Balanço

Para BrasilAgro, preço da terra deve cair mais

Por enquanto, empresa continua mais forte na ponta vendedora. “O desafio é ser mais comprador no próximo exercício”, disse André Guillaumon, CEO da BrasilAgro

Fazenda da BrasilAgro

Em agosto, a BrasilAgro fechou um novo contrato de arrendamento em Mato Grosso. Na safra 2025/26, 3 mil hectares em Comodoro serão integrados à operação da empresa já existente na região, de 4 mil hectares. Já para a compra de terras, a companhia mantém uma visão cautelosa.

Segundo André Guillaumon, CEO da BrasilAgro, o preço das terras subiu muito na época em que a saca de soja chegou a R$ 200 e ainda não caiu o suficiente para gerar uma nova onda compradora — pelo menos não para a companhia.

“Tem um ditado que diz que as coisas sobem de elevador e descem de escada. Se tiver qualquer frustração climática que eleve o preço da soja, a gente interrompe esse processo [de redução no valor das terras]”, afirmou o executivo.

“Quatro, cinco anos de preços ruins de commodity têm efeito nominal no preço da terra. Se olhar o padrão, agora não está caindo tanto. Quando você pega ativos estressados, aí sim, existem oportunidades com valores atrativos. Mesmo assim, acho que tem mais espaço para o preço cair”, explicou Guillaumon.

A companhia se mantém mais na ponta vendedora, trabalhando principalmente na gestão e transformação de terras com o objetivo de maximizar os ganhos com a valorização das propriedades.

No ano fiscal de 2025, a BrasilAgro teve uma queda de 18% na receita com venda de fazendas em comparação com o ano anterior. O desempenho não preocupa Guillaumon. “Me preocuparia vender zero”, frisou.

Neste ano, a companhia embolsou os recursos referentes à venda das fazendas Preferência e Alto Taquari (uma transação anunciada em 2022, mas contabilizada neste ano por causa da transferência de posse).

“Hoje, não está bom para vender no Mato Grosso, é verdade, mas está muito bom na Bahia, em função de culturas irrigadas. A gente ainda é uma companhia mais vendedora, mas vejo um ponto de inflexão à frente, que pode nos dar margem para uma postura mais compradora em 2026”, destacou o CEO.

O papel-chave do câmbio

No release de resultados que acompanha o balanço da safra 2024/25, divulgado nesta quarta-feira, a BrasilAgro estima um aumento de 7% no custo de produção da soja na próxima temporada. Sem a perspectiva de aumento dos preços da commodity em reais, a empresa aposta em sua estratégia de hedge para garantir boas margens.

A BrasilAgro já fixou 38% de sua produção esperada para a safra 2025/26 a uma taxa de câmbio de R$ 6,23, ante R$ 5,43 na safra anterior.

“Diferentemente da safra passada, em que o produtor teve custo de produção com dólar barato e receita com dólar caro, na próxima safra o produtor vai ter um custo com dólar mais alto e pode ser que tenha receita com dólar mais baixo por ser um ano político, de gangorra”, frisou Guillaumon referindo-se à eleição presidencial.

Já a produção de soja da safra 2025/26 está 28% hedgeada, a um preço médio de US$ 10,56 por bushel, praticamente em linha com os valores praticados atualmente na Bolsa de Chicago. Na média brasileira, a comercialização de soja está bem mais atrasada. Apenas 17% da produção esperada foi vendida antecipadamente até o início de agosto, segundo a consultoria Safras & Mercado.

“O produtor viu uma recuperação muito importante de prêmio e, talvez, tenha tomado decisões não tão racionais [nas vendas]”, destacou o CEO, pontuando que os prêmios pagos pela soja nos portos brasileiros chegaram a US$ 2,00 por bushel neste segundo semestre.

A perspectiva é de queda daqui para frente, amparada principalmente na iminência do acordo comercial entre Estados Unidos e China. “O prêmio pode parar em 60 ou 70 [centavos de dólar por bushel], em função da demanda que a China vai ter pela soja americana. Eu não esperaria mais upside”, disse.

O balanço

No ano, a BrasilAgro teve uma receita líquida de R$ 877 milhões, um crescimento de 14% em relação ao ano anterior. O Ebitda ajustado caiu 4%, para R$ 267 milhões, um resultado impactado principalmente pelo clima adverso na produção de algodão na Bahia e no Paraguai.

O lucro líquido no período tombou 39%, para R$ 138 milhões, refletindo a absorção de dívidas de R$ 31 milhões da Novo Horizonte, empresa comprada neste ano, além do aumento do serviço da dívida, em meio à escalada da Selic.

“Temos um custo de dívida competitivo, de 92% do CDI. Mas uma coisa era o CDI de 10% e outra é o CDI a 15%”, disse Guillaumon.

No quarto trimestre, a empresa reportou um Ebitda ajustado negativo em R$ 111 mil, revertendo um resultado positivo de R$ 19,7 milhões um ano antes. A companhia disse que o Ebitda foi impactado principalmente pela reversão nos ganhos com derivativos, que causaram uma perda de R$ 3,9 milhões ante R$ 13 milhões no quarto trimestre da safra anterior. O lucro líquido caiu 74%, para R$ 61,2 milhões.