Usina da Raízen, Etanol de segunda geração

Em mais um ano que projeta ser desafiador para as principais usinas brasileiras com ações listadas na Bolsa, o Citi espera que a Raízen (RAIZ4) sofra mais do que a São Martinho (SMTO3) e a Jalles Machado (JALL3).

Em um relatório divulgado nesta semana, os analistas Gabriel Barra e Pedro Gama avaliam que a São Martinho pode se beneficiar da eficiência maior de suas usinas, enquanto a Jalles tem como carta na manga um alto volume de açúcar já sob hedge.

Já a Raízen convive com os desafios operacionais e comerciais dos novos produtos desenvolvidos pela companhia, como etanol de segunda geração e biogás.

O banco manteve a recomendação de compra para São Martinho e Jalles, enquanto a ação da Raízen foi mantida em recomendação neutra.

Os analistas lembram que 2025 foi um ano difícil para as usinas brasileiras, com preços e produtividade em baixa refletindo prejuízos das queimadas em 2024 e adversidades climáticas na safra.

“Os usineiros maximizaram a produção de açúcar nos estágios iniciais da colheita, e, depois, mudaram o mix na reta final da temporada para tirar vantagem dos melhores preços do etanol”, afirmam. Atualmente, o biocombustível opera com um prêmio de aproximadamente 2,5 centavos de dólar por libra-peso sobre o açúcar.

No ano que vem, uma conjunção de fatores — principalmente a manutenção dos preços do açúcar em patamar “fraco” e uma possível queda nos preços do etanol — pode desembocar em uma rentabilidade menor e em potenciais cortes em investimentos previstos em plantas.

“Esperamos que a próxima safra seja novamente desafiadora, com preços fracos do açúcar e uma potencial queda nos preços do etanol reduzindo as margens das empresas brasileiras”, afirma o Citi.

Segundo o banco, os preços seguem abaixo do custo de produção para a maior parte dos produtores. Se esse cenário se mantiver, o resultado no curto prazo pode ser “usinas interrompendo suas operações” ou adiando investimentos em manutenção dos canaviais “para proteger seu balanço patrimonial diante do cenário desafiador”.

A exceção, diz o Citi, são os produtores situados em estados distantes do litoral, onde o custo de logística para exportar açúcar é mais alto, e nos quais há benefícios fiscais para a produção de etanol. “Essas usinas normalmente ampliam seu mix em direção ao etanol quando os preços ficam próximos, como é o cenário atual”, afirma o banco.

Mix mais alcooleiro

O Citi prevê um aumento de 3% no processamento de cana-de-açúcar na safra 2026/27, para 625 milhões de toneladas, na comparação com 2025/26.

“Levando em consideração as melhores dinâmicas de preço no etanol do que no açúcar, esperamos ver os produtores elevando a produção de etanol”, dizem os analistas.

Segundo o Citi, outro fator que deve colaborar para essa inflexão no mix é o patamar baixo de hedge de açúcar feito até aqui pela maioria das usinas, o que as deixa mais flexíveis para alterar o mix para o etanol caso isso se mostre mais atrativo.

“O aumento da demanda por etanol graças ao mandato que elevou a mistura na gasolina de 27% para 30% a partir de agosto e os estoques em baixa dão suporte para os preços na próxima safra”, complementa o relatório.

Por outro lado, o banco pondera que o aumento na oferta do biocombustível — tanto o feito a partir da cana quanto o de milho — pode eclipsar o possível impulso do lado da demanda. Nesse caso, o resultado seria uma tendência de queda nos preços do biocombustível no ano que vem.

“Não vemos gatilhos capazes de elevar significativamente o preço da gasolina. Dito isso, mesmo do lado dos fundamentos, vemos uma chance maior de uma tendência de queda nos preços do etanol em 2026”, conclui o Citi.

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A Jalles obteve ainda um reforço financeiro nesta semana. A companhia informou, em fato relevante, que obteve R$ 200 milhões junto ao BNDES no âmbito do Programa Brasil Soberano Crédito Emergencial, criado para atenuar as perdas de empresas brasileiras graças ao tarifaço promovido pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

A companhia teve exportações de açúcar orgânico aos EUA comprometidas pela taxação de 50% — metade das vendas eram para o mercado americano.

Segundo a Jalles, a taxa de juros será de 3,53% ao ano, com prazo de carência de 12 meses e pagamento por amortização em 48 parcelas mensais a partir de janeiro de 2027 e até dezembro de 2030.