Balanço

O ciclo exuberante do frango vai durar mais tempo, diz CEO da JBS

Margens excepcionais da Pilgrim’s Pride e Seara suavizaram o ambiente mais difícil para o negócio de carne bovina nos EUA

Gilberto Tomazoni, CEO da JBS

A exuberância do frango garantiu o balanço da JBS, outra vez. No primeiro resultado trimestral após a listagem das ações na bolsa de Nova York, as margens excepcionais da Pilgrim’s Pride e da Seara minimizaram o ambiente hostil enfrentado pelo negócio de carne bovina nos Estados Unidos.

De forma geral, a piora das margens na operação americana de carne bovina pesou nos resultados globais. De abril a junho, a companhia registrou um Ebitda de US$ 1,7 bilhão, queda de 7,4% na comparação anual. Nesse período, a margem recuou 1,4 ponto (de 9,8% para 8,4%).

“É um resultado excelente dada toda a conjuntura que temos. Uma margem Ebitda de 8,4% mesmo com um terço do negócio operando com margem negativa”, argumentou Gilberto Tomazoni, CEO global da JBS, em entrevista ao The AgriBiz.

Em meio à severa escassez de gado nos Estados Unidos, o negócio de carne bovina da JBS registrou um Ebitda negativo de US$ 233 milhões, com uma margem negativa de 3,4% — bem pior que o resultado de 0,4% um ano antes. O lucro líquido somou US$ 528,1 milhões, um aumento de 60,6% na comparação anual.

São nesses momentos que a diversificação geográfica e de proteínas mostra seu papel, reforçou Tomazoni. Enquanto a operação de carne bovina sofre nos Estados Unidos, a companhia aufere bons resultados na carne de frango — tanto nos EUA como no Brasil —, assim como nas operações australianas.

Gripe aviária e ciclo do frango

A Pilgrim’s, por exemplo, registrou uma margem Ebitda recorde. A Seara também veio com um resultado positivo: a margem Ebitda aumentou 0,7 ponto na comparação anual, alcançando 18,1%, mas caiu 1,7 ponto contra o trimestre imediatamente anterior — um reflexo dos primeiros impactos negativos da gripe aviária, que provocou um aumento dos estoques no fim de junho.

Para lidar com os reflexos da gripe aviária, que levou ao fechamento temporário de diversos mercados, a Seara chegou a paralisar algumas fábricas, que já voltaram a funcionar normalmente, disse o executivo. Os efeitos nas margens, no entanto, ainda devem se estender pelo terceiro trimestre.

A crise sanitária está superada, e vários mercados já foram retomados, mas ainda falta a reabertura de dois mercados relevantes que permanecem fechados para o frango nacional: China e União Europeia. “São mercados importantes na otimização do mix. Se tivermos a abertura desses mercados, as margens voltam aos níveis ótimos”, avaliou Tomazoni.

Na leitura do CEO global da JBS, o ciclo de margens excepcionais da carne de frango vai durar mais tempo. “Não enxergo mudança no curto prazo, pelo menos neste ano”, disse ele, acrescentando que os preços altos da carne bovina nos Estados Unidos favorecem a carne de frango.

Além disso, Tomazoni argumentou que o crescimento da oferta de frango no mercado americano, uma preocupação entre analistas, é pequeno (de 1,2% a 1,8% na comparação anual) e insuficiente para mudar o ciclo. “Nada indica que o problema de genética foi superado”.

A recuperação da carne nos EUA

As perspectivas positivas para a carne de frango ajudam a JBS a digerir o longo processo de recomposição do rebanho bovino nos Estados Unidos, que atrapalha a operação de carne bovina.

Tomazoni concordou com a leitura de mercado compartilhada recentemente pelo CEO da concorrente Tyson Foods, Donnie King, em uma teleconferência com analistas. “Do jeito que está, só começa a melhorar para o fim de 2027”, reforçou.

Segundo ele, a fase de escassez de gado será mais longa do que muitos imaginavam e não há muitas alternativas para mudar esse cenário — a menos que alguma outra empresa feche algum frigorífico. “Hoje, há muito mais capacidade de produção do que boi para abater”, resumiu.

Se alguma planta for fechada, ela não será da JBS, frisou Tomazoni, ressaltando os investimentos que a companhia está fazendo no negócio americano de carne bovina.

Recentemente, a companhia brasileira anunciou um investimento de US$ 100 milhões para modernizar os abatedouros de gado que possui em Greeley, no Colorado, e Cactus, no Texas.

“Estamos investindo na melhoria da produtividade, para ter mais rendimento e sermos mais eficientes”, disse o CEO global da JBS.

O diferencial da estrutura de capital

Na JBS, esses investimentos são possíveis mesmo quando uma operação relevante passa por dificuldades porque a companhia conta não apenas com os benefícios de um parque fabril diversificado, como a operação de carne de frango demonstra, mas também com a força da estrutura de capital.

Mesmo em um cenário de taxas de juros elevadas, a companhia conseguiu reduzir o custo de capital no segundo trimestre.

Graças à emissão de US$ 3,5 bilhões em bonds, o que inclui o menor spread sobre os títulos do tesouro americano para uma companhia de rating “BBB-”, o prazo médio de vencimento das dívidas da JBS aumentou de 11 para 15 anos, e o custo médio desse passivo recuou de 5,8% ao ano para 5,6%.

Com os recursos desses bonds, a JBS pagou cerca de US$ 3 bilhões em dívidas. “Só não paguei mais porque tenho alguns dívidas que pagam até menos que o Tesouro americano”, disse Guilherme Cavalcanti, CFO da JBS, mencionado emissões feitas há alguns anos pela companhia.

De fato, a companhia possui bonds com custo extremamente atrativo, com um cupom anual entre 3% ao ano e 3,75% ao ano. Para se ter uma referência, os títulos do governo americano de cinco anos pagam 3,76% ao ano.

Nesse cenário, a JBS decidiu usar cerca de US$ 400 milhões dos bonds que emitiu em junho para recomprar ações. “É uma boa alocação do caixa porque ainda estamos com múltiplos abaixo dos nossos pares e nosso cronograma de amortização é muito confortável”, ressaltou Cavalcanti.

No ano que vem, por exemplo, a JBS tem apenas US$ 15 milhões em dívidas para amortizar. A alavancagem, medida pela relação entre dívida líquida e Ebitda, permanece em baixa, em 2,27 vezes.