
A Global Eggs, holding que reúne o império de produção de ovos do empresário catarinense Ricardo Faria, abortou o processo de IPO nos Estados Unidos. Pelo menos até 2026.
“IPO é um não-assunto neste momento. Abortamos esse processo”, disse Faria nesta terça-feira, durante uma entrevista coletiva convocada para anunciar a conclusão do processo de aquisição da Hillandale Farms nos EUA por US$ 1,1 bilhão.
A holding está totalmente focada na integração da Hillandale com o restante das operações da Global Eggs — que no Brasil tem a Granja Faria e na Europa opera por meio da espanhola Hevo.
Além dos desafios operacionais, a Global Eggs precisa acertar a parte contábil da Hillandale, integrando tudo à holding baseada em Luxemburgo. “O IPO não vai acontecer este ano, não tem a menor condição.”
Momentos depois, Faria acrescentou que “pode ser que a gente volte a falar em IPO em 2026”. E emendou: “Nosso IPO, se acontecer, vai acontecer nos EUA”. Em outro momento, disse que “o sonho do IPO vai ficar lá pra frente”.
O empresário argumentou que a oferta de ações deixou de ser necessária também porque a aquisição da Hillandale já deu a escala que a companhia desejava, reunindo uma plataforma de produção de ovos no Brasil, Europa e Estados Unidos.
Faria lembrou que o plano, com a oferta de ações, era capitalizar a empresa para
crescer e atingir a meta de produzir 13 bilhões de ovos em 2028 — patamar que
será alcançado já em 2025.
“Antecipei o meu business plan em pelo menos três anos com essa aquisição”, disse. Com um plantel de 20 milhões de aves, a Hillandale produz 38 milhões de dúzias de ovos por mês.
A desistência do IPO ocorre depois de uma revisão na estratégia de financiamento da aquisição da Hillandale.
Inicialmente, o BTG Pactual ficaria com uma participação de 11% na Global Eggs — injetando US$ 300 milhões — e coordenaria a oferta nos Estados Unidos. No entanto, Faria recorreu a empréstimos do Rabobank e Itaú, fazendo a compra sozinho, informou o Pipeline.
Sem o sigilo do IPO, Faria ficou mais à vontade para divulgar alguns números que indicam o tamanho da Global Eggs. Segundo ele, as empresas que fazem parte da holding faturaram US$ 2 bilhões no ano passado. “Poderemos chegar a US$ 2,5 bilhões tranquilamente. Quem sabe, a US$ 3 bilhões.”
A holding deve terminar o ano com uma alavancagem confortável para quem acabou de fazer um M&A bilionário, com a dívida líquida entre 0,5 vez e 1 vez o Ebitda, de acordo com Faria.
“Continuamos com fôlego para olhar para o lado”, disse el numa referência a M&As. O foco para novas aquisições é a Europa, enquanto nos EUA a ideia é crescer de forma mais orgânica. Ao assumir a Hillandale, a Global Eggs se comprometeu a elevar o plantel em 5% até o final de 2025, o equivalente a uma adição de 1 milhão de aves.
Mais duas na conta
Desde a aquisição da Hillandale, anunciada em março, Ricardo Faria adotou o silêncio. Nesse período, a Global Eggs fez mais duas aquisições, anunciadas apenas nesta terça-feira. Nos dois casos, o valor do negócio não foi divulgado.
Na Espanha, a Hevo comprou a Granja Legaria, tradicional produtora espanhola que possui um plantel de 350 mil aves. Segundo Faria, a empresa passava por um problema de sucessão.
Essa foi a mesma motivação da venda da Granja Tamago, adquirida pela Granja Faria em Recife, fortalecendo a presença da empresa no Nordeste. Com 400 mil aves, a Granja Faria pretende aumentar o plantel da Tamago para mais de 1 milhão de aves até 2026.