200 mil hectares

O ambicioso plano da ADM para agricultura regenerativa

Projeto piloto terá Bayer como parceiro técnico; ADM quer conectar o produtor à indústria de alimentos

A ADM e a Bayer, duas das maiores empresas globais com atuação no agro, vão trabalhar em conjunto para promover práticas de agricultura regenerativa no Brasil. O projeto piloto, encabeçado pela ADM, começa na safra atual em 20 mil hectares de soja. Em dois anos, a meta é multiplicar esse número por dez, segundo Luciano Souza, diretor de grãos da ADM.

“Podemos escalar de forma muito rápida e superar 200 mil hectares em dois anos”, Souza disse ao The Agribiz, lembrando que a ADM opera com mais de 10 mil produtores agrícolas no Brasil.

A empresa norte-americana vai bancar os custos do projeto, cujo valor não foi divulgado. A Bayer será o parceiro técnico, atuando principalmente no cálculo de emissão de gases de efeito estufa nos talhões participantes do projeto piloto —os 20 mil hectares iniciais estão distribuídos em dois mil produtores de Minas Gerais e Mato Grosso do Sul.

Boa parte deles já adota algum tipo de prática de agricultura regenerativa, como plantio direto, cobertura de solo ou uso integrado de insumos biológicos e tradicionais. A ideia do programa é intensificá-las, promover a adoção de novas práticas e medir os resultados. “Precisamos ter documentadas todas essas práticas de manejo para que a gente consiga, no final, levar os resultados às indústrias de alimentos”, afirmou Souza.

Nesse primeiro momento, não haverá incentivo financeiro para que o produtor opte pela agricultura regenerativa. Por outro lado, a ADM não vai exigir do produtor exclusividade na comercialização da soja. O objetivo é que os resultados do projeto piloto estimulem as indústrias —clientes da ADM— a oferecer um prêmio pela produção mais sustentável.

“Temos o desafio de conectar o produtor rural à indústria de alimentos e ao consumidor”, disse André Germanos, gerente de negócios de carbono e agricultura regenerativa da ADM.

Grandes indústrias de alimentos, como a Nestlé e a PepsiCo, já divulgaram metas globais de agricultura regenerativa. Programas como o recém-lançado pela ADM podem ajudá-las a atingir esse objetivo ambiental com agilidade e transparência.

Calculadora de emissões

Cada talhão participante do programa terá calculada a emissão de gases de efeito estufa proveniente de sua produção agrícola. Para isso, será utilizada uma calculadora desenvolvida pela Bayer e pela Embrapa para a agricultura tropical brasileira.

No primeiro ano, serão coletados dados primários de emissões como consumo de combustível, água e insumos. No segundo ano, será feita uma análise da matéria orgânica no solo para analisar, entre outros fatores, sequestro de carbono.

“Haverá uma espécie de competição do produtor com ele mesmo”, disse Germanos. À medida que ele vê um aumento na produtividade com menos necessidade de insumos nos talhões em que foi adotada agricultura regenerativa, o produtor vai acabar aumentando a proporção da produção mais sustentável em relação ao todo. Daí a segurança da ADM em escalar rapidamente o programa.

O que é agricultura regenerativa?

É um termo usado para um conjunto de práticas agrícolas sustentáveis que focam na saúde do solo. O resultado almejado é um solo com uma estrutura melhor, mais resiliente, fértil, que retém e absorve mais umidade e retém mais carbono, segundo Germanos. “Na agricultura regenerativa, o solo fornece melhores insumos para o que está sendo plantado ali e faz com que ocorra menor incidência de pragas”, completou.

No fim do dia, é a busca por produzir mais sem expandir a área e com menos impactos ambientais. “É um tema da moda, mas não é moda”, disse Germanos. “Esse tema aflorou recentemente, mas trata-se de refinar e intensificar muitas práticas que já fazemos.Precisamos intensificar isso, medir e divulgar”.

A ADM já tem programas de agricultura regenerativa na Europa e nos Estados Unidos, onde essas práticas foram implementadas em 2 milhões de acres (800 mil hectares) com o apoio da companhia.