
As projeções de moagem de cana no Centro-Sul parecem excessivamente otimistas, precificando uma produção de açúcar que talvez não se confirme ao longo da safra 2025/26. A perspectiva abriu uma janela de oportunidade para os investidores comprarem os papéis de usinas como São Martinho (SMTO3) e Jalles Machado (JALL3).
A avaliação é de Gabriel Barra, analista do Citi responsável pela cobertura de agro e óleo e gás. “Esse cenário de produção maior já está precificado. Então, qualquer surpresa negativa pode ajudar o preço do açúcar”, disse Barra ao The AgriBiz. Se isso acontecer, as ações correlacionadas às cotações da commodity serão naturalmente beneficiadas.
O analista conversou com a reportagem na semana passada, depois de participar da segunda edição da Conferência Anual de Energia e Agronegócio do Citi, realizada na sede do banco, na Avenida Paulista.
Para Barra, os players de açúcar e etanol são os candidatos mais óbvios para trazerem retornos no curto prazo — em até 12 meses —, ao contrário do que ocorre com os papéis ligados aos grãos (soja e milho ainda devem enfrentar um cenário de preços baixos na safra 2024/25).
“A SLC é uma baita empresa e boa alocadora de capital, mas este ano ainda não vai ser espetacular em geração de caixa. Ela é uma história de longo prazo. Com açúcar e etanol, você consegue pegar mais o curto prazo”, argumentou, ao comparar os diferentes papéis de sua cobertura.
Nas usinas, a leitura de Barra está amparada nas projeções do time global de commodities do Citi, área liderada por Aakash Doshi.
“Temos uma visão mais positiva ao longo da safra, com o açúcar indo para 23 a 24 centavos de dólar por libra-peso”, ressaltou Barra. Neste momento, as contratos futuros da commodity negociam perto de 19 centavos de dólar por libra-peso.
Do lado do etanol, a relação entre oferta e demanda também sugere uma alta. Com um mix mais açucareiro, a produção do biocombustível deve cair algo entre 2 bilhões e 3 bilhões de litros, calculou Barra.
Além disso, a tendência é que a E30 — mistura de 30% do etanol na gasolina — entre em vigor neste ano, o que significa um consumo adicional de 1,5 bilhão de litros. Com isso, nem mesmo a maior produção de etanol de milho (de 1,5 bilhão a 2 bilhões de litros) seria capaz ampliar a oferta.
Nessas cenário traçado pelo Citi, Jalles Machado e São Martinho inevitavelmente seriam favorecidas, se recuperando das perdas acumuladas nos últimos tempos. Em doze meses, as ações da Jalles Machado caem 40%. No caso da São Martinho, a queda é de 20%.
“Avaliamos que Jalles e São Martinho podem ter uma melhora razoável de geração de caixa”, disse o analista. A expectativa do Citi é que as duas companhias entreguem um retorno de fluxo de caixa livre ao acionista superior a 10% ao ano.
Barra recomenda a compra dos dois papéis, com preço-alvo de R$ 9 para a Jalles (um upside potencial de 98%) e de R$ 33 para a São Martinho (upisde de 45,4%). Na B3, a Jalles está avaliada em R$ 1,4 bilhões e a São Martinho em R$ 7,5 bilhões.
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Gabriel Barra e Renata Cabral, analista do Citi responsável pela cobertura de alimentos e bebidas, reuniram alguns dos principais empresários do agronegócio na Conferência Anual de Energia e Agronegócio, realizada na semana passada. Marino Colpo (Boa Safra), Ivo Brum (SLC), Luís Osório Dumoncel (3tentos), Alexandre Frizzo (Vittia) estiveram entre os presentes.