Fazenda Itaúba, do Grupo Biancon, adota integração lavoura e pecuária e práticas de agricultura regenerativa | Crédito: Karina Souza
Fazenda Itaúba, do Grupo Biancon, adota integração lavoura e pecuária e práticas de agricultura regenerativa | Crédito: Karina Souza

ITAÚBA (MT) – Em Itaúba, município que fica a 100 quilômetros de Sinop, no Mato Grosso, o Grupo Biancon decidiu se aventurar pelo universo da agricultura regenerativa há cinco anos.

Com quatro fazendas próprias, a empresa — comandada pelos irmãos Gerson, Igor e Ivan — arrendou, em 2020, uma fazenda de 22 mil hectares, onde mantém uma produção integrada de lavoura e pecuária. Deu tão certo que eles querem aumentar a aposta.

Quando a família arrendou a propriedade, eram cultivados 3 mil hectares de soja, sendo os demais 8 mil hectares destinados à pastagem — ainda havia muita área fechada, além da área de preservação permanente (APP).

Hoje, a fazenda tem 7 mil hectares de lavoura e outros 4 mil dedicados à pastagem, onde estão reunidas 8 mil cabeças de gado (eram 2 mil em 2020, considerando cria, recria e engorda). Existem ainda 1,5 mil hectares de integração lavoura-pecuária — na safra, o grupo cultiva soja e, no inverno, braquiária.

O Grupo Biancon foi o primeiro contemplado pelo programa Reverte, uma parceria entre a Syngenta e o Itaú BBA, hoje um dos maiores programas de financiamento à agricultura regenerativa do País.

Criado em 2019, o programa já atendeu mais de 200 mil hectares e destinou mais de R$ 2 bilhões em financiamentos para atividades como essa.

No caso dos Biancon, o financiamento veio, em 2020, para converter 4 mil hectares de pasto em agricultura, num empréstimo de cerca de US$ 500 por hectare, segundo Igor Biancon, sócio da empresa.

No programa, as operações têm três anos de carência — um fator relevante para os investimentos visando a conversão de áreas degradadas. Ao todo, as operações podem chegar a até dez anos de prazo (contando com a carência).

Nesse intervalo, os Biancon já colheram resultados. Em toda a fazenda, o grupo planta soja, milho e algodão. Para se ter ideia dos volumes, são comercializadas 1,5 milhão de sacas de soja, 1,3 milhão de sacas de milho e 18 mil toneladas de pluma a cada safra.

“Integração lavoura-pecuária rentabiliza melhor a área como um todo”, diz Igor Biancon, sócio do grupo

“Nessas áreas mais arenosas, a integração rentabiliza melhor a área como um todo. Primeiro porque eu consigo fazer uma safrinha melhor do que a de milho, porque as áreas perdem muita umidade rápido. Você ganha ali duas, três arrobas no boi por hectare na safrinha e depois vem para o confinamento terminar a engorda. Com isso, rentabiliza melhor do que com grão”, explica Igor.

Além dos ganhos com pecuária, há resultados também na lavoura seguinte. Nas áreas de integração, com mais matéria orgânica no solo — braquiária e as fezes dos bois — os ganhos de produtividade chegam a sete, oito sacas por hectare, de acordo com o sócio. Na média, nessas áreas, a família colhe de 55 a 57 sacos de soja por hectare.

Agora, a meta é crescer ainda mais. “Queremos chegar a 15 mil bois nos próximos cinco anos. Basicamente, crescer duas mil cabeças por ano”, diz Igor.

Adubação orgânica para aumentar margens

O foco é verticalizar cada vez mais a produção. Hoje, o grupo já usa os resíduos do milho para o confinamento, bem como o caroço do algodão. Nas demais unidades, o grupo já trabalha, inclusive, com compostagem.

“Também estamos comprando cama de frango (adubo orgânico). Para a soja, a compostagem tem entregado resultados mais interessantes. Já para a safrinha de algodão ou milho, a cama de frango entrega mais, porque é rica em nitrogênio”, explica David Signor, engenheiro agrônomo do grupo.

Na Fazenda Itaúba, integração lavoura-pecuária ajuda a rentabilizar melhor a área como um todo
Fazenda Itaúba foi a primeira beneficiária do programa Reverte, que financia conversão de pasto degradado em lavoura

A adubação orgânica é um foco do grupo para aumentar as margens e reduzir a dependência de fertilizantes químicos, que vêm principalmente de fora do Brasil.

O grupo não é o único a pensar assim. Prova disso é que o preço da cama de frango na região saltou de R$ 180 por tonelada, há cinco anos, para R$ 450 atualmente.

“Somos muito cautelosos em falar que vamos cortar 100% do mineral. Mas, áreas em que começamos a trabalhar com adubação orgânica há dois anos já tiveram uma redução de 15% na adubação mineral. Isso dá um custo final interessante, já que reduz em 3% a 5% o custo de produção por ano, chegando até a 12% em algumas das nossas áreas”, explica Signor.

A empresa começou a adubação orgânica há dois anos, com a maior área sendo feita no ano passado, totalizando 1,8 mil hectares na fazenda Itaúba. Neste ano, o grupo estendeu a estratégia para mais três fazendas, principalmente nas áreas marginais, que precisam de um aumento maior de produtividade que pode ser proporcionado pela adubação orgânica.

Ao todo, o grupo planta 45 mil hectares entre safra e safrinha (24 mil hectares de soja na safra de verão e outros 20 mil a 21 mil na safrinha). São ao todo cinco fazendas: Caeté (Lucas do Rio Verde), Índio Possesso (Itabaporã — o nome vem de um córrego que nasce dentro da fazenda), Colorado (Nova Canã do Norte), Fortaleza (Itanhangá) e a fazenda Itaúba.

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A jornalista viajou a convite da Syngenta e do Itaú BBA