
Os benefícios da entrada do BTG Pactual no bloco de controle da Cosan vão além da solução para a estrutura de capital da conglomerado de Rubens Ometto, que vinha sofrendo com um endividamento excessivo herdado da aposta errada que fez na Vale e, claro, do aperto monetário representado pela Selic a 15% ao ano.
Ao reduzir a dívida em quase 60% com a injeção de R$ 10 bilhões do consórcio liderado pelo banco de André Esteves e pela gestora Perfin, a Cosan abre uma janela para a reprecificação das companhias listadas controladas pela holding de Ometto. Neste cenário, a maior beneficiária deve ser a Rumo.
Elo crucial para a logística do agronegócio, a operadora ferroviária sofreu um baque na bolsa por problemas relacionados à própria dinâmica comercial do negócio logístico, como a frustração com os preços do frete, mas isso apenas não explicava todo o movimento (queda de 28% em doze meses).
A situação da Cosan também vinha pesando sobre a Rumo, segundo alguns dos mais respeitados gestores de ações do País. Em junho, por exemplo, a operadora ferroviária anunciou um dividendo extraordinário de R$ 1,5 bilhão que foi mal-recebido pelo mercado, especialmente porque a Rumo está em meio de um ciclo de investimentos significativo.
“A situação do grupo que exerce controle na companhia aparenta estar influenciando em sua alocação de recursos, sejam estes humanos ou financeiros — com a troca de membros da administração em meio aos projetos de ciclo longo e pagamentos de dividendos dissonantes com os compromissos de investimentos e alavancagem financeira da empresa”, escreveu a Squadra, gestora de Guilherme Aché, em sua carta mais recente aos investidores.
Para outro gestor, o dividendos de fato deram uma mensagem ruim. “Antecipar distribuição de dividendos não é problema nenhum. Mas a companhia nunca fez, e faz no momento em que o controlador estava precisando de grana. A leitura de todo mundo é que fez isso para ajudar a Cosan”.
A chegada do BTG, no entanto, muda a perspectiva. “Se o André Esteves for o dono da Rumo, certamente o papel vai ser reprecificado para cima”, argumentou outro gestor, antes do anúncio oficial da transação.
No pregão de segunda-feira (22 de setembro), os primeiros impactos do aumento de capital da Cosan serão sentidos nas ações da holding e das controladas — Rumo, é claro, e também Raízen, companhia que vem sofrendo com uma estrutura de capital desequilibrada.
No caso do grupo sucroalcooleiro, no entanto, a solução para o endividamento ainda depende de terceiros. A Cosan já sinalizou que não vai participar do aumento de capital da Raízen, e manteve essa mensagem mesmo após o acordo com o BTG Pactual. A solução deve ficar com Shell e um novo investidor — Mitsubishi e Mitsui estão entre os cotados. (Colaborou Luiz Henrique Mendes)