Meteorologia

Chuva enfraquece na segunda metade de abril, e milho no Paraná preocupa

Precipitação abaixo da média pode afetar desenvolvimento do milho em parte do Paraná, Mato Grosso do Sul e São Paulo, que já enfrenta longo período de chuva irregular

Lavoura de milho em estágio inicial | Crédito: Schutterstock

A chuva voltou a enfraquecer sobre o Brasil nos últimos sete dias. A maior parte do país recebeu um acumulado inferior ao normal.

A exceção ficou por conta da Região Nordeste que, apesar da presença do fenômeno El Niño, vem recebendo chuva forte por uma compensação da água quente do oceano Atlântico. O acumulado passou dos 250mm em alguns municípios do Vale do São Francisco, região produtora de uva, cultura que vem sendo castigada pela maior umidade e incidência de doenças.

No Rio Grande do Norte e no Ceará, o acumulado oscilou entre 50mm e 100mm. Embora não tenha sido extremo, a elevada frequência de precipitação paralisa as atividades de colheita do melão.

Enquanto a região Nordeste recebe uma chuva acima do normal, parte dos Estados de Mato Grosso do Sul, de São Paulo e do Paraná enfrenta um longo período com precipitações irregulares. No sul de Mato Grosso do Sul, muitos municípios fecharam o mês de março com pelo menos 20 dias consecutivos sem chuva.

Déficit hídrico

Os boletins de monitoramento semanal das condições das lavouras da Conab vêm indicando, frequentemente, problemas com o desenvolvimento da segunda safra de milho por conta déficit hídrico. No oeste e norte do Paraná, a cultura já está em floração e enchimento de grãos, enquanto no centro e sudoeste de São Paulo e no sul de Mato Grosso do Sul ainda existem áreas em emergência e nenhum talhão entrou em enchimento de grãos.

As simulações mostram cada vez mais claramente a diminuição da precipitação especialmente sobre as Regiões Sudeste e Centro-Oeste. A entrada de uma onda de frio declinará a temperatura em meados de abril. Não há previsão de nenhuma queda de temperatura suficiente para danos em lavouras, como geadas. Porém, quando há entrada de ondas de frio no início do outono, a atmosfera torna-se muito seca e a chuva posteriormente acontece de forma mais irregular e com menor acumulado.

Justamente, no decorrer da segunda quinzena de abril e na primeira metade de maio, choverá menos que o normal em boa parte das regiões Sudeste e Centro-Oeste, além de vizinhos próximos, como o norte do Paraná e o Estado de Rondônia.

Para áreas que já passam por estiagem atualmente (Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná), a notícia de enfraquecimento da precipitação em uma data próxima aumenta a preocupação com o desenvolvimento da segunda safra.

Seca na “caixa d’água”

Parte do Triângulo Mineiro, região de Ituiutaba, teve o pior trimestre de chuva em pelo menos quatro décadas, segundo informações do CPTEC/INPE.

Os meses de dezembro de 2023, janeiro e fevereiro de 2024 registraram um acumulado de 400mm, apenas metade do normal para época do ano. Foi o menor acumulado observado desde pelo menos o fim de 1980 e início de 1981, batendo, inclusive, secas históricas, como a registrada no início de 2014.

A estiagem trouxe um impacto significativo na soja que foi instalada de forma mais precoce. Além disso, embora a atual umidade do solo esteja mais elevada, também houve atraso no desenvolvimento da cana-de-açúcar da região.

Um outro setor que merecerá monitoramento nos próximos meses é o de geração de energia elétrica no Brasil. A região do Triângulo Mineiro faz parte da chamada “caixa d’água”, com a presença de grandes reservatórios e usinas de geração de energia. O nível dos reservatórios está mais baixo que o observado ano passado e a tendência é de queda nos próximos meses, já que acabamos de entrar no outono.

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Celso Oliveira, colunista de The AgriBiz, é especialista em clima e tempo da Safira Energia. Atua há mais de 20 anos em previsões climáticas para a agricultura.