
O Grupo Safras mudou de dono, mas as dúvidas (e as dívidas, é claro) ficaram.
Afinal, ainda é possível resgatar a encrencada cerealista da bancarrota, reestruturando uma dívida de quase R$ 2 bilhões? Marco Teixeira, um executivo com passagens por SuperBac e Agrogalaxy, acha que sim, contrariando a percepção de quase todos que conhecem o negócio.
Enquanto muitos credores do Grupo Safras já haviam jogado a toalha, provisionando como perda o grosso do financiamento concedido à companhia fundada por Dilceu Rossato e Pedro Moraes Filho, Teixeira costurou um acordo para assumir o controle.
A transação, como é praxe em operações de special sits, envolveu uma dose cavalar de apetite ao risco, intrigando quem não via mais qualquer fio de esperança para o Grupo Safras.
Como mostrou o Pipeline, Teixeira liderou a tomada do controle da cerealista mato-grossense por meio da AM Agro, uma companhia ainda pouco conhecida que vislumbra atuar em agro e mineração.
A AM Agro assumiu a participação majoritária no Grupo Safras por meio de um FIP, sigla para fundo de investimentos em participações. Foi por meio desse veículo (Agri Brazil Special Situations), gerido pela Yards, que Teixeira comprou a opção de compra de cerca de 60% do capital da cerealista.
A opção de compra pertencia a outros dois fundos exclusivos: Alcateia e Axioma, ambos gerido pela FIDD — uma asset que funciona como casca, estruturando fundos de investimentos para terceiros.
Até o exercício da opção de compra pela AM Agro, poucos sabiam que os donos do Grupo Safras haviam feito um instrumento que os levaria a perder o controle da companhia.
Ao que tudo indica, a existência da opção é um reflexo da crise financeira do Grupo Safras. Duas fontes disseram ao The AgriBiz que a opção de compra foi a contrapartida dos fundadores para conseguir rolar a linha de crédito com a Flowinvest, firma de investimentos que antecipa recebíveis de curto prazo.
O curioso dessa engenharia é saber por que Alcateia e Axioma — veículos com um patrimônio somado de R$ 3,3 milhões —, e não a própria Flowinvest, ficaram com a opção de compra.
Uma interpretação possível é jurídica. Para uma das fontes, essa pode ter sido uma alternativa encontrada para evitar que a Flowinvest figurasse ao mesmo tempo como acionista e credora na recuperação judicial, o que poderia subordinar as dívidas aos demais credores.
Enquanto as dúvidas continuar no ar, Teixeira vai tentar convencer os credores de que uma solução é possível.
“O cenário de liquidação é um dos piores para todos os envolvidos”, disse Teixeira ao The AgriBiz, quando perguntado sobre o ânimo dos credores com o futuro do Grupo Safras — alguns já previam uma falência como inevitável.
Na visão dele, o Grupo Safras pode se reerguer por suas virtudes, como deter uma estrutura de armazenagem independente das tradings.
“Se você tivesse um ativo ruim, a liquidação é um caminho, claro, mas nós acreditamos muito na tese. A companhia é totalmente viável, tanto que o time de gestão vai trabalhar com esse cenário. Não temos como caminho original uma RJ”, argumentou.
O objetivo declarado de Teixeira é retomar as operações do Grupo Safras em janeiro, quando espera armazenar soja da safra 2025/26. Para isso, espera que os credores aceitem negociar algum tipo de solução financeira, o que poderia viabilizar inclusive a atração de investidores.
Sem abrir nomes, a AM Agro diz ter um grupo de investidores disposto a injetar de R$ 500 milhões a R$ 1 bilhão no Grupo Safras, em uma transação que poderia envolver um aporte feito por meio do Agri Brazil Special Situations.
Teixeira também garantiu que os executivos que assumirão a gestão da Grupo Safras conhecem profundamente o agro, mas também não abriu os nomes que estão à frente da cerealista.
Neste momento, esse grupo de executivos estaria levantando a real situação da cerealista. “Acabamos de entrar, precisamos entender e tomar pé da situação”, disse Teixeira.
Para um profissional que já visitou as instalações do Grupo Safras, Teixeira verá uma situação muito mais complexa de lidar.
“Boa parte dos armazéns são arrendados, a propriedade da fábrica de biodiesel está em disputa e a planta de etanol de milho é muito pequena. Acho difícil trazer todo esse capital”, disse uma fonte.
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Procurada pela reportagem, a Yards confirmou ser a gestora do fundo que assumiu o controle do Grupo Safras. Abaixo, a nota da firma de investimentos na íntegra.
“O fundo AGRI BRAZIL SPECIAL SITUATIONS FUNDO DE INVESTIMENTOS EM PARTICIPAÇÕES MULTIESTRATÉGIA, sob gestão da Yards Asset, fez — mediante pagamento — a aquisição uma opção de compra de participação majoritária no Grupo Safras. Esse FIP administra capital proprietário de um cotista.
Após essa aquisição, o fundo exerceu a opção de compra junto às empresas do Grupo Safras, pagando integralmente o valor estipulado em contrato e assumindo uma posição majoritária.
Importante destacar que não há qualquer relação entre esse fundo e a “dívida” conversível mencionada. A atuação do fundo limitou-se à aquisição e ao exercício de uma opção de compra, conforme previsto contratualmente no instrumento original. O Fundo não tem relação com qualquer dívida vinculada as empresas investidas”.
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Procurada, a FlowInvest não comentou.