
O clima mudou — literal e figurativamente. As mudanças de temperatura, cada vez mais pronunciadas ao redor do mundo, estão ocupando um protagonismo inédito na percepção dos agricultores sobre seus principais desafios no dia a dia.
As mudanças climáticas foram apontadas como o principal risco que pode levar os negócios de produtores rurais à falência, apontou uma pesquisa realizada pelo Boston Consulting Group e divulgada nesta terça-feira (24).
Ao questionar 1,3 mil produtores rurais em todo o Brasil, metade dos entrevistados colocou o clima como uma preocupação para a continuação de suas atividades — um patamar quase isolado em relação aos demais tópicos. No segundo lugar, aparece, por exemplo, a falta de conhecimento, com 17% das respostas e, em terceiro, a economia num sentido mais amplo, com 16%.
Ao analisar o grupo inteiro, o BCG mostra que a principal preocupação dos produtores está ligada a secas prolongadas — mas, regionalmente, outros aspectos relacionados ao clima despontam.
Produtores no Rio Grande do Sul, por exemplo, estão significativamente mais preocupados com enchentes, por exemplo, do que a média do País, numa diferença de 24 pontos percentuais. Da mesma forma, queimadas são uma preocupação muito maior no centro-oeste do que em outras regiões (numa diferença de 19 p.p).
“Apenas 14% dos produtores veem a sustentabilidade como um fator-chave para o sucesso dos negócios, um ponto que sugere que muitos produtores ainda olham para esse risco de forma reativa. É uma resposta que coloca uma lupa na distância entre a conscientização de que o risco existe e a formulação de uma estratégia”, destaca Lucas Moino, sócio do BCG, ao The AgriBiz.
Há uma saída?
A principal aposta dos produtores para lidar com esse desafio está no conhecimento. Esse é o principal motivo que acreditam que levará seus negócios a prosperarem nos próximos anos, elencado por 17% dos entrevistados. Tecnologia também ocupa um espaço central (15%) e valores — como a fé e a família — aparecem em seguida.
A maior parte dos produtores procura ativamente por formas de melhorar suas operações, sendo que 76% deles procuram ativamente por mudanças na forma como operam. O ponto é, claro, a discrepância na tomada de risco: metade está disposta a tomá-los, mas 39% evitam risco a qualquer custo.
Apesar de cautelosos, os produtores brasileiros não ficam atrás de um de seus principais competidores globais na adoção de tecnologias. Agricultores daqui, em média, adotaram 3 tipos de tecnologias nos últimos três anos, comparados a 2,8 tipos de tecnologia nos Estados Unidos.
O tipo de investimento é que varia de forma mais pronunciada. Nos EUA, a agricultura de precisão é muito mais difundida do que aqui (42% dos produtores de lá, ante 23% daqui). Mas, no Brasil, a adoção de biológicos abre uma ampla vantagem (58% aqui e 40% lá).
Produzir mais — e comprar terra quando der
A ambição central de todo esse uso de tecnologia é, no fim das contas, o aumento de produtividade. Entre expandir para novas terras ou aumentar a produção nas áreas já ocupadas, 49% dos entrevistados preferem a segunda opção. Entre os médios e pequenos produtores, o percentual passa da metade.
Ou seja, isso não significa que o apetite para compra de terras tenha diminuído. Na análise geral, 42% dos produtores querem combinar a expansão territorial ao aumento de produtividade e outros 9% priorizam apenas a expansão territorial.
“Os principais motivos pelos quais produtores afirmam querer comprar mais terras estão relacionados à perspectiva de crescimento dos negócios, melhora da rotação de solo e a uma perspectiva de aumento do preço da terra”, diz Moino.