
Os preços do açúcar podem ter atingido um piso, e, em 2026, a cotação da commodity pode ter um “leve rebote” para cima. As previsões são do Citi, em um novo estudo sobre as perspectivas para o setor sucroenergético.
Segundo o banco, após uma forte queda de 24% no acumulado de 2025, os preços do açúcar podem se acomodar entre 14 e 15 centavos de dólar por libra-peso. No próximo ano, a commodity pode subir um pouco e passar a ser negociada a uma média de entre 16 e 17 centavos de dólar por libra-peso.
No relatório divulgado ontem, os analistas Arkady Gevorkyan, Eric Lee, Maximillian Layton e Anthony Yuen afirmam que o preço do açúcar já teria atingido o “fundo do poço”, após ter caído mais do que o esperado anteriormente devido à falta de disrupções de oferta no Brasil e ao começo relativamente bom da safra na Índia.
Por outro lado, eles mencionam como vetores de alta o potencial aumento no mix alcooleiro, o crescimento das importações da China e os patamares mais baixos que o normal das exportações da Índia.
O banco pontua que a demanda por açúcar está ligada ao crescimento econômico e populacional, e lembra que, ao contrário da maioria das outras commodities agrícolas, o açúcar pode ser estocado por longos períodos sem comprometimento de qualidade.
Nesse contexto, a demanda chinesa pode seguir acima do esperado em uma tentativa do país de aproveitar para fazer estoques enquanto os preços estão em um patamar mais baixo.
“As importações da China já surpreenderam em setembro, quando o país comprou 800 mil toneladas principalmente do Brasil, bastante acima das expectativas da indústria que apontavam para 500 mil toneladas”, disse o Citi.
Se confirmadas, as estimativas irão ao encontro da previsão feita em setembro por Plínio Nastari, fundador da Datagro. À época, ele apontava que a aposta de fundos especulativos na queda do açúcar estava errada.
Na mesma ocasião, Tomás Manzano, CEO da Copersucar, estimou que o açúcar seria comercializado acima de 15 centavos de dólar no ano que vem, previsão que o Citi agora endossa.
De olho no etanol
Segundo o Citi, o principal fator que deve colaborar para o leve aumento no preço do açúcar em 2026 é o potencial crescimento do desvio de cana para a produção de etanol no Brasil, cenário que o banco atribui ao crescimento da demanda estimulado pelo mandato do E30 e à atual atratividade de preço.
De acordo com o banco, esse será um fator-chave para se monitorar no ano que vem.
“O maior risco de contrariar a estimativa de um ano forte de produção no Brasil reside no desvio da sacarose para o etanol. No momento, o prêmio do biocombustível sobre o VHP é de 2,5 centavos por libra-peso”, diz o Citi. O VHP é o açúcar bruto com altíssimo teor de sacarose, o principal tipo exportado pelo Brasil e que serve como matéria-prima para a produção de açúcar refinado.
Favorece essa dinâmica, dizem os analistas, o cenário de margens altas da gasolina nos Estados Unidos — que é potencialmente favorável aos produtores de etanol.
Por outro lado, o banco pontua que o contexto geopolítico — principalmente a guerra comercial promovida pelos americanos — e a eleição presidencial no Brasil no ano que vem podem elevar a demanda e gerar prêmios significativos.
“As tarifas americanas sobre o açúcar ainda estão vigentes e parecem que vão durar. Embora produza a partir da beterraba, os EUA são um forte importador, principalmente do Brasil.”
Recomposição de estoques
No relatório, os analistas do Citi estimam que em 2026 haja uma recomposição dos estoques globais — após três anos seguidos de déficit no mercado mundial de açúcar.
A última previsão da Organização Internacional do Açúcar (ISO) para o ciclo 2025/26, divulgada em novembro, projetava um superávit global de 1,625 milhão de toneladas. O resultado seria fruto de uma produção global estimada em 181,7 milhões de toneladas, ante um consumo projetado em 180,1 milhões de toneladas.
Segundo a entidade, será um nível apenas “modestamente confortável”, embora já acima das previsões anteriores — da Datagro, por exemplo — de que o superávit em 2026 ficasse abaixo de 1 milhão de toneladas.
Na safra anterior, de 2024/25, o mundo registrou um déficit de açúcar — cuja estimativa a ISO agora reduziu de 4,879 milhões para 2,916 milhões de toneladas, após contabilizar avanços nas retas finais das colheitas em países do Hemisfério Sul, incluindo o Brasil.
Apesar da reversão para superávit, a entidade afirmou que os estoques permanecerão apertados, com a relação estoque/uso caindo para 52,74%, o menor nível em nove anos.
Em seu relatório, o Citi endossa essa ideia, embora traga números um pouco diferentes: o banco estima uma produção global de 181,2 milhões de toneladas e um consumo de 178 milhões de toneladas, com um saldo líquido, portanto, de 3,1 milhões de toneladas — quase o dobro da estimativa da ISO.
Segundo o Citi, o Brasil, líder no mercado mundial, deve produzir 40 milhões de toneladas de açúcar na safra 2025/26, uma queda de 0,2% frente a 2024/25.
Já a Índia, em segundo lugar no ranking, deve ver um aumento expressivo na produção, de 6,2%, chegando a 32,4 milhões de toneladas.