
De zero a R$ 13,6 bilhões em seis anos. A trajetória brasileira da Inpasa, a gigante de etanol de milho fundada por José Odvar Lopes, foi tão meteórica que o negócio passou a exigir um choque de gestão, uma forma de enxugar despesas e aprimorar a governança corporativa para estar pronta para um novo salto.
Sem alarde, a Inpasa vem promovendo uma série de mudanças desde o início deste ano. A maior delas foi a saída de Rafael Ranzolin, um vice-presidente que, na prática, era o principal executivo da companhia — a ele se reportavam os diretores.
Ranzolin deixou a posição em maio, em uma movimentação que chamou a atenção dos observadores da indústria. O executivo era um nome próximo do fundador, com quem trabalhava desde os tempos do Paraguai, onde Lopes controla a Industria Paraguaya de Alcoholes S.A — nome que deu origem à sigla Inpasa.
As mudanças na Inpasa envolvem a saída de outros executivos relevantes. Um dos principais executivos da área comercial, Daniel Sarmento deixou a companhia em dezembro.
A dança das cadeiras ocorre ao mesmo tempo em que a Inpasa trabalha com diversas consultorias para aprimorar a gestão e a governança corporativa. Uma das principais envolvidas nos trabalhos é a BCG, apurou The AgriBiz com três fontes que conhecem o trabalho.
Nesse processo, a Inpasa criou um centro de serviços compartilhados baseado em Campinas, no interior de São Paulo. Com isso, a companhia enxugou parte relevante do backoffice que ficava Mato Grosso, o que gerou algum burburinho local, com dúvidas sobre a extensão dos cortes.
Fontes próximas à Inpasa garantem, no entanto, que é apenas um processo de modernização. Embora reconheçam que algumas demissões foram feitas, atribuem boa parte do movimento à realocação geográfica. Atualmente, a Inpasa conta com cerca de 3,5 mil funcionários. No início do ano, eram 3,1 mil, informou a companhia, em nota.
Para os envolvidos nos trabalhos, a Inpasa está longe de ser um caso de reestruturação financeira. Pelo contrário. No ano passado, a companhia registrou bons resultados, como mostra o balanço auditado pela KPMG. A margem Ebitda ficou em 30%, com uma geração de caixa operacional de R$ 1,8 bilhão. O retorno sobre o patrimônio (ROE, na sigla em inglês) bateu 33%.
Além disso, a estrutura de capital ainda parece permitir os pesados investimentos que a Inpasa vem fazendo com a construção de duas novas usinas de etanol de milho, em Balsas (MA) e Luis Eduardo Magalhães (BA). No ano passado, a companhia investiu mais de R$ 4 bilhões, com mais de R$ 2,7 bilhões financiado com dívida.
Mesmo com esses desembolsos, o índice de alavancagem (relação entre dívida líquida e Ebitda) fechou o ano passado em 1,8 vez, patamar ainda confortável. Mas como as obras das novas usinas seguem em andamento, não será surpresa se a alavancagem continuar aumentando por mais tempo.
Nesse processo, atrair um sócio não deveria ser encarado como uma hipótese de toda descabida. Uma modernização na governança corporativa, aliás, poderia ajudar a preparar a Inpasa a atrair um investimento da Petrobras. Não é segredo para ninguém que a estatal quer “começar grande” em etanol de milho, e para isso até separou US$ 2,2 bilhões. (Com Tatiana Freitas)
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Procurada pela reportagem, a Inpasa enviou uma nota sobre as mudanças que vem fazendo na gestão. Abaixo, o texto na íntegra.
“A companhia está atualmente em um importante processo de solidificação e aprimoramento de suas operações, com foco na excelência do atendimento e na governança corporativa. Como parte desse planejamento estratégico, foi implementado um sistema de Centro de Serviços Compartilhados (CSC), uma prática consolidada entre grandes corporações e considerada um passo natural à medida que uma empresa se expande. Essa estrutura é fundamental para otimizar processos, ampliar a eficiência operacional e garantir maior integração entre áreas, fortalecendo a base para um crescimento sustentável.
A empresa reconhece que mudanças dessa natureza podem gerar uma reorganização interna e levar à saída de profissionais que optaram por seguir novos caminhos em suas carreiras. Ressalta, no entanto, que todas as movimentações foram cuidadosamente planejadas e conduzidas com respeito aos colaboradores, mantendo o compromisso com a transparência e a responsabilidade.
Mantém-se o compromisso com o desenvolvimento sustentável do negócio, valorizando clientes, parceiros e equipes. Os investimentos em inovação e melhorias seguem de forma contínua, sempre com foco na eficiência, na responsabilidade ambiental e na consolidação de uma atuação cada vez mais sólida e sustentável no mercado”.