Balanço

No teste da gripe aviária, a BRF passou com louvor

Mesmo com as restrições comerciais provocadas pelo vírus H5N1, a BRF fez a maior margem bruta para um segundo trimestre; ação está entre as maiores altas da Bolsa

Lek Trek, imagem para BRF

A BRF passou no teste de stress da gripe aviária com louvor. Se ainda havia céticos com as mudanças estruturais feitas na dona da Sadia nos últimos três anos, a resposta às restrições comerciais causadas pelo vírus H5N1 evidenciou as fortalezas da companhia.

Entre analistas, a recepção do balanço do segundo trimestre — divulgado ontem à noite — foi amplamente positiva. Mesmo sem poder acessar uma parcela relevante dos mercados de carne de frango (incluindo China e União Europeia), a BRF sustentou níveis de margens surpreendentes.

A margem bruta atingiu 26,6%, a maior já registrada pela companhia em um segundo trimestre, notaram os analistas Thiago Duarte e Guilherme Guttilla, do BTG Pactual, em relatório. No Brasil, onde a dona de Sadia e Perdigão faz 52% das vendas, os resultados também foram superlativos: a margem bruta atingiu 29,5%, a melhor em uma década.

“É um resultado surpreendente para um cenário tão desafiador”, disse Tiago Bortoluci, analista do Goldman Sachs, durante a teleconferência com analistas realizada na manhã desta sexta-feira. Não à toa, as ações da BRF lideram o Ibovespa, subindo mais de 4,4%.

O desempenho da operação brasileira é particularmente interessante. Em maio, quando o Ministério da Agricultura comunicou a detecção do primeiro caso de gripe aviária em uma granja comercial, houve quem temesse uma bagunça no mercado doméstico, levando a uma liquidação para desovar o frango que seria exportado. Mas isso não ocorreu, destacou Gustavo Troyano, do Itaú BBA.

Com uma execução comercial que já passou de 330 mil clientes atendidos no mercado brasileiro, a BRF conseguiu atravessar o trimestre com um crescimento do volume vendido (notadamente em produtos preparados, de maior margem) ao mesmo tempo em que subiu o preço médio em 11%.

Mesmo com o acúmulo natural de estoques provocado pela suspensão das exportações (cerca de R$ 500 milhões em produtos acabados), a BRF registrou uma geração de caixa livre significativa, de R$ 842 milhões.

A façanha foi saudada pelo BTG Pactual como uma demonstração das transformações da companhia. Em um relatório intitulado “De bom a excelente”, os analistas do banco escreveram que o balanço mostrou que a dona da Sadia “reemergiu como a líder que pretendia ser quando foi criada dezesseis anos atrás”.

Ainda pode melhorar

A julgar pelas declarações dos principais executivos da BRF durante a teleconferência, o bom momento vai continuar — e as margens ainda têm algum espaço para melhorar, inclusive.

“Não há nada que modifique esse cenário no curto, médio e até no longo prazo”, disse o CEO da BRF, Miguel Gularte, ressaltando que a declaração não configura um guidance da companhia.

A dona da Sadia trabalha com um cenário de demanda ligeiramente superior à oferta em todo o mundo, o que tende sustentar os preços. Há até alguma possibilidade de recuperação dos preços do frango, o que poderia ocorrer quando China e União Europeia reabrirem o mercado para o Brasil.

Além disso, a demanda permanece aquecida no mercado doméstico, que se beneficia do pleno emprego. Nesse ambiente, a BRF ainda deve conseguir promover reajustes de preços em alguns itens do portfólio de alimentos preparados ao longo deste terceiro trimestre, sinalizou Fábio Mariano, vice-presidente de finanças e relações com investidores.

O custo também deve trazer uma ajuda para a margem. Com a colheita de uma safra recorde de milho e compras antecipadas de farelo de soja a bons preços, é bastante provável que a BRF reduza o custo unitário dos produtos ao longo dos próximos trimestres. “Pelo olhar do custo da ração, deve ter benefício de margens no terceiro e quarto trimestre”, disse Mariano.