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Lavoro faz acordo com fornecedores e confirma recuperação extrajudicial

Rede de revendas agrícolas controlada pelo Pátria conseguiu a adesão de mais de 35% dos fornecedores para um plano que alonga o passivo em até cinco anos

Lavoro

A Lavoro acaba de anunciar um acordo para reestruturar as dívidas com fornecedores de insumos agrícolas, garantindo o suprimento de defensivos e fertilizantes ao mesmo tempo em que alonga o prazo de vencimento desse passivo bilionário por até cinco anos.

“Diante de todo o contexto, é uma boa notícia. Nunca há uma solução ótima nesses casos, mas ela é boa o suficiente para todo o setor, construída em um clima colaborativo. A companhia sai da negociação com o passivo reestruturado”, disse Ruy Cunha, CEO da Lavoro, em entrevista ao The AgriBiz.

A renegociação com os fornecedores envolve um passivo da ordem de R$ 2,5 bilhões. Os acordos foram protocolados na Justiça sob a forma de uma recuperação extrajudicial, como o The AgriBiz antecipou na última sexta-feira.

Os efeitos da reestruturação estão circunscritos ao negócio de distribuição no Brasil (ou seja, as revendas) e à Perterra, companhia da Lavoro que faz a importação de defensivos. A operação na Colômbia e a CropCare não foram arroladas na recuperação extrajudicial — as dívidas dessas unidades não precisaram ser repactuadas.

Assessorada pela Alvarez & Marsal e pelo Pinheiro Neto na reestruturação financeira e operacional, a Lavoro firmou acordos com credores que perfazem algo entre 35% e 40% do passivo.

Entre esses fornecedores que já assinaram os acordos, estão incluídos fabricantes de defensivos agrícolas como UPL, Basf e FMC, além de players de fertilizantes como a Eurochem, segundo Cunha.

Agora, a Lavoro terá 90 dias para oferecer as mesmas condições aos demais credores. Pela legislação, a rede de revendas controlada pelo Pátria precisa da adesão de credores que representem mais de 50% do passivo para que o Judiciário homologue a recuperação extrajudicial.

“Pela complexidade do processo, a gente só conseguiu falar com um número limitado de credores. Ao longo das próximas semanas, esse número de adesões vai crescer”, projetou o CEO da Lavoro.

Os prazos de pagamento

Os termos da renegociação com os fornecedores devem estimular as adesões. Os credores que não apoiarem o plano terão uma condição menos favorável de recebimento, com prazo de pagamento em sete anos e um deságio de 50% do valor do passivo.

Os apoiadores, no entanto, terão melhores condições. Na costura da reestruturação, a Lavoro desenhou diferentes classes de credores, com benefícios e devedores diferentes entre si.

Na classe dos apoiadores, que garantem a continuidade do fornecimento de insumos à Lavoro, o prazo de pagamento do passivo é de cinco anos, com parcelas bianuais — casadas com os recebimentos de safra e safrinha. Até 10% dessa dívida poderá ser paga com a devolução de produtos. O passivo será corrigido pelo IPCA.

Na classe dos “superapoiadores”, o prazo de pagamento é menor, de quatro anos, e até 20% da dívida poderá ser paga com a devolução de produtos. Esses fornecedores concordam em dar mais crédito para a Lavoro, além de garantir o fornecimento de insumos. A correção também é feita pelo IPCA.

A renegociação inclui ainda uma classe especialmente desenhada para os sementeiros, companhias em geral menores que precisam de capital de giro. Para esse grupo, o alongamento foi de pouco mais de dois anos, com vencimento em setembro de 2027 — também há correção pelo IPCA.

“Nossa preocupação era garantir que fornecedores comercialmente relevantes aderissem”, disse o CEO da Lavoro.

Como ficam os credores financeiros

Paralelamente às negociações com os fornecedores, a Lavoro conseguiu rolar também o passivo com os bancos no Brasil, uma dívida da ordem de R$ 1,2 bilhão. Por causa disso, as instituições financeiras não fazem parte da recuperação extrajudicial.

Nesse processo, o mercado de capitais sairá ileso, em uma boa notícia para gestores que compraram os CRAs emitidos pela rede de revendas há dois anos.

Na prática, a Lavoro até vai precisar de alguns waivers dos detentores do CRA de R$ 400 milhões emitido pela companhia, mas as condições de pagamento (juros e amortizações) permanecem as mesmas.

“Vamos oferecer para eles um conforto de que o CRA vai ser pago normalmente, até para obter alguns waivers associados. É possível que tenha que fazer uma assembleia de crazistas para deliberar sobre isso”, disse Cunha.

A Lavoro ficará menor?

Ao promover uma reestruturação financeira e operacional, a Lavoro admite que será uma companhia menor no ano que vem. “Seremos menores, mais rentáveis e mais resilientes neste cenário que se impôs”, resumiu.

No trimestre encerrado em dezembro, isso já foi notável. A receita da Lavoro diminuiu 27%, para R$ 2,25 bilhões. Uma parte relevante da queda esteve relacionada à escassez de estoques de insumos. Como ainda estava em conversas com os fornecedores, a companhia teve dificuldade para obter esses produtos.

Não à toa, a companhia fechou mais de 70 lojas e fez demissões no quadro de funcionários — atualmente, são 3 mil funcionários, dos quais 600 na área de vendas no Brasil.

Mesmo assim, o executivo está convicto de que a Lavoro será capaz de honrar com as dívidas alongadas, sem a necessidade de um aporte de capital.

“A ideia do acordo é chegar numa estrutura de capital que favoreça a longevidade da companhia. O plano era reestruturar sem a dependência de atrair um investidor externo, mas é claro que muita coisa pode acontecer ao longo dos próximos anos”, afirmou Cunha, mantendo a porta aberta para atração de investidores.

A melhora dos resultados da Lavoro passa também pela recuperação gradual da saúde financeira dos produtores de grãos, algo que já começou a ocorrer, segundo o executivo. “Os recebimentos da soja foram melhores do que no ano passado. Abril e maio foi em linha com o que esperávamos”, disse.