
O que acontece com a Kepler Weber? Nos últimos três pregões, o volume de negociações de ações da fabricante de silos agrícolas explodiu, deixando o mercado com a pulga atrás da orelha.
A movimentação desenfreada com o ativo levantou especulações sobre o interesse de investidores estratégicos na aquisição da centenária companhia gaúcha, enquanto os vendidos tentam se proteger contra o que parece ser um movimento de short squeeze.
Desde o pregão de quinta-feira, o volume de negociações de ações da Kepler atingiu patamares anormais para o ativo, passando de 6 milhões de papéis por dia. Trata-se de um nível mais de cinco vezes superior à média dos últimos 30 dias (1,2 milhão de papéis).
Acionistas de longa data da Kepler Weber argumentam que o movimento com as ações está relacionado à divulgação, na última quarta-feira, do balanço do terceiro trimestre. O resultado veio com uma margem Ebitda (17,4%) acima do que se esperava para um momento de demanda fraca.
“O mercado estava muito pessimista, mas melhorou bastante após a teleconferência com investidores”, narrou uma fonte. “É exatamente a mesma movimentação de fevereiro”, argumentou. No pregão do dia 27 de fevereiro, o volume de negociação de papéis foi de 7 milhões de ações, diminuindo para 3 milhões no dia seguinte.
Com isso, os vendidos teriam sido pegos no contrapé, deflagrando um movimento de cobertura de posições vendidas que ajudou as ações da Kepler Weber a subirem quase 20% entre quinta e sexta-feira.
Em 31 de outubro, quase 10% do free float da Kepler estava alugado, ou seja, com investidores apostando na baixa dos papéis. As ações alugadas superavam 13 milhões, o maior patamar do ano, segundo dados do TradeMap.
Um M&A à vista?
Mas nem todos compram a versão de um short squeeze provocado pelo balanço trimestral. O colunista Lauro Jardim, de O Globo, escreveu nesta terça-feira sobre um suposto interesse da Bunge na empresa. Fontes próximas à companhia e aos acionistas negam.
Recentemente, rumores sobre o interesse da americana GSI na aquisição da Kepler Weber também começaram a pipocar. Controlada pela firma de private equity AIP (American Industrial Partners), que comprou a companhia da AGCO em 2024, a GSI é o maior player de silos agrícolas dos Estados Unidos, mas possui uma participação de mercado diminuta no Brasil, da ordem de 10%.
Para uma fonte que conhece a fundo o negócio de armazenagem, crescer por aqui seria um caminho natural para capturar o potencial da crescimento da armazenagem no País, e combinaria com o momento da companhia americana. Fontes próximas à companhia e aos acionistas negam também.
Se a firma de private equity quiser mesmo consolidar o mercado global de armazenagem a partir da GSI, poucos ativos seriam tão relevantes quanto a Kepler Weber, que detém a liderança disparada do mercado brasileiro.
Curiosamente, não seria a primeira tentativa da GSI. Em outras duas encarnações, os americanos fizeram ofertas pela brasileira. A primeira vez ocorreu em 2007, quando a Kepler Weber passava por uma grave crise financeira e GSI era um negócio independente.
Dez anos depois, quando a GSI estava sob o controle da AGCO, uma nova tentativa. Com uma oferta de US$ 185 milhões, os americanos até chegaram a um acordo com a Previ e Banco do Brasil, que tinham 35% do capital da Kepler à época, mas desistiram posteriormente.
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Atualmente, a Kepler está avaliada em quase R$ 1,6 bilhão (cerca de US$ 300 milhões). Entre os maiores acionista da Kepler, estão a gestora Trígono Capital (15,3%) e a família Heller (11,6%).
No ano, as ações da fabricante de silos caem 1,6%.
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Procuradas, Trígono e Kepler Weber não responderam até o fechamento desta edição.