comprou defensivos via barter o fez apenas para uma aplicação e meia ao invés das três ou quatro usuais.

A expectativa é que esses sojicultores só voltem às compras de defensivos se as chuvas exigirem novas aplicações para combater pragas. “Isso vai fazer com que ele compre na base do repique”, explicou Martins.

Para as revendas, compras de última hora — os repiques, no jargão setorial — não são necessariamente ruins, até porque embutem margens mais gordas.

A questão é que, em tempos de pressão sob o capital de giro (especialmente para um negócio que aprovou um plano de recuperação judicial recentemente), a gestão de estoques fica mais conservadora.

Neste momento, a Agrogalaxy trabalha com um nível de estoque de 15% a 20% da demanda projetada para a safra, uma redução frente ao nível de 35% que era o padrão antes das dificuldades financeiras.

“É um nível justo, fruto da RJ, mas também mais saudável de capital de giro. Há que se lembrar também que as margens do produtor continuam abaixo de um dígito na soja e no milho”, ponderou Martins.