Insumos

Das minas de Israel ao fertilizante especial: ICL quer mais M&As no Brasil

Desde que colocou as especialidades no centro da estratégia, companhia israelense fez três aquisições no país: Fertiláqua, Produquímica e Nitro 1000

Alfredo Kber, principal executivo da ICL no Brasil
“O mercado vai se consolidar e queremos ser um desses agentes consolidadores”, disse Alberto Kober, CEO da ICL na América do Sul

Há cinco anos, quando a israelense ICL decidiu apostar as fichas no mercado de fertilizantes especiais em busca de margens mais atrativas, o Brasil ganhou espaço na companhia, numa aposta de longo prazo que não só resistiu às turbulências do mercado brasileiro de insumos como promete se intensificar.

Desde que colocou as especialidades no centro da estratégia, a ICL fez três aquisições no Brasil, e continua prospectando M&As. “Continuamos com apetite para aquisições. Estamos olhando tudo o que vier pela frente”, contou Alfredo Kober, o principal executivo da ICL no País.

Globalmente, o Brasil é o maior mercado da ICL. Mesmo com a retração do mercado nacional de insumos nos últimos dois anos, o País ainda foi responsável por 18% das vendas, à frente de Estados Unidos e China. Ao todo, a companhia israelense fez US$ 1,2 bilhões em receita no Brasil em 2024.

Com 30 anos de estrada no mercado de insumo agrícolas, e passagens por players como Yara e Bayer, Kober não deixa dúvidas das ambições da ICL no Brasil — e reconhece os desafios.

“Muitas empresas não vão ter a capacidade de renovação tecnológica para acompanhar o que está acontecendo. O mercado vai se consolidar e queremos ser um desses agentes consolidadores”, disse ele durante uma conversa com jornalistas nesta quarta-feira. “O nosso desafio é manter essa posição de liderança”.

Atualmente, há mais de 800 empresas no segmento de especialidades, de acordo com Kober. Por isso, a consolidação será inevitável, disse.

No Brasil, a ICL já é uma das maiores companhias de fertilizantes especiais, uma posição conquistada por meio de aquisições, com investimentos que já ultrapassaram a casa dos US$ 270 milhões (o equivalente a R$ 1,5 bilhão, considerando a atual cotação da dólar).

Para ganhar musculatura no mercado brasileiro, a ICL desembolsou US$ 120 milhões para adquirir a Fertiláqua, empresa de nutrição especial de plantas então controlada pelo Aqua Capital, em 2020. No ano seguinte, foi a vez da Produquímica, que veio com a aquisição da Compass Minerals na América do Sul por cerca de US$ 120 milhões. No ano passado, a ICL comprou a Nitro 1000, companhia paranaense de inoculantes, por US$ 30 milhões.

Não é só aquisição

Além de continuar crescendo por aquisições, a estratégia da ICL para a América Latina passa por lançar novos produtos e melhorar a penetração de mercado com o portfólio atual — o que significa trazer mais agricultores para o mercado de especialidades, que hoje é acessado por apenas metade dos produtores brasileiros.

Na a safra 2025/26, a ICL espera crescer acima da média do mercado de fertilizantes foliares, que tem crescido aproximadamente 25% ao ano, segundo o executivo da companhia.

Para atrair o produtor, especialmente num momento de crédito escasso, Kober diz que a companhia tem reforçado as operações de barter e aposta nos lançamentos.

Além de dois fertilizantes especiais, a ICL oferecerá à sua atual base de clientes uma ferramenta digital para análise nutricional das folhas em tempo real, batizada de NutroScan. A ideia é antecipar a identificação de problemas em 30 dias, para recomendar os produtos de nutrição e manejo adequado o quanto antes.

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Listada na bolsa de Tel-Aviv, em Israel, a ICL está avaliada em US$ 9 bilhões. Com forte atuação em fertilizantes, a companhia possui minas de potássio e fostato e extrai bromo do Mar Morto.

Embora venha crescendo com os fertilizantes especiais, a companhia controlada pelo bilionário israelense Idan Ofer ainda bastante é forte em nutrientes tradicionais. A ICL possui 5% do mercado global de potássio, só atrás das gigantes Nutrien (20%), Mosaic (14%), Belaruskali (14%), Uralkali (14%) e Eurochem (5%).

No ano passado, a divisão de potássio foi responsável por 24% das vendas da ICL e quase 30% do lucro operacional. No Brasil, a ICL vende potássio apenas no mercado B2B. Já o negócio de soluções à base de fostato representou 32% da vendas, e 41% do lucro. A divisão agrícola da ICL, que é conhecida como growing solutions e abarca os fertilizantes especiais da companhia, fez 29% da receita, mas apenas 15% do lucro.