
As indústrias de etanol de milho vão passar pelo seu primeiro ano de teste, segundo Marcos Rubin, fundador da Veeries, empresa de inteligência de mercado. O aumento contínuo e significativo na oferta vai ajudar a derrubar os preços do biocombustível no próximo ano — e pode atrasar alguns projetos anunciados recentemente.
Além das 24 usinas de etanol de milho em operação no País, 16 plantas já foram autorizadas e outras 17 foram anunciadas, segundo a Unem (União Nacional do Etanol de Milho). Nas contas da Veeries, de 70% a 75% do volume de etanol previsto nesses projetos está relacionado a players já estabelecidos, como as grandes indústrias de etanol de milho ou tradings agrícolas que querem entrar nesse mercado.
O restante — aproximadamente 25% dos projetos — foi anunciado por grupos regionais ou novatos, “que talvez não tenham a mesma estrutura corporativa por trás”, segundo Rubin.
Na safra 2025/26, a produção de etanol de milho deve se aproximar de 10 bilhões de litros, ante 8,2 bilhões de litros em 2024/25, segundo a Unem. O aumento da oferta, aliado ao menor preço do petróleo, deve pressionar os preços do biocombustível. Com isso, a taxa de retorno dos projetos de etanol de milho pode mudar, o que pode ser insustentável para alguns grupos em tempos de juros altos.
“Talvez um ou outro projeto não aconteça”, avaliou Rubin durante entrevista ao videocast Raiz do Negócio, uma parceria entre The AgriBiz e Infomoney.
Por outro lado, a maior parte das usinas previstas são de empresas que têm um projeto de longo prazo e estrutura de capital mais sólida, lembrou. É possível que a instalação dessas unidades até atrase em função de margens mais apertadas, mas uma coisa é certa: a tendência é de expansão.
“Entendemos que este é um setor já sólido e que tende a crescer. Talvez não cresça tanto quanto a gente enxerga hoje, mas vai continuar sólido e crescendo. Isso não quer dizer a prova de qualquer margem”, acrescentou.
As margens em 2026
Rubin é otimista em relação ao tamanho da próxima safra de soja, mas isso não se repete nas perspectivas para a renda do produtor. A Veeries estima que a área plantada com a oleaginosa tenha crescido 2%, o que pode ser interpretado como um forte indício de que a crise no setor não é generalizada.
“A última grande crise que o agronegócio teve foi em 2005, uma convergência de preços baixos, quebra de safra e chegada da ferrugem asiática no Brasil. Lá, a área plantada de soja caiu entre 10% e 15% ao longo de dois anos. Aquilo sim foi uma crise estrutural que pegou todo mundo”, lembrou.
No cenário atual, há dois grupos de produtores. Aqueles que fizeram altos investimentos durante o período de alta das commodities, durante a pandemia, estão numa situação de alta alavancagem e agora precisam renegociar as dívidas — alguns casos evoluindo para a inadimplência ou até recuperação judicial.
“Mas muitos produtores conseguiram construir uma poupança durante o período de preços altos e agora continuam crescendo, investindo e aumentando a área no seu ritmo”, disse Rubin. “É fato que existe uma crise, houve exagero por parte de vários produtores. Mas é errado generalizar.”
Com condições climáticas favoráveis, o Brasil deve colher mais uma grande safra de soja. “É difícil imaginar o preço da soja subindo ou a situação de margem do produtor mudando muito em relação a 2025 com o tamanho de safra que temos no radar”, afirmou.
Assim, a margem bruta do produtor de soja em 2026 deve ficar muito parecida com o registrado neste ano, em torno de 35%. “Para o grupo de produtores que está em dificuldade, o mais do mesmo talvez não seja suficiente. Ainda será um ano desafiador, na nossa visão.”
Milho safrinha
A Veeries está bastante otimista com a intenção de plantio para o milho safrinha, estimando um aumento de 5% na área, enquanto a Conab e outras consultorias esperam um incremento mais próximo de 4%. Apesar do atraso na instalação da soja, Rubin diz que a janela apertada de plantio para o milho safrinha não é uma preocupação.
No balanço entre as regiões que tiveram atraso significativo no plantio da soja e as que não tiveram problema, o calendário para o milho safrinha, neste ano, está melhor do que no ano passado, disse. “A questão é que no ano passado tivemos uma produtividade recorde porque as chuvas se alongaram. Agora temos que aguardar.”
Confira a entrevista completa de Marcos Rubin aqui.