No fim de semana passado (10 de março), se iniciou o período do Ramadã, nome dado ao nono mês do calendário lunar seguido pela religião islâmica e o mês em que Alá revelou o livro sagrado do Alcorão aos muçulmanos.
Este período é tradicionalmente utilizado por aqueles que professam a fé muçulmana para a reflexão e estreitamento dos laços com Deus e com as pessoas.
Entre as ações mais visíveis durante este mês sagrado está o jejum alimentar, praticado entre o nascer e o por do sol (maghrib, em árabe), que é seguido pela quebra do jejum tão logo o sol se põe e que, em árabe, é chamado de iftar, momento este no qual há o congraçamento coletivo em torno de uma mesa de refeições, geralmente reunindo familiares e amigos e também gerando solidariedade com os menos favorecidos.
Em suma, o consumo de alimentos dispara durante o mês sagrado.
Ao longo de nossas trajetórias profissionais já fomos convidados para alguns iftares, seja pela comunidade muçulmana residente no Brasil como também em países que eventualmente visitávamos nesta época sagrada. Definitivamente uma experiência de vida.
Manter laços comerciais com praticamente todos os países de maioria muçulmana no mundo há exatos cinquenta anos nos dá o privilégio de aprender as tradições culturais e religiosas dessa civilização milenar.
E aqui vale ressaltar o papel do Brasil, que ganha destaque ainda maior durante o Ramadã. Desde o ano de 1974, que inclusive coincide com a primeira exportação feita por nosso país, enviamos carne de frango halal, isto é, seguindo rigorosamente os preceitos da religião islâmica, para os países de maioria muçulmana.
Como referência, apenas neste século XXI, exportamos mais de 38 milhões de toneladas de carne de frango halal, sendo que historicamente os meses que antecedem o Ramadã são aqueles em que os volumes exportados são os maiores. Não foi diferente este ano e possivelmente não será nos próximos anos.
Existe toda uma preparação das autoridades e dos stakeholders envolvidos com a distribuição de alimentos localmente para que não falte qualquer tipo de alimento durante este período e a carne de frango seguramente é dos itens mais consumidos. Tendo isso em conta, nós aqui no Brasil também fazemos nossos planejamentos de produção e exportação para garantir que haja disponibilidade de produto suficiente neste momento tão importante para os muçulmanos.
A parceria, que vai além da simples questão comercial, tem ganhado força ao longo dos últimos meses não apenas pela questão do já tradicional Ramadã, mas também durante todo o ano, independentemente da religião professada ou de questões políticas. Mostramos, mais uma vez, que as populações da região podem sempre confiar no Brasil como parceiro no quesito proteína animal de qualidade, acessível e sustentável.
Nos últimos meses, por exemplo, aumentamos nossa exportação em 28% para os Emirados Árabes Unidos, cada vez mais próximos da primeira colocação no ranking dos principais compradores e um dos hubs para outros países da região.
Isso sem dizer nos expressivos aumentos de volume neste ano para o Catar e o Coveite, acima dos 50% e nos constantes aumentos desde o ano passado para o Iraque.
No que depender do Brasil, jamais faltará a tão tradicional carne de frango brasileira nos iftares. Nem nos demais momentos do dia a dia dos muçulmanos. E não só carne de frango, porque temos visto ao longo dos últimos tempos expressivos aumentos também nas exportações de ovos e carne de pato para a região.
Ramadan Mubarak!
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Ricardo Santin, colunista de The AgriBiz, é presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). Luis Rua, coautor deste artigo, é diretor de mercados da ABPA.