Marcelo Altieri, CEO da Yara no Brasil

BELÉM (PA) — O mercado brasileiro de fertilizantes deve crescer neste ano, com os agricultores investindo para repor os nutrientes do solo depois de uma colheita recorde. Mas a foto não é a mesma no País todo, o que torna a safra 2025/26, que está sendo plantada, desafiadora. A análise é de Marcelo Altieri, CEO da Yara no Brasil.

“O Mato Grosso é espetacular. O Centro do Brasil e o Sudeste também vão bem. Mas, quando vamos para o Sul, aparecem mais desafios. O Rio Grande do Sul foi muito afetado pelo clima nas últimas quatro safras, com secas seguidas de enchentes. E somos mais fortes lá. A Yara tem a sua principal planta no estado e o agricultor gaúcho é nosso parceiro”, disse Altieri ao The AgriBiz em Belém, onde participa da COP30.


Em comum a todas as regiões do Brasil, está o crédito restrito. “Você vai colocando um problema em cima do outro e vê que, no final das contas, vai ser uma safra desafiadora”, disse. “O produtor está brigando para ter rentabilidade.”

O CEO mencionou os baixos preços dos grãos, pressionados por estoques mundiais elevados. “Mas eu acredito fortemente na resiliência do agricultor brasileiro. Acho que a safra do ano que vem não vai ser muito diferente da anterior”, disse, em alusão ao tamanho da colheita.

Fertilizante de baixo carbono

Na COP30, a Yara tem apresentado cases de produção agrícola com menor pegada de carbono, como o café lower carbon produzido por um cooperado da Cooxupé. A Yara forneceu o fertilizante renovável, possibilitando uma redução de 40% na pegada de carbono do produto, em comparação com a média nacional.

Para produzir o fertilizante renovável (no caso, amônia renovável), a Yara substitui o gás natural (energia fóssil) por outras fontes renováveis. Em sua planta de Cubatão (SP), a Yara produz a amônia renovável a partir de biometano, reduzindo as emissões de carbono em 75% em comparação com a amônia derivada do combustível fóssil.

A empresa já tem parcerias em outras cadeias para a produção de alimentos com menor pegada de carbono. A Yara fornece amônia renovável para a Barry Callebaut, que abastece produtores de cacau na Bahia, e anunciou recentemente um acordo de fornecimento do insumo para produtores de batata da PepsiCo.

No caso do cacau, além de resultar em aumentos significativos de produtividade, as emissões de CO2 por tonelada de amêndoa produzida caíram 40%, segundo testes realizados em lavouras demonstrativas. Na batata, a redução varia entre 40% a 66%.

Os projetos são uma grande vitrine para demonstrar o potencial que a substituição do gás natural por uma fonte renovável na fabricação de fertilizantes pode ter na pegada de carbono de produtos agrícolas. Mas dar escala à produção é um grande desafio.

O entrave do custo

“Para fazer esse café [de baixo carbono], o fertilizante teve que ser importado porque a disponibilidade de produto local ainda não é muita”, disse Altieri. A Yara precisou importar da Noruega amônia de baixo carbono produzido a partir de biometano na Noruega.

Segundo o executivo, é preciso gerar escala para ter biometano mais competitivo, pois os custos ainda são altos. E, para ele, quem deve pagar essa conta é o consumidor.

“Não temos que convencer o produtor, nem a indústria de alimentos. Isso tem que ser uma prioridade para o consumidor. Ele é que tem que fazer a escolha de comprar um café com menor impacto ambiental para o mundo. Toda a cadeia tem que trabalhar junto para desenvolver esse mercado”, disse.

“A mudança climática é um problema de todo mundo, de todas as pessoas. Então é uma consciência que nós temos que ter. E o agricultor é a peça chave aqui. Todos os nossos sistemas alimentares se sustentam em 20 centímetros de solo. Quem cuida desses 20 centímetros de solo é o agricultor. Então o agricultor tem que receber uma recompensa por cuidar desse solo”, defendeu.

A compensação por boas práticas agrícolas, aliás, tem sido um dos temas mais levantados pelo agro na COP. “Temos que entender que quem cuida dos nossos recursos, quem cuida da nossa segurança alimentar, quem cuida do nosso planeta, tem que ter um tratamento diferente e não tem que ser aquele que paga. O melhor seguro para a mudança climática está no solo. Então acho que temos que ter essa consciência, explicar às pessoas a importância de, na hora de fazer uma escolha em um produto ou outro, escolher um produto sustentável”, finalizou.