Insumos

Crise de crédito atrasa vendas e entregas de fertilizantes

10% das vendas esperadas para a safra de soja ainda não aconteceram; distribuidores seguram fertilizantes nos armazéns enquanto aguardam garantias, diz Mosaic

Crise de crédito trava o mercado de fertilizantes

A crise de crédito que se instalou no agronegócio brasileiro está causando um gargalo na entrega dos fertilizantes para a safra de soja, que começa a ser plantada neste mês. E pode, no limite, reduzir a aplicação de nutrientes no solo. O alerta é de Eduardo Monteiro, country manager da Mosaic e presidente da Anda (Associação Nacional para Difusão de Adubos).

Da demanda potencial de fertilizantes para a safra de soja, ainda faltam 10% para serem vendidos — o normal, para essa época do ano, é ter a comercialização de fertilizantes praticamente concluída para a soja.

A explicação para o atraso é simples: “Falta financiamento no campo”, diz Monteiro.

“Há uma grande dúvida do quanto desses 10% ainda vão rodar. Muitos agricultores que estão vindo negociar não têm tido os seus créditos aprovados, seja nos bancos, seja na distribuição”, complementa Gabriel Gimeno, diretor de distribuição sênior da Mosaic.

A comercialização está mais atrasada no Rio Grande do Sul, onde os produtores enfrentam problemas ainda maiores no acesso ao crédito devido às renegociações de safras anteriores, impactadas por problemas climáticos. Lá, entre 30% e 35% ainda não foram comercializados.

No limite, existe um risco de o produtor aplicar menos tecnologia do que gostaria por falta de acesso ao crédito. “Acreditávamos que havia potencial para a entrega de 49 milhões de toneladas de fertilizantes em 2025, mas a melhor estimativa, neste momento, gira ao redor de 47 milhões a 48 milhões de toneladas”, disse Monteiro.

Gargalo na entrega

A rigidez na concessão de crédito afeta até o que já foi vendido. Diferentes canais de distribuição, como revendas e tradings, estão atrasando a liberação dos fertilizantes que financiaram aos agricultores porque eles ainda não formalizaram todas as garantias com os clientes finais. Como consequência, houve um atraso significativo nas entregas de fertilizantes em julho e em agosto, explicou Monteiro.

“A indústria brasileira se planeja, dentro de sua capacidade nominal, para atender um setembro cheio. Só que agora temos o setembro cheio mais o pedaço de julho e o pedaço de agosto que não foi entregue. Esse é um ponto de preocupação importantíssimo”, disse o chefe das operações da Mosaic no Brasil ao The AgriBiz.

Com os estoques nos portos e armazéns cheios de fertilizantes, aguardando liberação para seguir para as fazendas, Monteiro prevê problemas no escoamento dos nutrientes para o interior, já que os navios com os insumos importados continuam chegando. “Vai engargalar tudo.”

Impacto na safrinha

A aversão ao risco dos bancos — causada pela onda de recuperações judiciais no campo e pela crise das revendas — também é uma preocupação para a safrinha de milho. Segundo o analista de fertilizantes da Agrinvest Commodities, Jefferson Souza, 55% das vendas de fertilizantes para a safrinha ainda estão em aberto.

“Será que esse percentual ainda vai acontecer ou será impedido pelo crédito?”, questionou durante painel no congresso da Anda, realizado nesta terça-feira em São Paulo. “O financiamento será um fator determinante para a safrinha”, disse.

Para o analista, o agricultor só deixará de aumentar os investimentos em tecnologia se o crédito for um impeditivo, já que as perspectivas de demanda são positivas na esteira da expansão da indústria de etanol de milho no País.

Monteiro também não espera redução de demanda, mas ressalta que o produtor está aguardando uma melhora nos preços do milho, que estão abaixo dos patamares verificados no ano passado. Nesse contexto, o agricultor pode retardar a sua decisão de compra, afirma.