Há esperança para a carne bovina brasileira nos Estados Unidos. A percepção é de Gilberto Tomazoni, CEO global da JBS, a maior empresa de proteína animal do mundo — e a principal produtora de carne dos Estados Unidos.
“As negociações ainda não terminaram. Teve um número significativo de produtos que passaram pela exceção. Antes de entrar a tarifa, o governo brasileiro deve estar negociando e pode ser que a carne seja incluída nesse conjunto”, disse Tomazoni em entrevista ao Raiz do Negócio, videocast realizado por uma parceria entre The AgriBiz e Infomoney. “Eu ainda acredito que as negociações vão avançar e vamos chegar num bom termo”, completou.
A análise de Tomazoni ocorre em meio à crescente pressão de importadores de carne bovina nos Estados Unidos que tem alertado o governo de Donald Trump sobre o risco de aumento de preços. O rebanho nos Estados Unidos é o menor em pelo menos 50 anos, levando o preço da carne bovina para níveis recordes.
Foi o baixo ciclo pecuário, inclusive, que levou as importações de carne bovina do Brasil, pelos Estados Unidos, a disparar nos últimos anos. Hoje, o país de Trump já é o segundo principal destino da carne do Brasil, atrás apenas da China.
Se não houver acordo e a tarifa adicional for mantida, as exportações para os Estados Unidos se tornam inviáveis, na avaliação da Abiec (Associação das Indústrias Exportadoras de Carne).
Tomazoni reconhece que a carne brasileira “perde muita competitividade” nesse cenário, mas disse que ainda é cedo para afirmar se será possível manter pelo menos parte dos embarques aos Estados Unidos.
“É difícil saber agora se ainda vai dar para exportar ou não. Vai depender do tipo de produto que vai exportar, de vários fatores que não dá para conjecturar agora. Mas vamos supor que a tarifa fique: ela prejudica muito a competitividade brasileira”, afirmou.
Fora de uma pequena cota de 65 mil toneladas, que é preenchida nos primeiros meses do ano, a carne brasileira já á taxada em 26,5% nos Estados Unidos. Em abril, passou a pagar mais 10%, na primeira leva do tarifaço de Trump. Com os 40% adicionais, a tarifa de importação vai a 76,5%.
O caminho natural são os exportadores brasileiros buscarem outros destinos. Na JBS, a plataforma diversificada de produção deve garantir um menor impacto comparando com o restante do mercado.
“(A tarifa) pode ser relevante para uma planta ou outra. Mas, globalmente, temos trabalhado na diversificação. Construímos uma plataforma diversificada não só por proteína, mas também geográfica, para reduzir a volatilidade dos nossos resultados”, afirmou o CEO.
Com operação em diferentes segmentos e em 20 países, a JBS não mitiga apenas riscos tarifários, mas também geopolíticos, sanitários e os próprios ciclos naturais das atividades.
Tomazoni citou como exemplo o momento atual: enquanto as margens dos frigoríficos nos Estados Unidos estão negativas por conta da escassez de gado, o negócio de carne de frango tem sido bastante rentável, contribuindo para tornar o resultado global mais resiliente.
Gripe aviária
No Brasil, no entanto, o cenário se tornou mais desafiador após o registro do primeiro caso de influenza aviária em granja comercial, em maio deste ano.
Apesar de a Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) ter reconhecido o Brasil como livre do vírus da gripe aviária há cerca de um mês, as empresas brasileiras continuam impedidas de exportar carne de frango para a China e para a União Europeia, dois de seus principais clientes.
Questionado sobre a demora na reabertura dos mercados, Tomazoni diz não ter respostas específicas sobre as razões de cada importador para manter o embargo.
“A gente espera que a qualquer momento esses mercados voltem a autorizar as importações, até porque o Brasil fez um ótimo trabalho na gestão da gripe aviária, com bastante transparência”, disse.
Russel em 2026?
Na entrevista exclusiva ao Raiz do Negócio, Tomazoni falou sobre a nova fase da JBS, que estreou na bolsa de Nova York em junho. Com a listagem de suas ações na bolsa americana, a JBS busca um re-rating no valor de suas ações, que são negociadas com descontos relevantes em relação aos seus pares no mercado internacional.
Nesse contexto, a JBS busca ampliar a sua base de investidores. Para isso, ingressar nos principais índices de ações é fundamental. Segundo Tomazoni, mais da metade do volume negociado hoje na bolsa de Nova York ocorre por meio dos índices de ações.
“Esperamos participar do Russell no ano que vem”, indicou Tomazoni em referência ao Russel 1000, que possui um valor de mercado combinado de US$ 10 trilhões. “Já temos todas as condições necessárias para estar no Russell, é uma questão de tempo.”
A companhia também vai trabalhar para ingressar no S&P500, um índice com mais de US$ 13 trilhões de capitalização. “Não podemos precisar quando é que a gente vai entrar. Mas nós vamos trabalhar para estar nos dois índices. Com isso, a companhia vai poder ter condições de ter uma valorização semelhante ao que tem os nossos peers”, disse.
Confira a entrevista completa de Gilberto Tomazoni aqui.