
Em abril deste ano, a Mantiqueira trazia oficialmente para dentro de casa a maior empresa de proteínas do mundo. A JBS passava a deter 50% da empresa fundada por Leandro Pinto, estreando no mercado de ovos ao lado da maior do setor no Brasil. Seis meses depois, a parceria de velhos conhecidos está se mostrando melhor do que a encomenda.
“Seis meses depois dessa sociedade concluída, eu vejo que o que a JBS traz para a Mantiqueira se tornar uma empresa global é muito forte”, disse Leandro Pinto, fundador da Mantiqueira, em entrevista ao videocast Raiz do Negócio, uma parceria entre Infomoney e The AgriBiz. “A estrutura que tem por trás, as pessoas, a disponibilidade que existe para nos apoiar nesse sonho grande é uma coisa sensacional.”
No dia a dia, não há interferência da JBS na operação da Mantiqueira. “A empresa continua sendo a mesma Mantiqueira de 1º de abril para trás. Eles nos deixam a vontade para tocar e fazer o melhor, tendo a estratégia alinhada com eles”, afirmou o empresário.
A JBS tem três membros no conselho de administração da Mantiqueira: Wesley Batista, um dos acionistas da JBS, Gilberto Tomazoni, CEO global, e Guilherme Cavalcanti, o CFO. A Mantiqueira também tem três cadeiras, ocupadas por Alexandre Figliolino, que fez carreira na área de agro do Itaú BBA, Márcio Utsch, o CEO da Mantiqueira, e pelo próprio Leandro Pinto, que preside o conselho.
“A gente tem que resolver as coisas por consenso, porque não tem maioria. Apesar de ser presidente do conselho, eu não tenho voto de decisão. A gente alinha a estratégia e é muito fácil tocar com eles. É pelo WhatsApp: resolve, vamos, faz, acelera, pisa no freio.”
A intimidade não é de hoje. Pinto é fornecedor de gado para frigoríficos da JBS há mais de 20 anos. “Tinha sempre uma brincadeira entre nós, de fazer um bife a cavalo”, brincou o empresário, numa referência ao bife grelhado servido com um ovo frio por cima.
“É uma história que foi sendo construída ao longo de muitos anos, não foi uma coisa decidida num rompante. Foi pensado, estruturado”, revelou Pinto, que costurou a transação diretamente com Wesley Batista.
Entre as principais ambições dessa sociedade está a conquista do mercado norte-americano, o primeiro alvo fora do Brasil. “É lá onde as coisas acontecem, são simples, fáceis… Tem uma analogia que o Wesley (Batista) faz que ter negócio nos Estados Unidos é como remar canoa abaixo. Diferente do Brasil, onde a gente rema contra a correnteza.”
Leandro revelou que seu filho, Murilo Pinto, está nos Estados Unidos e vai comandar a expansão da Mantiqueira por lá. “Não tem nada fechado, nada resolvido, mas toda hora estamos analisando oportunidades”, disse. Além de aquisições, o fundador da Mantiqueira disse que a expansão também será orgânica, com a construção de novas plantas. “Tem que estar primeiro alinhado à nossa estratégia.”
“Proteína natural”
Por enquanto, no mercado interno, a Mantiqueira trabalha para surfar a onda da proteína adicionada, que tem sido chamada de “proteinificação”. Com o slogan “naturalmente proteico”, a empresa lançou recentemente uma campanha de marketing, com inserções em rádio e na internet, para atrair quem deseja aumentar a ingestão de proteína.
“Há 30 anos, o ovo era o condenado. Hoje eu brinco que ele foi absolvido por 11 a zero pelo Supremo”, brincou Pinto.
Além da busca por alimentos mais saudáveis, a crescente popularidade de medicamentos visando o emagrecimento tem estimulado o consumo do ovo, a exemplo de outras proteínas.
“Esses remédios para emagrecimento acabam tirando a fome. E, sem fome, você precisa do que? De uma coisa simples, de pouca quantidade e que te dê os nutrientes que você precisa. E o ovo ocupou esse lugar de uma forma sensacional”, afirmou.
Cada brasileiro deve consumir 288 ovos em 2025, em média, um aumento de 7% em relação ao ano passado, segundo estimativa da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal). Com isso, o Brasil, que produz quase 2 mil ovos por segundo, entrará para a lista dos dez maiores consumidores per capita do mundo, onde a demanda também cresce.
Segundo Pinto, estudos indicam que o consumo mundial de ovos crescerá 22% nos próximos dez anos, ou seja, 2,2% ao ano.
Confira a entrevista completa de Leandro Pinto aqui.