Freio da Selic

Anfavea prevê estagnação nas vendas de máquinas agrícolas

Em 2024, as vendas de máquinas agrícolas caíram quase 20%, um reflexo das margens apertadas na produção de grãos e do alto custo de capital

Plantio de soja John Deere máquinas agrícolas

Depois de um ano tenebroso para a indústria de máquinas agrícolas, com demissões nos maiores fabricantes e retração de quase 20% nas vendas, 2025 não traz um diagnóstico lá muito otimista. Na melhor das hipóteses, a indústria brasileira ficará estagnada.

Pelas projeções divulgadas nesta quinta-feira pela Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), o volume de vendas de máquinas agrícolas deve andar de lado.

A associação projeta que as vendas de máquinas agrícolas no mercado brasileiro fiquem em 48,9 mil máquinas dentro do Brasil ao longo do ano, volume baixo e semelhante ao registrado no ano passado. No mercado externo, as vendas de máquinas agrícolas produzidas em solo brasileiro foram projetadas em 6,1 mil unidades.

Esse volume significa que o baixo patamar de vendas de colheitadeiras também vai se manter, o que impacta de forma significativa o faturamento das fabricantes, uma vez que as colheitadeiras têm um tíquete médio mais elevado do que os tratores.

No ano passado, as vendas de colheitadeiras caíram pela metade, somando 3,3 mil unidades, o patamar mais baixo dos últimos cinco anos. No mesmo período, as vendas de tratores no Brasil tiveram uma queda muito menos expressiva, em torno de 15%, somando 45,6 mil unidades.

“No caso dos tratores, a maior queda veio dos veículos de alta potência. Na agricultura familiar, que tem taxas de juros mais atrativas, em torno de 5,5% ao ano, houve até um certo crescimento, mas mais concentrado em tratores menores, em torno de 80 cavalos. Isso reforça quanto as vendas estão diretamente ligadas às taxas de juros”, argumentou Alexandre Bernardes, vice-presidente da Anfavea, em entrevista coletiva.

Para a Anfavea, o custo de capital — com a Selic nas alturas — trava o mercado de máquinas agrícolas. “Não adianta ter um mercado forte em crescimento em grãos, se a taxa de juros não for atrativa. Sem custo atrativo, nós não conseguimos colocar máquinas em volumes representativos no mercado”, argumentou Márcio Leite, presidente da Anfavea.

Para o dirigente, a criação de novas alternativas de financiamento dentro do Plano Safra — algo que parece improvável diante das restrições ficais — poderia ajudar a destravar as vendas de máquinas. “Sem o Plano Safra, a alternativa para comprar máquinas é o CDC, justamente atrelado à Selic”, lamentou Bernardes.

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O custo de capital está longe de ser a única razão para o desempenho das vendas de máquinas agrícolas. A compressão das margens na produção global de grãos ocupa um papel crucial nesse cenário.

Não à toa, as fabricantes de máquinas agrícolas não sofreram apenas no Brasil. As demissões também chegaram aos Estados Unidos, onde a icônica John Deere amargou resultados fracos.