Menos de dois anos bastaram para que Antonio Carlos Zem, o biólogo que liderou a construção da Biotrop, fosse picado novamente pela “formiguinha do empreendedorismo”, como ele mesmo diz. Em março deste ano, depois de um acordo com os belgas da Biofirst, a holding que hoje controla a Biotrop, Zem se afastou do cargo de CEO da empresa de biológicos para se dedicar a um novo projeto.
Para os que conhecem Zem, a sua formação e paixão não deixam dúvidas sobre o perfil do negócio. “Evidentemente, eu não vou competir com a Biotrop, então não estou entrando no biológico tradicional. Estou no que chamo de espaço adjacente do biológico, com especialidades”, revelou o empreendedor serial em entrevista ao Raiz do Negócio, videocast realizado por uma parceria entre The AgriBiz e Infomoney.
A área de energia está no centro da estratégia da nova empresa de Zem, a BioVirtus. No portfólio, um dos destaques é o protetor solar para plantas. “Eu acredito muito nesse desbalanço climático que estamos tendo. Proteção solar de plantas é um negócio importante”, disse Zem, lembrando que, com a expansão agrícola para o Mapito e Rondônia, as culturas estão mais próximas à região do Equador, o que exige mais cuidado.
A BioVirtus já lançou o primeiro produto nessa linha, a base mineral. “Está vendendo muito, andando bem”, disse. A empresa também está avaliando outras duas tecnologias com protetor solar transparente para cultivos que sofrem mais com “golpes de sol”, como frutas. Aliás, Zem, aos 74 anos, também é produtor de uva e manga.
“Mas a soja e o milho também sofrem muito com esse problema. Vemos a folha de soja enrolar, chega a carquilhar, secar. Então estamos fazendo as primeiras vendas para a soja e vamos ver o resultado”, contou.
Outra frente de pesquisa da BioVirtus está no desenvolvimento de soluções para concentrar espectros de luz que são mais favoráveis à fotossíntese.
“Se tivermos produtos que possam aumentar a capacidade fotossintética e o conforto térmico das plantas, teremos plantas muito mais produtivas”, explicou o empresário. “Os primeiros resultados são muito atrativos. Eu diria que hoje temos 70% de sucesso nesse segmento.”
Algas marinhas e extratos botânicos também estão no radar da Bio Virtus, que pode seguir o caminho da Biotrop: encontrar um investidor para acelerar o crescimento. “Eu estou aberto à tecnologia. Estamos licenciando produtos de fora, de terceiros, pensando também, em um futuro não muito distante, ter produção nossa e acelerar esse processo. E, talvez, para acelerar esse processo, vou ter que trazer investidores”, disse.
Recuperação em 2026
Para Zem, que vê as atuais dificuldades do setor de insumos como parte de um ciclo de baixa, a recuperação deve começar em julho de 2026. No entanto, o empresário, que durante décadas trabalhou na indústria de químicos — 38 anos só na FMC, onde foi presidente —, vê a necessidade de adequações na cadeia.
Com a falta de inovação e o aumento da concorrência no mercado de insumos, principalmente pela invasão dos genéricos, as multinacionais de químicos estão enfrentando dificuldades para atingir suas metas e “têm que entender que não podem mais operar no modelo antigo”, avalia Zem.
O segmento de distribuição, por sua vez, também em dificuldades, “não pode trabalhar preço a qualquer custo, às vezes aceitando o estoque das multinacionais para compensar com rebate, prêmios etc”, acrescentou. “No final do dia, o dinheiro não vem e o negócio não se sustenta.”
Na avaliação de Zem, as revendas precisam impor a sua força às multinacionais. “Os distribuidores têm que entender que são imprescindíveis para as empresas. Não basta ter tecnologia e registro. Se você não tiver um acesso de mercado eficiente e que leve o seu produto ao consumidor final, você não tem sucesso”, disse.
Para que o mercado volte a ser saudável, a multinacional tem que zelar pela margem de seu cliente (o distribuidor), que tem que zelar pelo sucesso do agricultor, resumiu Zem.
“Não pode distorcer isso, e nós temos distorção. O desejo de fazer números, ser bonitinho em Wall Street. Mas depois o problema vem, e aí tem que ser o diabinho lá em Wall Street, porque tem que assumir os problemas.”
A virada dos biológicos
Assim como todo o setor de insumos, o mercado de biológicos está sentindo a crise. “Continua crescendo, mas perdeu aquele vigor”, disse. Mas, com inovações, o vigor deve voltar — e é o grau de inovação que vai definir as empresas que vão permanecer e liderar esse mercado.
“Muitas empresas de biológicos floresceram e continuam aí baseadas no que eu chamo de primeira geração. Os que ficarem na primeira geração vão perder valor. Tem novas empresas entrando e as margens vão erodir.”
Para ele, a próxima grande virada nesse mercado virá com o lançamento de um bioherbicida eficiente, por um custo compatível. Segundo ele, “há duas ou três empresas”, incluindo a Biotrop, avançando nesse produto. “Ele vai ser a grande virada desse mercado.”
“Eu espero que, nos próximos cinco ou seis anos, nós tenhamos a grande virada, em que os biológicos serão maiores do que os defensivos químicos em valor de mercado”, afirmou.
Assista a entrevista completa de Antonio Carlos Zem aqui.