
Mesmo com as incertezas sobre as tarifas e o futuro dos biocombustíveis nos Estados Unidos, a ADM conseguiu trazer uma surpresa positiva para os analistas com o balanço do segundo trimestre.
Uma das titãs do comércio agrícola global, a ADM bateu a expectativa dos analistas em 16%, com um lucro de US$ 0,93 por ação. Nesse embalo, os papéis da companhia sediada em Chicago dispararam. No início da tarde, as ações da ADM subiam quase 5% na bolsa de Nova York.
Juan Luciano, o executivo argentino que comanda a ADM, atribuiu a melhora dos resultados operacionais ao amplo programa de reestruturação que deflagrou na companhia, o que incluiu centenas de demissões em todo o mundo desde o início do ano.
“Vemos perspectivas de melhora no segundo semestre, com os benefícios mais claros na demanda por óleo de soja. Continuamos melhorando a posição de custos, e as margens de esmagamento também. Temos altas expectativas para o próximo trimestre”, ressaltou o CEO da ADM, durante a teleconferência com analistas e investidores.
Apesar do tom construtivo, os resultados estão longe de serem espetaculares. Ao todo, a receita líquida da ADM totalizou US$ 21,1 bilhões no segundo trimestre, uma queda de 5,1% na comparação anual. O lucro operacional caiu 11,4% e chegou a US$ 830 milhões.
Não à toa, a ADM fez uma revisão negativa para o guidance de 2025. E fixou no piso das próprias estimativas a expectativa para o lucro: US$ 4 por ação.
Antes disso, ainda havia alguma expectativa dentro da companhia de um resultado um tanto melhor — a faixa superior do guidance, agora abandonada, apontava um lucro de até US$ 4,75 por ação.
A ADM e o biodiesel no Brasil
Na teleconferência para analistas, os executivos foram conservadores ao esboçar os cenários para o próximo o ano, dada a relativa falta de visibilidade que permanece nos temas das tarifas e dos biocombustíveis.
Ainda assim, Luciano citou o recente mandato do B15 no Brasil — que entrou em vigor em 1º de agosto — para embasar a afirmação de que as projeções da ADM para o mercado de biocombustíveis são positivas.
“Nos lugares onde há mandatos, como o Brasil, esperamos melhora nas margens. No total, podemos recepcionar mais 6 milhões de toneladas de matérias-primas para dar conta da demanda crescente em biocombustíveis, com o esmagamento chegando a 15% do share. Isso nos dá uma perspectiva muito positiva de crescimento.”
Para 2026, a empresa estima mais quedas nos lucros operacionais das operações nos segmentos de Ag Services & Oilseeds e de Carbohydrates Solutions.
“No segundo semestre, temos boas expectativas baseadas em mais visibilidade do potencial para o óleo de soja nos biocombustíveis. Para 2026, ainda é cedo, mas apostaria em mais um bom rendimento da divisão de nutrição humana”, afirmou.
Questionado por um analista, Luciano minimizou as preocupações com um eventual abandono do xarope de milho em detrimento do produto feito a partir de cana-de-açúcar, após o presidente Donald Trump demandar que a Coca-Cola voltasse a adoçar seu refrigerante com xarope de cana.
“Temos relações de décadas com os principais players. Nesse momento, não temos indicação de mudanças nas projeções de volumes. Esse é um mercado grande e vamos continuar buscando servir a indústria de bebidas e aproveitar as oportunidades, sendo flexíveis e nos ajustando às condições.”
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Listada na bolsa de Nova York, a ADM está avaliada em US$ 27,4 bilhões. No acumulado do ano, os papéis sobem 13,2%.